A RAINHA

A RAINHA, de Stephen Frears, Inglaterra/França/Itália, 2006

FLAVIO MPINTO

Mais um filme documentário feito com primor. Uma verdadeira obra de arte em prol da história contemporânea. Irretocável. Parece redundância, mas não só a caracterização dos atores, falas, gestos, vestuário e cenas, primam por uma coerência histórica excepcional. Revela a seriedade com que foi concebida a obra A RAINHA.

Não poderia ser de outra forma,pois o tema ainda está quente na memória de toda Humanidade. A morte da Princesa de Gales, mesmo já separada do Príncipe Charles e fora da realeza inglesa, portanto, introduz a dor das famílias inglesas no seio da família real.

O clamor dessa tristeza estampada em todo o planeta pela perda da mais popular integrante da realeza inglesa, levou a rainha Elizabeth II a mudar de ação em relação ao fato.

Em oposição, tínhamos a fleugma de uma rainha, depositária de uma tradição e costumes seculares aos quais devia manter e o populismo imediatista de um político, no caso, o 1º ministro Toni Blair, recém eleito; a ação agressiva da mídia inglesa e a psicologia de poder do trono real monárquico; e no meio de todo drama, destaca-se a figura solitária da rainha, tendo de decidir como uma simples integrante de uma família, mostrando-se de carne e osso.

A rainha , embora não sendo o chefe do Executivo, carrega toda mística do comando da nação inglesa e a enlaça com todo o cerimonial que tem direito, na busca de manter as tradições que a ela foram confiadas pelos seus antepassados

O jeito de Diana foi demais para o english way da realeza e a rejeitavam. Com absoluta certeza, a Princesa de Gales entrou para a realeza mas não permitiu que a realeza entrasse nela, mesmo com todo seu carisma.

Mas voltemos á rainha.

Embora seja um filme documentário, os trechos, ou cenas onde a rainha e o 1º ministro aparecem na intimidade, não são de público conhecidos, no entanto, são apresentados com uma coerência fantástica. É tipo do filme jornalístico no qual a fonte não mente, não inventa, não falseia, não tergiversa. Busca apenas apresentar os fatos.

Um dos momentos mais marcantes foi a simplicidade de nomeação do 1º ministro pela rainha, que o autoriza a formar o governo em seu nome. Uma simplicidade que chega a agredir pela sua natureza.

Manifesta-se a liturgia do cargo e as relações familiares em jogo em contraposição aos interesses eleitoreiros inconfessáveis, mas tudo dentro da inconfundível personalidade britânica reconhecida em todo mundo a séculos.

O filme mostra com clareza como deve se portar quem precisa e não precisa de poder, mas principalmente, e como, como se portam quem chega ao poder, incluindo linguajar adequado. Sem lambanças e irresponsabilidades populistas. Imaginem a realeza fazendo uma pelada naquele gramado defronte o Palácio de Buckingham ou uma festa junina ...

Uma bela lição de casa a quem pensa chegar ao poder em qualquer instancia, seja de negócios, políticos, econômicos ou sociais.

Um filme sério como piada inglesa.