As barreiras do amor
(Love Field) 1992
 
A maioria das pessoas cria fantasias para se ajudar a viver na pesada e enfadonha rotina cotidiana: Michelle Pfeiffer, como a protagonista Lurene (Louise Irene) Hallet em As Barreiras do Amor é uma delas – sua obsessão é a família Kennedy. Sonha acordada e talvez até dormindo com Jaqueline Kennedy e imagina a Primeira Dama fazendo as coisas que ela faz e vice versa. Quando conversa com o marido, seu namoradinho de infância, imagina que ele é o Presidente John Kennedy o que certamente torna sua vida melhor.
 

Lurene vivia em Dallas e estava lá, vendo o cortejo passar no dia em que ele foi assassinado, mas não conseguiu o tão sonhado aperto de mão quando eles passaram cumprimentando as pessoas: tinha se agachado para pegar, no chão, a bolsa da mulher que arrastara em cadeira de rodas para o desfile – artimanha para chegar o mais perto possível de seus ídolos.

Mas o presidente morre e ela sofre como se fosse a viúva de um marido muito amado. Quer ir ao enterro, do outro lado do país, mas seu marido não concorda e nem empresta o carro. Então ela espera que ele durma no sofá (Ele pensa que seu sofá é o centro do Universo) e pega um ônibus, carregando uma enorme mala cor de rosa.
 

Tem início então uma aventura fascinante.  
 
A viagem de um lado a outro do país é feita de ônibus, onde ela enfrenta todas as barreiras do mundo para simplesmente se comunicar. E seu assunto favorito é a sua obsessão: a morte do Presidente e seu intuito de ir ao enterro. Seu alvo em busca de maior empatia é um homem negro (Dennis Haysbert) que viaja com sua introvertida filhinha Jolene (Stephanie Mc Fadden). Mas sem que se perceba quando isso ocorre, vai surgindo entre essa dupla improvável uma ligação forte.
A ingenuidade de Lurene chega a ser comovente e Michele Pfeiffer constrói seu personagem em cima do estereótipo da loira burra.  A certa altura a viagem é interrompida por um acidente entre veículos e é ali, na parada a espera de socorro que ocorre a grande reviravolta que irá marcar a parte intermediária do filme: Lurene vai descobrir que o homem lhe deu nome falso, que a menininha está toda machucada e que provavelmente foi seqüestrada por ele. Sem pensar duas vezes essa fugitiva do marido chama o FBI. Mas ela não consegue se afastar da dupla e acabam fugindo juntos, os três, caçados pelos federais. Correndo contra o tempo para chegar ao local do enterro e da polícia, que a supõe também seqüestrada, a história transcorre assim quase até o final. 

Gosto dessas histórias que mostram a vida de pessoas comuns dentro de um contexto histórico_ O que eu estava fazendo quando isso aconteceu? E nesse contexto se reflete inclusive a história de um país, um povo. Lurene acreditava que todos deviam estar muito infelizes por causa da morte de Kennedy, principalmente as pessoas de sua raça ela dizia para todos os negros com quem falava, considerando o que ele fez por vocês. Até que ao falar isso para um mecânico de beira de estrada de um lugar miserável ouviu dele: a senhora está vendo por aqui alguma coisa boa que ele possa ter feito? 
 
O diretor dessa história bonita e com um final feliz implícito é Jonathan Kaplan.  Algumas cenas são ricas em ternura e laços de amizade que se fortificam a cada passo. Vale a pena ver.
 
 
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