Three Ages (1923) - de Buster Keaton

É o amor o tema das três novelas que fazem deste filme em preto e branco, e mudo, do ano de 1923, uma peça hilária, uma comédia divertidíssima, o ator e diretor Buster Keaton a protagonizar as três aventuras, uma ambientada na Idade das Pedras, uma, em algum ano do auge do Império Romano, e uma nos tempos modernos, princípio do século XX, nos Estados Unidos. Alternam-se capítulos de cada uma das três novelas, cinco de cada, cada um de poucos minutos - tem o filme um pouco mais de uma hora de duração -, cada capítulo a contar um episódio das adversidades e peripécias rocambolescas do protagonista.

À conquista da mulher amada, sai o protagonista, nas três novelas, e tem ele de se defrontar com um rival, o da Idade da Pedra, mais forte do que ele, o da época de Roma, mais poderoso, e o dos tempos modernos, mais rico. Na Idade da Pedra tem o protagonista um animal de estimação, um ser pré-histórico, um dinossauro, que acredito tratar-se de um alossauro, ser antediluviano de pescoço mais comprido do que o das girafas - mas não sei se os produtores de Three Ages tinham em mente reproduzir, num boneco, tal criatura gigantesca. E fica-se sabendo que em tal era, a da pedra, da pedra lascada, e não da pedra polida, presumo, os nossos brutos, asselvajados ancestrais conheciam o golfe, praticado, então, com tacos rudimentares, clavas, e bolas de pedras. E no tempo dos Césares, faz-se uma leitura singular da corrida de bigas, o protagonista a comandar uma biga puxada por quatro cães, um gato a atiçá-los, e a improvisar, em vez de rodas acopladas à viatura, pranchas de veículos para uso em neve. E nos tempos modernos, assiste-se a um divertido jogo de futebol (para nós brasileiros, futebol americano). Buster Keaton, nas três eras, numa sucessão de absurdos de fazer todos dobraram-se de tanto rir, de tanto insistir em conquistar a mulher que ama, supera os contratempos. São suas aventuras picarescas, outras, disparatadas. Todas, rocambolescas. Dentre as mais divertidas, elenco a da corrida de bigas, a do protagonista na cova - que nesta ele caíra por artimanha de dois de seus inimigos - de um leão - um exemplar ferocíssimo, digno do título de rei dos animais -, a da batalha entre o protagonista e seu rival, na Idade da Pedra, e a do restaurante e do táxi, na idade moderna. E o filme, ao encerramento, exibe o casal, feliz, apaixonado, na Idade da Pedra, com sua penca de filhos, na Roma dos espetáculos sangrentos no Coliseu, com cinco filhos, e, na idade moderna, com... É tal cena, a derradeira do filme, sutil critica aos tempos modernos.

Conquanto recheado de disparates, é o filme veraz em sua essência: reconstitui, com a perspicácia só encontrada em historiadores da estirpe de Tucídides, as três era em seus traços únicos, a representar, à perfeição, a índole dos povos das eras revisitadas.

O leitor poderá, talvez, quem sabe? entender que meu comentário registrado no parágrafo anterior é uma ironia. Ou talvez, não. Quem sabe? De uma coisa eu sei, Buster Keaton fez em Three Ages uma leitura singular da história humana; é verossímil, cá entre nós, isto é, as coisas talvez tenham ocorrido como ele as narra.

E no início de Three Ages há, na primeira cena, prefácio para as três novelas que se irá contar, sentado, à mesa, um ancião de, brancos, cabelos, barba e bigodes, a ladeá-lo uma foice; e sobre a mesa, há uma caveira, um globo, uma ampulheta e um tinteiro com duas penas.

Além de Buster Keaton (um dos diretores do filme; o outro é Eddie Cline), participam de Three Ages os seguintes atores: Margareth Leahy, Wallace Beery, Joe Roberts, Lillian Lawrence, Blanche Payson, Horace Morgan e Leonel Belmore.

É Three Ages uma divertidíssima obra da Sétima Arte. Imperdível.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 17/10/2021
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