SAILOR MOON CLÁSSICA 46: milagre no Pólo Norte

SAILOR MOON CLÁSSICA 46: milagre no Pólo Norte
Miguel Carqueija


No grande momento de Sailor Moon, o embate com as forças do Reino Escuro chega ao seu ponto crucial. A mancha negra espalhou-se pelo Sol e a escuridão avança sobre o mundo. As quatro sailors: Júpiter, Mercúrio, Vênus e Marte morreram em combate no Pólo Norte. Sailor Moon chega sozinha ao esconderijo do Reino Escuro e finalmente reencontra a Rainha Beryl, sua mortal inimiga. O confronto entre a Princesa da Lua Branca e a Rainha do Reino Escuro será terrível, mas ainda resta a Serena uma última amargura. Mamoru Chiba, o seu querido Príncipe Endymion, vitimado por lavagem cerebral e agora impregnado de energia maligna, tornou-se seu inimigo.


Resenha do episódio 46 – “O sonho eterno de Serena: uma nova vida” – do seriado de tv “Bishojo senshi Sailor Moon” ou “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon) – Toei, Japão, 1992. Produção executiva: Iriyma Azuna. Produção e direção: Junichi Sato. Roteiro: Yoshiyuki Tomita. História original de Naoko Takeushi.

Elenco original de dublagem:

Usagi Tsukino (Serena, Sailor Moon).................Kotomo Mitsuishi
Tuxedo Kamen ou Tuxedo Mask (Darien, Mamoru Chiba, Endymion)...........Toru Furuya
Luna....................................................................Keiko Han
Artêmis.............................................................Yasuhiro Takato
Rainha Beryl........................................................Keiko Han
Ami Mizuno (Sailor Mercúrio)..............................Aya Hisakawa
Hino Rei (Sailor Marte) .......................................Michie Tomizawa
Makoto Kino (Sailor Júpiter)...................................Emi Shinohara
Aino Minako (Sailor Vênus)................................Rika Fukami
Kunzite (Malachite).............................................Kazuiuki Sogabe
Metalia...................................................................Noriko Uemura
Naru Osaka (Molly).............................................Shino Kakihuma



ENDYMION

“Lembre-se de mim, sou a Princesa Selene. Muito tempo atrás você e eu juramos amor eterno. Sou a Selene, do Reino Lunar.”
(Sailor Moon)

“Está sendo manipulado por uma energia maligna, mas antes você era uma pessoa muito boa. Por favor, não me obrigue a lutar contra você. Por favor.”
(Sailor Moon)


O calvário de Sailor Moon atinge nessa parte o seu ápice. Usagi (Serena) encontra Mamoru Chiba (Tuxedo Mask, Endymion) no esconderijo do Reino Escuro, mas inteiramente ensandecido, sem reconhecê-la e disposto até a cortar seu pescoço com a espada. A Rainha Beryl o instiga contra a Princesa da Lua. O grande problema é que Sailor Moon ama Endymion tão profundamente que para ela é um absurdo lutar com o seu amado. Quando finalmente, após ser espancada por Endymion, ela atira sobre ele a tiara lunar para detê-lo com a efusão de energia, está arfando de tanta angústia, simplesmente horrorizada. A extrema sensibilidade da Princesa — uma característica muito rara em personagens — mostra a sua emoção à flor da pele, numa sequência realmente tocante. Quando Mamoru, derrubado pela tiara, ainda consegue se erguer e insiste em matá-la, Serena usa de autoridade, gritando “Pare!” três vezes e, num último recurso, mostra-lhe a estrelinha musical que, em tempos, dele recebera. Enfim a princesa consegue despertar memórias em seu amor milenar, Endymion toca na caixinha de música (que faz ouvir a melodia “Lenda da luz da Lua”) e por ela a luz de Sailor Moon envolve o seu corpo. Endymion tomba momentaneamente desfalecido, mas já purificado.
É difícil precisar o quanto a sequência é antológica e inesquecível. Mas Sailor Moon precisa ingerir o cálice de amargura até a última gota. Beryl, frustrada e agastada, lança contra ela uma grande farpa, que Endymion consegue estilhaçar lançando a sua poderosa rosa vermelha. Um dos fragmentos, porém, o atinge mortalmente, enquanto Beryl, seriamente atingida pela rosa que se crava em seu peito, recua para pedir ajuda ao demônio Metalia, que se encontra em outro aposento. Mamoru, antes de morrer, ainda recomenda a Serena que fuja. É assaz comovente a cena em que Serena, após chorar a perda de seu amor, faz que vai beijá-lo porém muda de ideia:


“Desculpe, mas eu não posso beijá-lo. As minhas amigas Ami, Rei, Makoto e Minako morreram sem terem podido beijar os garotos a quem elas amavam. E é claro que eu não posso ter essa grande felicidade, meu amado Mamoru. Sinto muito, também não posso fugir, porque ainda tenho coisas para fazer. Cuide de mim. Farei o melhor que puder.”

