AVENGER episódio 5: aquele que não devia morrer

AVENGER episódio 5: aquele que não devia morrer
Miguel Carqueija

Layla Ashley, a vingadora do título, prossegue em sua misteriosa jornada pelos caminhos inóspitos de Marte, acompanhada pela pequena “doll” Nei e pelo fiel Speedy, em seu carrinho, ele que não entende o comportamento misterioso da silente guerreira. Quando chegam na cidade de Júpiter são recebidos por uma comissão chefiada por Io, secretária do prefeito que também se chama Júpiter. Embora recebidos amigavelmente na verdade a recepção é para desafiar Layla a um combate oficial, como costuma haver nas cidades marcianas. O desafiante é o próprio prefeito, tido como um dos “Doze Originais”, ou seja, um dos doze primeiros colonizadores do planeta vermelho, e dos quais só restam quatro. Dois deles, Volg e Vesta, governam Marte. Os doze originais são tidos como imortais ou pelo menos, não envelhecem. O fato é que o desafio foi pedido, numa comunicação a distância, pelo próprio Volg, que deseja se livrar de Layla, pois já é tida como uma espécie de fantasma: a “criança da Lua” que deveria estar morta...


Resenha do episódio 5 (“Silhueta”) do seriado japonês de animação “Avenger” (Vingadora). Estúdio Beetrain/Xebec, 2003. Produção: Shinichi Ikeda, Kõji Morimoto e Tetsurõ Satomi. Direção: Koichi Mashimo. Música de Ali Project.
Elenco de dublagem:
Layla Ashley..................................Megumi Toyoguchi
Volk...............................................Hiroshi Yanika
Westa............................................Sumi Shimamoto
Nei.................................................Mika Kanai
Speedy...........................................Shinichito Yanaka
Garcia............................................Katsuyuki Konichi


“Eu serei o primeiro a testemunhar a verdadeira identidade do fantasma.”
(Lorde Júpiter)

“Tente me matar.”
(Layla Ahsley)

“Você não pode me derrotar.”
(Layla Ashley)

“Então os Doze Originais não são imortais.”

(Mestre Speedy)

A saga de “Avenger” é muito curiosa e diferente de tudo o que eu vi, sendo uma ficção científica distópica e futurista sim, passada no planeta Marte, mas ao mesmo tempo retrô. O mundo da colonização marciana, com suas cidades isoladas e torres afuniladas como a Eiffel, é rebarbativo e de costumes primitivos, inclusive com as lutas oficiais pelas quais se determinam os campeões das cidades, quem ganha pode ficar com tudo que é do perdedor. Da enigmática Layla, que é quase muda (não conversa e só de vez em quando diz uma frase curta) já se percebe que vem de um passado doloroso e que algum mal lhe fizeram em criança. Todavia, aprendeu técnicas impressionantes de luta corpo-a-corpo sendo praticamente invencível. É essa lutadora determinada, obstinada, que segue um périplo pelo planeta, aparentemente buscando chegar ao Volg, o impiedoso líder que permanentemente utiliza uma armadura esquisita e com apêndices braçais.
Percorre a saga uma atmosfera lúgubre e inquietante, a começar pela paisagem árida de Marte e a presença da imensa e assustadora lua vermelha a pequena distância, pairando no espaço, parecendo prestes a cair sobre a superfície marciana. Layla parece perseguir um destino fatídico, e só sorri ligeiramente para Nei, porque a criança-boneca a enternece. A humanidade em Marte parece fadada à extinção, porque não nascem mais crianças sendo substituídas pelas bonecas que andam e falam mas são criaturas artificiais. Nei porém é diferente das outras e até come, detalhe que chamou a atenção do mestre Speedy.
O que me parece absurdo é o modo como se trava o duelo entre Layla e Júpíter. Embora ele se considere zeloso da honra dos duelos, embora um homem grande e forte (muito maior que Layla) ele a enfrenta portando uma lança, enquanto a moça vai de mãos vazias. Uma luta contrária à ética. Isso não impede que ele perca, provocando a reação ciumenta de Io, que tenta disparar sobre Layla porém Júpiter se põe na frente, recebendo a bala fatal. Para ele — que não tivera escrúpulo em lutar de lança contra uma jovem desarmada — tendo sido lealmente derrotado não se poderia contestar a derrota. Como se vê, uma atitude contraditória. Mas para Layla, ele era apenas “um matador enlouquecido”.
Interessante também é o desinteresse de Layla por tudo. Speedy chegou a pensar que os dias de acampamento do trio haviam terminado. Mas quando os representantes da cidade vêm entregar a Layla os bens (e ela passaria a ser a nova governante local), Layla simplesmente dá as costas e se retira. Seu objetivo não era esse.
Uma das mais melancólicas mini-séries de animação japonesas, “Avenger” vai assim evoluindo no enredo, numa atmosfera cada vez mais sufocante.

Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 2019.