A bailarina Pacarrete, do teatro para o cinema

Parece ser uma constante nas nossas cidades do interior, existir de fato e desde muito tempo, o conceito de que santo de casa não faz milagre. Pelo menos em matéria de cultura é isso o que tenho observado, tanto por ceca quanto meca. Essa falta de valorização até o próprio Jesus Cristo sofreu em sua pequena cidade, quando afirmou não haver profeta sem honra, a não ser em sua própria terra. Sem dúvida, é por isso mesmo que muitas pessoas migram, e vão encontrar reconhecimento em outras paragens.

O comentário acima serve como preâmbulo para que eu fale sobre o longa “Pacarrete” que narra a história de uma mulher que sonha. Depois de acalentar durante anos a ambição de viver na ponta da sapatilha, Maria Araújo Lima, filha de agricultores e nascida na cidade de Russas no interior cearense, consegue estar no centro do palco, à luz dos holofotes, como bailarina clássica e professora de ballet em várias escolas de Fortaleza. Com o avançar das décadas, o lugar – que ela acreditava ser sua verdadeira casa – lhe fecha as cortinas. Aposentada, a personagem “Pacarrete” volta para o lugar onde nasceu e se criou. O retorno a Russas não significa a volta para a realidade. Ela continua respirando ballet e traduzindo sua vida em sequências de pliés e demi-pliés. Em vez de plateias de admiradores e aplausos, a bailarina se defronta com a troça e o desrespeito dos russanos que cruzam seu caminho. A artista de outrora, que acredita ainda ser, transformou-se, na realidade, na “Louca da cidade”.

O filme tem como diretor, o russano Allan Deberton, que é roteirista, formado em Cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ), e que dentre outros trabalhos, dirigiu os premiados “Doce de Coco” (CE, 2010), “O Melhor Amigo” (2013), “Os Olhos de Arthur” (2016), filmes que juntos participaram de mais de 100 festivais nacionais e internacionais. “Pacarrete”, é o primeiro longa-metragem do Allan, e foi contemplado no edital Longa BO Sav/Minc/FSA.

A bailarina russana será interpretada pela versátil atriz paraibana, Marcélia de Souza Cartaxo, que atuou em várias telenovelas, minisséries, telefilmes e microsséries, desde a TV Manchete e ultimamente na rede Globo. Na novela “Velho Chico” fez o papel da Zefa Lavadeira.

No cinema, a Marcélia atuou em inúmeros filmes, e teve destaque já aos 22 anos no filme “A Hora da Estrela”, baseado no romance de Clarice Lispector, que lhe rendeu dentre outros prêmios, o Urso de Prata no Festival de Berlim, em 1985. A atriz também obteve premiação no Festival de Brasília, pelo filme “Big Jato”. “Tempo de Ira”, foi o grande vencedor do 7°Festival de Cinema, Vídeo e Dcine(cinema digital) de Curitiba, 2003.

Desse o início de julho, até a primeira semana de agosto, as cenas estão acontecendo na terra de Dom Lino, e vários artistas locais e pessoas comuns estão participando e atuando como atores e figurantes, nesta, que promete ser uma grande película e deverá resgatar a memória da mais ilustre bailarina da nossa cidade.

Aguardemos o lançamento no próximo ano, ou início de 2020.

Agamenon Violeiro é músico e membro efetivo da Academia Aracatiense de Letras.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 17/08/2018
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