Neste lindo e singelo discurso está resumida a filosofia amorosa, generosa e humilde da Princesa da Lua Branca. Ela não pode fugir, porque não pode falhar. Neste momento crítico o destino do mundo repousa nas delicadas mãos de Sailor Moon. E o “cuide de mim” significa que Serena pede proteção à alma de Endymion, onde ele estiver, porque ela, Sailor Moon, é uma personagem religiosa.



BERYL

Gravemente ferida por Endymion, Beryl joga a sua última cartada: Metalia ainda não despertou totalmente, e Beryl oferece o seu próprio corpo para que isto se realize, e o poder seja partilhado. Metalia aceita e incorpora-se em Beryl. Esta irrompe para fora do esconderijo, tendo-se tornado escurecida e gigantesca, talvez com uns 15 metros de altura. Assim mesmo Sailor Moon vai ao seu encontro e, utilizando a sua transformação final (a de Princesa da Lua, com o traje branco talar), enfrenta a terrível adversária com o cetro lunar e o poder do cristal de prata.
Beryl lança todo o seu poder diabólico contra a Princesa. O duelo entre as duas, na solidão do Pólo Norte, é apoteótico e apocalíptico, uma cena longa e emblemática, um claro combate entre o Bem e o Mal, entre a Luz e as Trevas. Enquanto se chocam as energias da luz e da escuridão,ainda se trava um rápido diálogo entre as duas. Beryl faz pouco de Serena e dá a entender que o mundo estando já podre e corrupto, não merece aquele esforço, ao que Serena responde:
“Eu acredito no mundo que as minhas amigas tentaram proteger à custa das próprias vidas!”
O combate só se resolve quando as almas das quatro sailors aparecem em socorro de Sailor Moon e, juntando suas forças, as cinco guerreiras reforçam a efusão de energia do sagrado cristal de prata e eliminam Beryl e Metalia; logo em seguida elas desaparecem e, tombando ao chão, Serena só consegue balbuciar: “Obrigada, amigas...” e aparentemente morre, sendo tragada por uma espiral (o tempo?).



RESSURREIÇÃO

A beleza deste final é indescritível, nenhuma descrição dispensa de assistir ao capítulo, de preferência junto com os dois anteriores, pois juntos formam a trilogia final da primeira temporada, que deveria ser a única. Ao que consta Naoko Takeushi só pretendia mesmo uma temporada, pois a história fecha com fecho de ouro. O poder do cristal de prata (uma arma que, deduz-se, é de origem divina) faz com que as cinco guerreiras e Endymion ressuscitem. O milagre faz inclusive o tempo retornar, e Serena acorda atrasada para a escola, como sua família está acostumada. E elas já não se conhecem. Serena conhece apenas Naru, sua amiga sem poderes. As cinco se tornaram meninas normais, não sabem que são guerreiras. Mamoru também não lembra ser Endymion e volta às briguinhas com Serena, que julga não gostar dele, como nos velhos tempos. Apenas os dois gatos, Luna e Artêmis, não perderam suas memórias e constatam que a mancha negra no Sol desapareceu.
O sucesso de Sailor Moon, porém (tanto a revista como a série), foi tão grande que Naoko foi convencida a dar prosseguimento com outras temporadas. Outros inimigos surgirão, como o Fantasma da Morte e a Rainha Neherenia — mas nada poderá superar a batalha final entre Sailor Moon e a Rainha Beryl.

Rio de Janeiro, 7 de abril de 2018.

sequência de imagens da série: 1) a Rainha Beryl e sua bola de cristal; 2) Sailor Moon chega ao reduto do Reino Escuro; 3) Sailor Moon chora a morte de Endymion; 4) os espíritos de Sailor Mercúrio, Sailor Marte, Sailor Júpiter e Sailor Vênus vêm ajudar a Princesa da Lua na batalha final.