ARAGUAYA, A CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO

ARAGUAYA, A CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO, de Ronaldo Duque, Brasil, 2004

Obra vencedora do Prêmio Especial do Festival de Gramado 2004, abordando um surrado tema- a guerrilha do Araguaia.

Em primeiro lugar , esperava um filme estrangeiro , pois Araguaia é com I e não com Y, mas tudo bem. Brincadeira...

Não podemos esquecer que um filme é uma obra de arte e cada um descreve e escreve o que sente. É a sua opinião, jamais pode se encarar como história e sim uma estória bem ou mal contada e quem conta um conto aumenta um conto-velho ditado popular. Trocando em miúdos, o diretor transmite sensações que ele sentiu e tenta passar ao público.É tal como a sensação de dançar o Copérnico ou exercitar-se sob mando do Coisinha de Jesus: cada um sente mais ou menos a música - só não pode mentir ou falsear.

A chamada Guerrilha do Araguaia foi apresentada através do Padre Chico, um padre francês radicado na região do Bico do Papagaio desde no início da década de 60 e inteiramente ligado e comprometido na sua missão pastoral, tornando-se líder em extensa comunidade.

Para quem não conhece a história dessa guerrilha, o filme ficou muito confuso e com personagens e estórias que não combinam e não se explicam. Alíás, nem para quem conhece o que se passou lá ficou claro. O que ficou claro , talvez, foi a mensagem de enxovalhar as Forças Armadas com personagens caricatos e grosseiros e o trato dos guerrilheiros como idealistas, sem deixar de apresentar que desejavam transformar o Brasil em inúmeros Vietnam, o seu caráter de desrespeito com a vida humana na defesa da sua ideologia e o sentido internacionalista de sua causa. O diretor passa a idéia de que tentou transmitir uma coisa , mas a realidade o levou a outra bem mais condizente, mas não convincente ainda e confusa, pois, com certeza, a verdade não era aquela que desejava transmitir. Os guerrilheiros tidos como românticos e idealistas eram, na verdade, frios assassinos e obstinados em derramar sangue brasileiro. Todos obedecendo ordens do estrangeiro. Esses aspectos foram apresentados timidamente e sem alarde.

O filme poderia terminar com êxito no diálogo do Pe Chico com Tininha, quando aquele perguntou .. " o que eles estavam fazendo ali.." e complementava que.. "... a vida naquela área era tranqüila e de paz até a chegada de vocês..."( dos integrantes da guerrilha mandados para lá).

Abaixo um trecho do Relatório Arroio(relatório feito por Ângelo Arroyo- que entrou para o PCB em 1945, em 1954 foi eleito para integrar o Comitê Central, em 1962 saiu do partido e foi um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil passando a integrar o Comitê Central e a Comissão Executiva. Com o codinome de Joaquimzão, pertenceu à Comissão Militar; que dirigiu os militantes do partido envolvidos na Guerrilha do Araguaia. O relatório que escreveu seria discutido nessa reunião do CC que foi interrompida pela polícia, em 1976):

"No Araguaia, pretendia-se iniciar a luta armada no país, aplicar a linha de massa e revolucionária do partido. Segundo essa linha, a luta armada começará no interior sob a forma de guerrilha e, com ampla participação das massas, se transformará, pouco a pouco, em guerra popular, que será dura e prolongada. Nosso partido é de opinião de que sem esse tipo de luta, jamais o povo alcançará a vitória" ( de Araguaia IX- Carlos I.S.Azambuja)

Vejam o que pretendiam os inocentes estudantes que foram para o Araguaia .....

A apresentação de inúmeros depoimentos, só de um lado, diga-se de passagem, poderia ser complementada com a versão conhecida historicamente, mas sabemos que não há interesse em mostrar.

A quantidade de fatos apresentados mostrou que o diretor possuía vasto material, mas se perdeu. Isso sem falar nos erros de guarda roupa, som de terceira categoria, e outros tantos que já fazem parte da cinemateca brasileira.

Mas parece que não aprenderam a lição e continuam caminhando e cantando velhas e surradas canções acreditando que ser moderno é crer em ideais de 1917. Tanto que uma vereadora da capital gaúcha assumiu seu mandato em 2004 gritando pelos combatentes do Araguaia.

É uma pena, pois poderíamos ter um filme com a personalidade e conduta isentas do Pe Chico. Mas é querer muito.

Tudo que está no não dito está na personagem e ação do Pe Chico.