A maravilha ecológica de "Bambi"

A MARAVILHA ECOLÓGICA DE “BAMBI”
Miguel Carqueija


Obra-prima indiscutível, “Bambi”, de 1942, faz parte da primeira leva de animações longas de Walt Disney, já em produção desde 1938. A sua beleza é inegável, tanto no enredo e na mensagem subjacente como na estética, onde o perfeccionismo de Disney e sua brilhante equipe chegam a um de seus ápices.
Adaptando livro infantil de Felix Salten, “Bambi” passa-se num bosque norte-americano onde não há predadores, todos os bichos são amigos e o único inimigo é o homem. O aspecto destruidor e ameaçador do homem é reforçado pelo mistério que o envolve. Os caçadores nunca aparecem; apenas se escutam os tiros, um dos quais acaba abatendo a mãe de Bambi, em cena que não é mostrada. Walt Disney procedeu com delicadeza; vemos o jovem cervo Bambi correndo mata adentro, fugindo do prado aberto e achando que sua mãe vinha logo atrás. Só o seu pai, o velho cervo, aparece para lhe dar a triste notícia.
O outro sinal dos caçadores são os cães de caça, que são vistos somente numa sequência violenta, onde Bambi, já adulto, os enfrenta para defender sua esposa Faline — as corças, não tendo chifres, são bem mais indefesas.
Verdadeira aula ecológica, “Bambi” vai mostrando a passagem das estações — é marcante a visão do inverno, com a escassez das plantas e os cervos precisando se alimentar das cascas de árvores. E mostra também, num realismo caricatural, diversos animais silvestres, com destaque para o Corujão, espécie de sábio da floresta, e os amigos mais próximos de Bambi, o coelho Tambor — esperto e cheio de iniciativas — e o dengoso gambá Flor. O humor comparece de diversas maneiras, como na cena em que Tambor chama Bambi para brincar na superfície do rio, gelado pelo inverno. Só que Bambi, com suas longas pernas, não consegue se equilibrar direito no gelo escorregadio, enquanto Tambor, com suas patas traseiras grandes e espalmadas, não encontra dificuldade alguma.
“Bambi” é uma obra que veio para ficar e será sempre lembrada.

Rio de Janeiro, 9 de abril de 2018.

FICHA TÉCNICA
Walt Disney Productions, Estados Unidos, 1942. Produtor: Walt Disney. Direção: David Hand, Perce Pearce. Adaptação de Larry Morey, da história original de Felix Salten. Música: Frank Churchill e Edward Plumb, conduzida por Alexander Steinert; orquestração de Charles Wolcott e Paul J. Smith. Coral de Charles Henderson. Direção de sequências: James Algar, Bill Roberts, Norman Wright, Sam Armstrong, Paul Satterfield e Graham Heid. Supervisão de animação: Franklin Thomas, Milton Kahl, Eric Larson e Oliver M. Johnston Jr. Colaboração de Sidney A. Franklin.
Dubladores originais:
Bambi: Donnie Dunagan (criança), Bob Stewart (idem), Hardie Albright (adolescente), John Sutherland (adulto).
Mãe do Bambi (sem nome no filme): Paula Winslowe).
Pai de Bambi (idem): Fred Shields.
Tambor: Peter Behn (criança), Tim Davis (adolescente), Sam Edwards (adulto).
Flor: Stan Alexander (criança), Tim Davis (adolescente), Sterling Holloway (adulto).
Corujão: Will Wright.