O ESTRANHOS QUE AMAMOS - FILME NETFLIX

Tardiamente assisti "O estranhos que amamos". O filme é de 2017, com a direção de Sofia Coppola, baseado no romance publicado em 1966 por Thomas Cullinan (1919/1995). Tem como protogonistas Nicole Kidman (como Martha Farnsworth) e Colin Farrel (como o cabo John McBurney).

É refilmagem.

O filme original é dos anos sessenta, teve a direção de Don Siggel e atuação de Clint Eastwood. Assisti a fita, contudo como faz muito tempo guardo leve lembrança. Siggel, que não ficou conhecido pelas sutilezas, narra a história do soldado mercenário nortista como se fosse a presença de um galo solto em viveiro de galinhas, como é próprio e habitual da imagem machista de Clint Eastwood.

Agora, Coppola dá ao filme uma linguagem diferente.

A história se passa durante a guerra da Secessão americana e tem desenvolvimento simples e linear. Um soldado mercenário (à soldo) do norte é ferido e busca abrigo num internato feminino sulista, esvaziado pela guerra. Neste local todos os escravos negros fugiram, os homens brancos foram à guerra e as internas voltaram para casa. Ficou quem "não tinha para aonde ir".

O ambiente é feminino.

Todo cenário é de beleza, tranquilidade e sutilezas. A Mansão tem estilo sulista como no "O vento levou...", com ambientes grandes e bem cuidados. Dentro dela o clima é de frescor, tapeçarias, janelas altas, pesadas e confortáveis cadeiras entalhadas, assentos de veludo, poltronas lindas e desconfortáveis, bordas douradas, encostos bordados, bordados... muitos bordados, cortinas deslumbrantes, vitrais, mesas de mármores de pernas retorcidas, relógios dourados, pequenas peças de mármores, bibelôs, mesas impecáveis, lençóis limpos, macios e perfumados, comida regular e saudável, muitas delicadezas. A iluminação é difusa, durante o dia pelas cortinas fechada e à noite pela luz de velas.

Enfim, um convento com atmosfera repousante, com cheiro e ambiente de uma capela funerária.

Sim... capela funerária, porque ali, toda delicadeza e beleza é armadilha que levará à morte.

Nesse internato, refúgio do guerreiro mercenário, estão sete mulheres: três adultas, duas adolescentes e duas pré-adolescentes. A presença inesperada de um macho no ambiente exclusivamente feminino será o gatilho para tensões psicológicas entre todos os envolvidos.

À partir do acolhimento e dos cuidados dispensados com o soldado ferido, as mulheres iniciam uma sutil disputa, que se manifestam nas jóias e gargantilhas que passam a usar, nas maquiagens, nos decotes, etc.

A tensão entre as mulheres será estendida até a ruptura.

Não por acaso, visto que o ambiente é de recato mas os comportamentos são de sexo ou reprimido ou iniciático, a sugestão para a solução do imbróglio partirá da mais inocente das mulheres: uma das menina que já começa a compreender os valores do universo feminino e masculino que a rodeia.

A morte cruel e traiçoeira, virá limpa, delicada e feminina, como solução consensual, partilhada, bordada em fino tecido branco, pelas mãos das mulheres.

E ira contrastar com a morte imunda, abjeta, nojenta, praticada pelos homens, na guerra que logo ao lado se desenrola.

Bom filme. Fica a sugestão.

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Sajob,

Baguaçu, junho de 2015 + 5.

Obrigado pela leitura.