O bote de Hitchcock

O BOTE DE HITCHCOCK
Miguel Carqueija

Resenha do filme “Lifeboat” (bote à deriva) – Estados Unidos, 20th. Century Fox, 1944. Direção: Alfred Hitchcock. Produção: Kenneth Mac Gowan. Roteiro de Jo Swerling e Ben Hecht, com base no conto de John Steinbeck. Título no Brasil: “Um barco e nove destinos”. Música: Hugo Friedhofer. Fotografia: Glen MacWilliams.
Elenco:
Constance Porter.............Tallulah Bankhead
Kovac................................John Hodiak
Gus Smith.........................William Bendix
Stanley “Sparks”...............Hume Cronyn
Alice McKenzie.................Mary Anderson
Capitão Willy....................Walter Slezak
Charles “Ritt”...................Henry Hull
George “Joe” Spencer......Canada Lee
Mrs. Higley.......................Heather Angel

Obra muito curiosa do mestre Hitchcock, inglês radicado nos Estados Unidos, e que reflete o clima da Segunda Guerra Mundial. Depois que um navio americano é afundado por um submarino alemão, alguns sobreviventes se juntam num barco salva-vidas. São cinco homens, três mulheres e um bebê, que logo morre. Entretanto a embarcação alemã também é afundada e seu capitão acaba sendo resgatado pelos náufragos do bote.
O relacionamento é difícil e entre os sobreviventes as opiniões se dividem quanto ao tratamento a ser dado ao nazista. Com o tempo este vai obtendo certa influência no grupo por sua habilidade de navegador. Os náufragos têm esperança de chegar nas Bermudas, mas o capitão de fato planeja alcançar algum navio alemão.
Há uma boa variedade nos personagens. Constance Porter, a jornalista, banca a bacana em meio a esta total emergência e lamenta a perda de seu filme. Gus é um personagem patético e protagoniza uma das situações mais dolorosas e tensas, a perda de sua perna gangrenada. A enfermeira Mac Kenzie faz um tipo de mulher forte. Kovac, da casa de máquinas, Stanley, o telegrafista, Joe, único negro a bordo,e Ritt, o homem do charuto, além da insana mãe do bebê, completam o quadro.
Hitchcock tinha a idiossincrasia de aparecer em seus próprios filmes em pequenas pontas mas desta vez, dadas as características da história, usou o recurso de uma foto d ejornal.
O drama poderia seguir uma linha mais humanista em que o capitão nazista pudesse ser visto também ele como uma vítima da guerra. Mas isso não acontece: ele é o vilão, mesmo. “Lifeboat” foi rodado com o conflito em pleno andamento e, ao que parece, faz parte da propaganda de guerra. Mas não tem, como mensagem, a força de “A men ina que roubava livros” ou “O menino do pijama listrado”. Seu forte mesmo é o suspense obtido numa situação de extrema limitação física dos personagens.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2018.