O fascinante "Castelo assombrado" de Roger Corman

O FASCINANTE “CASTELO ASSOMBRADO” DE ROGER CORMAN
Miguel Carqueija

Há exatos 50 anos, isto é, em 1963, o produtor e diretor cinematográfico norte-americano Roger Corman, então com menos de quarenta anos, atravessava uma fase altamente produtiva. Foi o ano em que ele lançou vários trabalhos inesquecíveis: “O corvo”, “O homem dos olhos de raio-X”, “Dementia 13”, “O terror” e este inolvidável “O castelo assombrado” (“The haunted palace”) sobre o qual falaremos agora.
“The haunted palace” faz parte de um ciclo dedicado ao escritor Edgar Allan Poe, que Corman iniciou em 1961 com “A queda da casa de Usher” (“House of Usher”), que no Brasil ganhou o título de “Solar maldito”. Quase todos os filmes da série foram estrelados por Vincent Price (1911-1991), um dos melhores atores do cinema de terror, com excelente máscara facial para o gênero.
“O castelo assombrado” baseia-se num poema homônimo de Poe (inserido no conto “A queda da Casa de Usher”) mas também num romance de H.P. Lovecraft, “O estranho caso de Charles Dexter Ward”, que faz parte dos “Mitos de Cthulhu”. Consta mesmo que Corman foi o primeiro a filmar Lovecraft, ao qual voltaria em 1969 com “O altar do diabo” (“The Dunwich horror”).
É notável como Corman, auxiliado pelo habilidoso roteiro de Charles Beaumont e pela interpretação irônica de Vincent Price, consegue que uma história contada a sério faça rir. Assim, logo de início, a tempestade sêca; a cobra aparecendo do nada; o zelador do castelo anunciando um jantar que a gente não sabe de onde saiu (o casal Ward acabara de inspecionar uma cozinha imunda e repleta de teias de aranha, habitada por uma serpente).
A história se passa na tenebrosa vila de Arkham, onde em 1765 o bruxo Joseph Curven foi queimado vivo por um enfurecido grupo de cidadãos locais. Cento e dez anos depois chegam a uma Arkham parada no tempo Charles e Anne Ward, para tomar posse da herança do castelo. Ao entrarem na taberna local encontram um grupo de indivíduos em tudo iguais aos que, no passado, incendiaram o ancestral de Charles Dexter. Vincent Price faz o duplo papel de Joseph Curven e Charles Dexter Ward, e a bela Debra Paget faz o difícil papel da esposa de Charles, que passará por inúmeros sustos dentro do misterioso castelo.
Detalhe especialmente importante é a genial musica-tema, composta por Ronald Stein; um motivo angustiante que pontua os trechos mais significativos a partir da genial abertura, que mostra uma aranha tecendo a sua teia, metáfora da armadilha que aguarda Charles Dexter Ward. A presença oculta e insidiosa do “mal em estado puro” — o mal representado pelos horrendos “grandes antigos” de Lovecraft — os “obscuros do alem”, como se expressa o Dr. Willet (Frank Maxwell) — é onipresente. Sente-se que, para além da crueldade do bruxo Curven e seus auxiliares existe algo pior, poderoso e demoníaco, coisa que Charles e Anne não estão preparados para enfrentar.
Há cenas antológicas em “The haunted palace”, como a penetração do zeloso Dr. Willet e da preocupada Anne Ward nos subterrâneos do castelo — repleto de passagens secretas, portas rangentes, aranhas, ratos e ruídos misteriosos, tudo quanto é clichê do cinema de horror — quando finalmente descobrem a horrível verdade. Roger Corman realizou, aqui, um dos melhores filmes de sua longa carreira.
Elenco: Vincent Price (Joseph Curven/Charles Dexter Ward), Debra Paget (Anne Ward), Cathie Merchant (Hester Tillinghast), Frank Maxwell (Dr. Willet/Priam Willet), Lon Chaney Jr. (Simon Orne), Milton Parsons (Jabez Hutchinson), Leo Gordon (Edgar Weeden/Ezra Weeden), Barboura Morris (Ms. Weeden), Guy Wilkerson (Gideon Leach/Mr. Leach), Bruno Ve Sota (Bruno), Darlene Lucht (Miss Fitch) e Elisha Cook Jr. (Micah/Gideon Smith).
Detalhe curioso: o filme conta com diálogos adicionais de Francis Ford Coppola (não creditado), na época um dos pupilos de Corman.