INDIGNAÇÃO

INDIGNAÇÃO

Nenhum cineasta jamais conseguiu levar para as telas um livro de Philip Roth devido á complexidade da obra deste autor sensacional cuja obra não resiste á adaptação para as telas.Foi o caso,também,deste último filme baseado no livro do mesmo nome.O premiado roteirista James Schamus chegou quase perto,mas, não seria mesmo possível atingir o ápice desta obra com filme nenhum.Mas,o filme é muito bom e ,por ele,podemos avaliar as múltiplas mudanças de valores deste nosso mundo desde os anos 50,os anos da minha adolescência.Está lá ,com todas as letras ,o confronto entre o universo judaico e o insuportável puritanismo americano na pessoa do reitor da Universidade.

Um jovem rapaz judeu vai para a Universidade para fugir do recrutamento da Guerra da Coréia ,para a qual seria convocado e provavelmente morto como seus vizinhos.

Extremamente culto e inteligente Marcus ,criado por um pai amoroso e dominador e uma mãe compreensiva é ,sobretudo ,um inocente para as coisas da vida ,por isso o choque no primeiro encontro com uma bela moça americana,cheia de problemas existenciais e que já havia,inclusive,tentado o suicídio.Neste encontro ,Marcos perdeu a inocência ,mas,foi ganhando confiança para lutar pelas coisas que acreditava,como se negar a fazer parte de uma “fraternidade judaica” racista e preconceituosa e chegar a uma discussão com o reitor que é o ponto alto do filme ,por isso,transcrevo aqui,pois me lembra a mim mesmo nos anos 60 lutando contra os conceitos do cristianismo numa escola de freiras.

Eis o texto:” O diálogo com o diretor de alunos se dá após interrogações de Marcus sobre a obra de Bertrand Russell: "Estou perguntando se o senhor conhece esse importante ensaio de Bertrand Russell. Entendo que a resposta é não. Bem, eu conheço porque resolvi memorizar longos trechos do ensaio quando era capitão do time de debates da minha escola. Ainda não os esqueci e me prometi que nunca os esquecerei. Esse ensaio e outros semelhantes contêm os argumentos de Russell não apenas contra a concepção cristã de Deus mas contra as concepções de Deus sustentadas por todas as grandes religiões do mundo, vistas por ele como mentirosas e prejudiciais.

Se o senhor lesse este ensaio, e em nome da honestidade intelectual peço que o faça, veria que Bertrand Russell, um dos mais destacados especialistas em lógica do mundo, além de filósofo e matemático, utiliza um instrumento lógico inquestionável para desmentir o argumento da causa primeira, o argumento da lei natural, o argumento do desígnio, os argumentos morais para justificar uma divindade e o argumento do combate à injustiça. Para lhe dar dois exemplos. Primeiro, explicando por que não tem a menor validade o argumento da causa primeira, ele diz: 'Se tudo precisa ter uma causa, então Deus precisaria ter uma causa, tanto pode ser o mundo quanto Deus'. Segundo, quanto ao argumento do desígnio, ele diz: 'Você acha que, se recebesse o dom da onipotência e da onisciência, além de milhões de anos para aperfeiçoar seu mundo, não seria capaz de produzir nada melhor do que a Ku Klux Klan ou os fascistas?”

Só por esse diálogo vale o filme.

Apaixonada pela obra de Roth confesso que saí saltitante do cinema.A definição de democracia citada no filme e que ponho aqui como imagem calha muito bem no Brasil de hoje.

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 08/11/2016
Reeditado em 05/01/2018
Código do texto: T5817138
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