INACREDITÁVEL, A batalha dos Aflitos

INACREDITÁVEL, A batalha dos Aflitos, de Beto Souza, Brasil, 2006

FLAVIO MPINTO

Um filme épico. Não foi á toa que foi , sua versão em livro, um dos mais vendidos na última Feira do Livro de Porto Alegre. Todas as cenas foram realizadas com o intuito de transformar a campanha do Grêmio Futebol Porto Alegrense, na 2ª divisão do futebol brasileiro em 2005, uma verdadeira epopéia. Na realidade assim o foi e o filme retrata com fidelidade a jornada de acesso do tricolor gaúcho á 1ª divisão, recheada de emoções.

Futebol é arte, é paixão e um pouco de tudo. Até guerra suja e declarada. Contra o adversário vale tudo ante a impunidade reinante no meio das torcidas. E esta é, infelizmente, uma das máximas do futebol brasileiro. Daí resulta ser um dos esportes mais injustos, a medida que aceita a burla de regras e não permite a mínima interferência eletrônica para sanar dúvidas de arbitragem, que podem ser resolvidas num pequeno lapso de tempo. Também não modifica suas regras básicas. Estas, não acompanham mais a velocidade da disputa, perpetuando erros grosseiros em nome do erro de fato/erro de direito.

Mas vamos ao filme.

A película , em síntese, é um documentário, seja bem dito. E se desenvolve num ambiente de profundas ações do clube pernambucano contra o gaúcho, mas bem dentro do espírito de impunidade que reina no futebol brasileiro. Mostra com detalhes a partida que encerrou o quadrangular final da 2ª divisão /2005, que passou a ser chamada A batalha dos Aflitos. Foi o jogo derradeiro entre Grêmio e Náutico, no campo deste, os Aflitos em Recife-PE. As quatro equipes semifinalistas tinham chances de classificação e ao Grêmio, bastava o empate. Ações inconcebíveis numa atividade que faz girar milhões de reais, como qualquer negócio bem sucedido, mas sujeito a ataques de todo tipo por parte do adversário, seja da diretoria ou torcida, aconteciam. Não posso imaginar como ficariam os dirigentes de uma indústria que fossem negociar com outra e ficassem presos de propósito no hotel, mal acomodados, respirando a toxidez da pintura recém feita, portas com cadeado, condução apedrejada, vestiário sem água, proibição de entrar no gramado para aquecer, dentre outras coisas abomináveis. E inimagináveis num futebol de alto nível. Mesmo quem não entende/gosta de futebol se horroriza com esses atos bárbaros. Se bem que a torcida do Grêmio não fica um milímetro atrás dessas ações de bárbaros.

Mas é um filme empolgante, emocionante e repleto de depoimentos de gremistas ilustres e históricos, como Peninha, que foi o roteirista, Paulo Sant'Ana, Humberto Gessinger, Fernanda Lima, anônimos torcedores, dirigentes e jogadores. A montagem de Mauris Hansen é nota 10, e junto com a trilha sonora , dignificam a campanha do time.

Eu, como gremista, mas não sou fanático, duvidei quando, a equipe do Náutico e sua torcida se ajoelharam e pediam de mãos postas a ajuda de Deus para que fosse convertido o pênalti no fim do jogo. Duvidei, porque Deus não poderia ser conivente com uma marcação mal feita por parte do juiz. Depois de tantas cafajestadas que estávamos presenciando no nosso país, e ainda estamos hoje, a partir de ações de um partido político, a vontade da raça, da boa vontade, da correção, da técnica, levando a uma superioridade moral inquestionável, não poderia ser levada de roldão pelo mal.

INACREDITÁVEL, de Beto Souza, nos trouxe tudo isso á tona. Uma chuva de valores positivos que tanto merecíamos e gostaríamos que fosse assimilado por aquela gente que torcia contra o Tricolor gaúcho. Talvez não soubessem que estavam lutando contra um campeão do Mundo, da América, do Brasileiro, da Copa do Brasil e com fama no mundo inteiro. Deus, com certeza, o mais tricolor dos gremistas, não poderia ter sido mais justo ao premiar a brava equipe e iluminar toda equipe que concebeu INACREDITÁVEL.

Um belo filme, mais uma vez digo. Vale a pena ser visto, vale a pena ser guardado para ser mostrado as novas gerações.