A loja dos horrores de Roger Corman

A LOJA DOS HORRORES DE ROGER CORMAN
Miguel Carqueija


Resenha do filme “A pequena loja dos horrores” (The little shop of horrors). The Filmgroup. EUA, 1960; 71 minutos, preto-e-branco. Produção e direção: Roger Corman. Roteiro: Charles Griffith. Música: Fred Katz. Fotografia: Archie Dalzell. Direção de arte: Daniel Haller.
Elenco:
Seymour Krelbonid.........................Jonathan Haze
Audrey Fulquard.............................Jackie Joseph
Gravis Mushnick..............................Mel Welles
Winifred Krelbonid..........................Myrtle Vail
Hortense Fechtwanger....................Lynn Storey
Burson Fouch...................................Dick Miller
Tenente Joe Fink..............................Waly Campo
Detetive Frank Stoolie.....................Jack Warford
Dr. Farb............................................John Herman Shaner
Siddie Shiva......................................Leola Wendorff
Leonora Clyde..................................Meri Welles
Wilbur Force....................................Jack Nicholson
Duas adolescentes ..........................Tammy Windsor e Toby Michaels
Voz da planta Audrey Jr...................Charles Griffith (o roteirista)

Obra-prima do cinema de terror cômico, “A pequena loja dos horrores” surpreende pela sua tosquice, pelo grau de absurdo quase ao nível dos “Bananas de pijamas”, pelo clima de brincadeira com que a história é levada. Chamado o “Rei do cinema B” (ou seja, de baixo orçamento), Corman realizou esta película em tempo recorde (diz a lenda que a filmagem em si durou dois dias) e com soluções apressadas e cenários mambembes. A própria ficha técnica, projetada sobre um interminável desenho de ruas pobres, dá uma ideia da pobreza que é também o charme da obra.
Praticamente todos os personagens são esquisitos, girando a trama em torno da apertada floricultura do mal-humorado Gravis Mushnick, que tem apenas dois empregados, a jovem Audrey e o atrapalhado Seymour, muito bem interpretado por Jonathan Haze, no papel de sua vida: o rapaz tímido e inseguro que se deixa dominar pela planta canibal, por ele chamada Audrey Jr., em homenagem à moça, por quem é apaixonado.
Há coisas hilariantes nesse horror. A voz cavernosa da planta, exigindo ser alimentada: “Feed me!” Afinal como ela aprendeu a falar inglês? A cada cadáver trazido por Seymour ela aumenta de tamanho sem que se veja onde se acomodaram suas raízes, certamente não no pequeno vaso original. Mushnick é o tipo do ganancioso, que descobre a verdade mas faz vista grossa porque, como ele próprio diz, “estou ganhando muito dinheiro”.
Outros personagens esquisitos são: a Sra. Shiva (nome de uma divindade da morte hindu), que está sempre encomendando flores de defunto porque seus parentes não param de morrer; Farb, o dentista sádico; Wilbur, o agente funerário masoquista (Jack Nicholson, pelo que consta, em seu segundo filme, aliás ele foi descoberto por Roger Corman); Winifred, a mãe hipocondríaca e alcoólatra de Seymour; e o próprio detetive Fink, que faz uma narração tipo filme policial “noir”.
Roger Corman, que é um gênio do cinema, não se preocupou nem um pouco com a verossimilhança nesta obra clássica e deliciosa, que é algo realmente singular na história da sétima arte.

Rio de Janeiro, 6 de novembro de 2018.