Bernardo e Bianca, resenha

BERNARDO E BIANCA, RESENHA
Miguel Carqueija


Quando Walt Disney faleceu, em 1966, deixou muitos projetos em andamento e uma equipe excelente, sendo que alguns dos seus componentes já estavam com ele há décadas — como Ollie Johnston, Milt Kahl, Wofgang Reitherman. Vários desses nomes, como os três supracitados, ainda se encontram na equipe responsável por “Bernardo e Bianca”, ou “The rescuers” de 1977, cujo produtor executivo, Ron Miller, vem a ser o genro de Walt Disney. Casado com Diane Disney (que biografou o pai na década de 50) Ron Miller já aparecia como co-produtor em algumas fitas dos anos 60.
Ele, o diretor-produtor Wolfgang Reitherman e demais talentos da equipe bem que se esforçaram para que saísse uma obra à altura da tradição de WD, com bichinhos simpáticos, humor, suspense, algum romance, mas não atingem aquele toque sutil do mestre. O próprio visual — apesar do capricho de mostrar a chuva e a vegetação do pântano — ressente-se, nos personagens, de traços muito fortes, grossos, sem naturalidade (falo do visual), sem a naturalidade, por exemplo, de “A bela adormecida” (1958). Parece ter havido um retrocesso técnico.
A vilã, Madame Medusa, espevitada e decotada, deixa muito a desejar se comparada à Malévola da obra-prima supracitada. A maldade de Medusa concentra-se numa única finalidade: obrigar a pequena órfã Penny a descer por um balde num buraco horrível e lá em baixo procurar um diamante enorme — que, com mau gosto, é chamado “Ôlho do Diabo”. O local reconhecemos como a Flórida, o pantanal Everglades.
O tema é bastante infantil, faltando maior motivação para o público adulto (ao contrário de “Cinderela”, “Alice no País das Maravilhas”, “A bela adormecida” e “Mary Poppins”). A premissa da organização mundial de ratos interessadíssimos em salvar seres humanos em situação de perigo — como se eles não fossem perseguidos por nós — é difícil de engolir, mas por isso mesmo temos de nos lembrar: o filme é infantil. Para as crianças está tudo bem. Aliás o humor funciona em diversas ocasiões e a cena inicial, com Penny cantando “quem vai me salvar?” e lançando uma garrafa com pedido de socorro na água, é tocante. O trajeto da garrafa na água é mostrado em imagens paradas.
Medusa é espalhafatoda, escandalosa, perigosa. Seu auxiliar Asdrúbal é mesquinho e ridículo. Dos personagens secundários, o albatroz é talvez o mais engraçado com seu jeito desastrado de voar.
A ratinha Bianca é muito doce e Bernardo... faz o possível.
Animação muito recomendável para crianças acompanhadas por adultos.

Rio de Janeiro, 17 de outubro de 2017.


“The rescuers” (Os salvadores) – título no Brasil, “Bernardo e Bianca”. Walt Disney Productions, EUA, 1977. Produção executiva: Ron Miller. Produção: Wolfgang Reitherman. Direção: John Lounsbery, Art Stevens e Wolfgang Reitherman. Com base nas histórias “The rescuers” e “Miss Bianca” de Margery Sharp. Roteiro de Larry Clemmons, Ken Anderson, Frank Thomas, Vance Gerry, David Michener, Ted Berman, Fred Lucki, Burny Mattinson, Dick Sebast. Direção de animação Ollie Johnston, Milt Kahl, Frank Thomas, Don Bluth. Música composta e conduzida por Artie Butler.
Vozes originais:
Bob Newhart......................Bernardo
Eva Gabor...........................Bianca
Geraldine Page................... Madame Medusa
Joe Flynn............................. Snoops
Michelle Stacy..................... Penny
Rufus................................... John Mc Intire
Jeanette Nolan..................... Ellie Mae
Pat Butram........................... Luke
Jim Jordan............................ Orville
Bernard Fox.......................... The chairman
Larry Clemmons................... Gramps