Harry Potter, a série.

Ou  Minhas Férias em Hogwarts.

Fim dos anos 90 e uma polêmica surgia no mundo editorial e cultural.  O lançamento da série Harry Potter  chegava ao Brasil com todo alvoroço que os livros que vendem muito provocam.
As crianças queriam ler Harry Potter. Alguns críticos atacavam. Educadores e pais tentavam se posicionar.  
Em meio a essa turbulência, presenteei Marcilio, meu sobrinho, com o livro. Em seguida, minha filha pediu emprestado ao primo e assim  chegou o livro às minha mãos. 
Comecei a ler e não parei. Durante aquele verão dei início às férias anuais em Hogwarts, Escola  de Magia e Bruxaria, situada nos arredores de Londres. 
Meu encantamento natural pelo bruxinho e seus amigos, Roney e Hermione venceu qualquer crítica contrária. 
Saltei  a barreira do preconceito e me assumi admiradora da escritora, hoje milionária, J.K.Rowling, que teve uma iluminação ao criar o mundo mágico de Harry Potter.
O preconceito continuava (ainda continua) e eu querendo entender o que aquelas pessoas sisudas viam de tão ruim naquilo que me seduzira. Algumas não leram e não gostaram, se me permitem o clichê. Não sabem o que estão perdendo.
Apesar da minha segurança e paixão declarada, queria saber se outros adultos liam Harry Potter. 
A primeira resposta veio no Programa Sem Censura da TV E, quando o editor da Editora Rocco falava sobre mais um lançamento da série. Além dos seus elogios, vibrei quando  um senhor, inteligente e com mais idade que eu, falou que lia e gostava muito dos livros da série.
Mais tarde Marília Gabriela entrevistou uma pedagoga que assinava uma coluna sobre literatura infantil e pediu a opinião da entrevistada , com uma leve,  mas perceptível torcida de nariz,  sobre o fenômeno Harry Potter. 
A moça perguntou se Marília havia lido e obteve a resposta negativa. Só então contou o seu "caso" com Harry e companhia:  A educadora recebera o primeiro livro para fazer sua crítica. Viajou e à noite começou a ler. Não dormiu. Leu o livro naquela viagem e fez uma bela crítica.
Eu já tinha dois aliados, depois descobri mais, embora não precisasse. Desde que meus olhos entraram na casa dos Dudleys -  os tios cruéis que criaram o órfão Harry Potter -  no dia em que chegaou a carta de Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts e protetor do bruxinho  avisasando que a partir dali, aos onze anos, ele iria estudar na escola de magia, eu já estava convicta de que a série seria mais do que um delicioso entretenimento.
Encantou-me  a idéia da plataforma nove e meia, localizada entre a nove e a dez, na estação de Londres e vista apenas por bruxos  que dali embarcavam para o internato.
O encantamento se deu da mesma forma com o Beco Diagonal, no centro londrino, invisível aos trouxas (os não bruxos), que vendia tudo do mundo da magia.
A partir de então eu e minha filha falávamos uma língua "harryporteana" aqui em casa.” Aparatávamos" e "desaparatávamos" com freqüência.  
Tínhamos aulas de oclumência, sentíamos ódio de Lorde Voldemort e dos Comensais da Morte, que queriam derrotar Harry Potter, o sobrevivente do bem.

Ríamos com os irmãos de Rony, amávamos Hermione, a menina que não tinha nascido bruxa, porém era a mais estudiosa na arte da bruxaria e a mais ética de todo grupo.
Torcíamos por Harry, sofríamos com suas dores  quando o mal vencia, conforme ocorreu na triste morte de Cedrico, um adolescente da escola.
São tantos os personagens adoráveis : Hagrid , o meio gigante, Dobley, o elfo doméstico, a sensata professora Mcgonagall, Tonx, a bruxa distraída e o padrinho de Harry, Cyrus.
Hoje Harry Potter  recebeu o aval de ninguém menos que Renato Mezan, um dos mais respeitados psicanalistas do país e estudioso de Freud, autor de Freud, O Pensador da Cultura, um livro sério e denso que meu pai me deu há mais de vinte anos.
Consoante Mezan, em uma entrevista à Veja, os livros de Harry Potter abordam temas da psicanálise . O medo,  a culpa, o  mal e  o bem,  o preconceito como defesa do ego, o amor e o ódio, a vida e a morte estão lá, como em nosso inconsciente.
Na entrevista ele cita um dos mais emocionantes e significativos trecho de toda série no qual Harry encontra um espelho chamado " Ojesed" e ao mirá-lo vê sua mãe morta sorrindo para ele.  
A palavra ojesed é desejo ao contrário e aquele espelho refletia a vontade maior do menino herói.
Li todos e voltarei a ler. Recomendo  às crianças e aos adultos que se permitirem experimentar  uma viagem mágica nessas férias.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 16/07/2008
Reeditado em 07/07/2012
Código do texto: T1083013