OS SETE SAMURAIS

OS SETE SAMURAIS, de Akira Kurosawa, Japão, 1954

FLAVIO MPINTO

Filme japonês antigo que nos remete ao século XVI, de intensa atividade e influência dos samurais e do Shogunato. Na película podemos ver atuando inúmeros atores japoneses, que também brilharam em outros clássicos da cultura japonesa, de Ran ao Último Samurai e Memórias de uma gueixa. O diretor/roteirista era Akira Kurosawa.

A trama se dá num pobre vilarejo japonês. Com o campo infestado de bandidos que roubam e achacam os pobres agricultores. Além dos impostos extorsivos a que estavam sujeitos, seca, fome, os homens do campo não possuem capacidade de enfrentamento aos bandidos que impõem uma lei e ordem a sua maneira. Num determinado povoado, já cansados de serem atacados e roubados, ao pressentirem o ataque dos fora-da-lei, decidem tomar uma atitude. Mas medrosos, desorganizados e sem mentalidade guerreira, após inúmeras discussões, decidem consultar o patriarca da vila. Este determina que se defendam e que busquem o apoio de samurais para auxiliá-los.

Quatro agricultores vão a cidade contactar aqueles que eram os guardiões do Japão. Mas nada podiam oferecer-lhes além de comida pelos serviços a serem prestados.

Conseguem o apoio de Kambei Shimada, um ronin, que forma uma equipe de sete samurais e irão trabalhar não por dinheiro, mas pela confiança no caráter de Kambei.

Mas porquê fazer uma crítica de um filme antigo, preto e branco ainda, numa realidade distinta da nossa?

Simplesmente porquê a temática é bem atual para o atual estágio da sociedade brasileira na sua condição humana, social, política, econômica. O povo é literalmente saqueado em todas as instâncias, e no entanto, não se organiza para defender-se. E quando decide sobre quem o representa, escolhe elementos comprometidos que cometem outros descaminhos.

Bismarck já afirmava que "se aprende com o erro dos outros", no entanto como a memória do brasileiro é muito curta, é sempre bom repetir lições.

O filme começa com uma tentativa de saque a uma pobre vila por malfeitores, seguida de uma reunião de moradores e um seqüestro tendo uma criança como refém. Nada diferente do que presenciamos no dia-a-dia atual.

Akira Kurosawa sempre teve como destaques os temas sociais nos seus filmes sempre destacando um personagem. Neste, o agricultor Manzo é a própria significação do povo: aparentemente frágil, indefeso e covarde, incapaz de usar armas, de organizar-se, mas revela-se ladino, maldoso, vingativo e traiçoeiro, chegando a despojar e saquear as vestimentas e armas de samurais feridos em combates.

Com os agricultores organizados pelos samurais, cientes da sua capacidade de enfrentamento aos malfeitores, plano de defesa da aldeia a pleno vapor, o resultado não poderia ser outro: uma verdadeira lição aos dias de hoje dada por um filme de 1954 vivenciado no século XVI no Japão.