A camuflagem do cinema

A CAMUFLAGEM DO CINEMA
Miguel Carqueija



Resenha do filme “Sabotage” (Sabotagem). Inglaterra, 1936. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro de Charles Bennett baseado no romance “The secret agent”, de Joseph Conrad. Música: Louis Levy.
Elenco:
Sylvia Sidney (Sra. Verlock)
Oscar Homolka (Karl Anton Verlock)
John Loder (Ted Spencer)
Joyce Barbour (Renee)
Desmond Tester (Steve)
Matthew Boulton (Superintendente Talbot)


Houve uma época em que este curioso “thriller” do mestre do suspense Hitchcock era exibido no Brasil com o título escandalosamente horrível de “O marido era o culpado”. Não se encontram mas é os culpados por essas absurdas titulações brasileiras, que eu me recuso a acatar.
O que no filme chamam de “sabotagem” hoje simplesmente é “terrorismo”. Como se trata de suspense e não de mistério desde o início, quase, se sabe mesmo que o marido é o culpado — o hipócrita dono do cinema e que mora nos aposentos residenciais do mesmo prédio, com a jovem esposa e o cunhado, um garoto adolescente muito esperto chamado Steve.
Sua dedicada esposa e seu juvenil cunhado não imaginam, mas este sisudo e respeitável senhor utiliza o cinema como fachada enquanto serve a uma organização secreta aparentemente estrangeira (nazista? comunista?) que opera atos de terrorismo em Londres. Depois de um “black-out” ordenam-lhe que faça explodir uma bomba. Ainda que relutante Mr. Verlock obedecerá... mas as consequências fogem ao seu controle.
Personagem importante é também Ted, que se faz de amigo da família mas é de fato um investigador da Scotland Yard.
Algumas cenas da fita são realmente marcantes, como a hora da verdade entre esposa e marido. E detalhe interessante é a inserção de algumas cenas do desenho animado “Who killed cock Robin?” (Quem matou o cuco Robin?), uma “silly simphony” de Walt Disney, de 1935. Na ficha técnica aparece um agradecimento a Disney. A citada animação é exibida no cinema de Verlock.

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2017.