“Dia de Treinamento”(Training Day)

“Dia de Treinamento”(Training Day)




O barato maior do “Training...” é ele carregar esse aspecto de filme para adultos sem que ninguém esteja pelado. Em outras línguas diz-se “filmão”. E há também a questão da luz. O cinema do século 21 ficou bem uns 10 anos lançando boa parte de sua produção com uma mão de cian por cima, isso quando não assumia uma tonalidade dark e sabe-se lá se tal empreita foi intencional.

Faz sol com todas as cores na L.A. do vilão de distintivo com senso abaixo de zero Denzel Washington, um personagem praticamente das trevas, e o grande “mas” oculto em meio a frase reside na sua performance. Lembremos que isto é cinema, tudo mentirinha, quanto melhor as pessoas se empenharem na mentirinha, melhor o resultado.

Lançado em 2001 e dirigido por Antoine Fuqua, a força e talvez a mágica de “Training...” não está nem nos tiros (que são poucos) e nem na denúncia (corrupção policial) e sim nos teatrinhos.

Violência, desculpe dizer, desde que a humanidade laçou o decapitamento on-line para milhões de espectadores, a régua mudou de posição. Corrupção, tenho certeza de que o Brasil vai virar verbete nesse quesito. Mentirinhas, o tal Covid 19, hmmmmm, restam os teatrinhos.

"Training Day” foi muito feliz nesse aspecto. A coisa vai escalonando, das primeiras tratativas entre Denzel e o novato Ethan Hawke, trabalhador, pai de família, com os dois pés no claro do mundo lutando com todas as suas forças para não ser engolido pelo lado negro da força, então temos a geral na molecada classe média que foi brincar no lugar errado, os estupradores barrados por Hawke, a cena da luta com eles, o cadeirante em fuga, os dois encontros com o executado Scott Glenn, o lance da grana apreendida no bairro periférico, o almoço com a nata da polícia de L.A. e a antológica cena da banheira mexicana. O filme reúne o raro mérito de somar atmosferas muito bem construídas, uma seguida da outra.

O final nem vale a pena mencionar, David Ayer, (roteiro), longe de ser um Shakespeare, a praia dele é sirene, fez tudo certo, mas o desfecho dói. Paciência. Antoine Fuqua, (direção), se especializou nesse tipo de trabalho e estamos conversados.

Ano que vem o filme comemora 20 anos de existência. Denzel levou o Oscar de melhor ator. Merecido. Indiscutível. Hawke nomeado para melhor ator coadjuvante. A premiação seria justa. E a turma do meio de campo brilha além da medida certa.

O mal não vence o bem em "Training Day”. Dito isso, e diante do que apresenta a nossa absurda realidade, encerramos com Viktor Frankl: "O homem pode suportar tudo, menos a falta de sentido”.
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 24/07/2020
Reeditado em 25/07/2020
Código do texto: T7015559
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