Marilyn Últimas Sessões*

" Os homens querem ir à lua, mas não se interessam pelo coração humano".
Fala de Marilyn Monroe no livro.


Comprei por impulso. Já estava com outro livro na mão quando meus olhos pousaram no volume de capa escura com uma foto de Marilyn Monroe, sorrindo sutilmente com um cigarro na mão.

Li a orelha falando sobre o autor. Um psicanalista francês, escritor premiado, que entrelaça no romance, o relacionamento da atriz com seu psicanalista Ralfh Greenson nos últimos anos de vida da atriz.

Não tinha como errar na aquisição. Adoro biografias e a psicanálise é um assunto a mim muito interessante.

Comecei a ler e o autor não me seduziu a princípio. Acredito que a tradução tenha prejudicado a narrativa. Deixei o livro, marcado e dediquei-me à leitura de outro que já havia iniciado.

Um livro bom quando termina causa-me um vazio. Como se um amor fosse embora. Despedi-me dos personagens queridos e na mesma noite ganhei um brinco cuja a embalagem trazia o nome da loja: Nunca Fui Santa.

Ao me recolher tarde da noite retornei a Marilyn Últimas Sessões, exatamente no capítulo em que o autor se referia à gravação de Nunca Fui Santa, filme no qual Marilyn atuou.

Não parei mais de ler e mergulhei na alma de Norma Jeane Baker, a menina perdida que se tornou o maior mito sexual da história moderna.

Se antes me comovia  sua morte precoce, aos 36 anos, no ano em que nasci; hoje me espanto por Marilyn Monroe ter vivido esses anos todos.

Sua alma era de uma sobrevivente, a despeito do glamour e da sexualidade aparente. Reiventou-se criando um novo nome, deixando de ser Norma Jeane para se tornar Marilyn Monroe.

Tentou apagar anos de rejeição, resultado pela doença mental da mãe que a abandonou, passando de lar em lar, sendo abusada por pais adotivos, com a troca de sexo para obter amor em sua vida adulta.

Marilyn teve muitos homens, entre eles: Joe DiMagio, jogador de basebol e Arthur Miller, dramaturgo, com quem se casou. Teve casos com Elia Kazan, Frank Sinatra, Ives Montand e , finalmente, com os irmãos John e Bobby Kennedy.

O livro aborda superficialmente esses relacionamentos. O autor explora a relação de dependência total entre a paciente e o psicanlista Ralph Greenson, revelando o caos emocional da mulher por trás da imagem e levantando a hipótese de que o Dr. Greenson dependia da mesma forma de Marilyn.

O livro atrai, pois as estrelas são fascinantes e tentamos descobrir o que existe além do brilho. É então  que atua a psicanálise adentrando a alma da mulher que lutou para fugir do estereótipo que Hollywood criara para ela: sexi e boba.

Marilyn Monroe não era superficial. Embora amasse sua imagem, a estrela lia bons autores, preocupava-se em aprender e se aprofundava em seus fanstasmas para se livrar deles.. Foi analisada inclusive por Ana Freud.

Era, sim, uma menina em um corpo de mulher que amadurecia, que tinha medo e que era muito só. Entupia-se de barbitúricos, anfetaminas e outras drogas para se manter viva.

Greenson não conseguiu salvá-la da dor e do vazio que a perseguia, apesar de ter, por dois anos, tomado conta de todos os aspectos da vida da mocinha que se tornara atriz para sobreviver a si mesma.

O autor deixa claro, no entanto, que não havia relacionamento sexual entre eles.

A leitura, tem um lado pueril por revelar um pouco a intimidade de alguns mitos do cinema e da política dos anos sessenta, porém é mórbida. E não tinha como escapar disso pois a iniciamos sabendo como foi trágica e ainda incompreendido o fim da vida de Marilyn.

O mito superou a mulher, que em agosto de 1962, sucumbiu ao desespero não se sabe se por acidente ou se por intenção. Ainda hoje as fotos de Marilyn Monroe são disputadas em leilões e seu rosto é conhecido até pelos que nasceram muito depois de sua morte.

Depois do livro, precisarei rever Marilyn cômica e leve em O Pecado Mora ao Lado.




"Ela ficava em polvorosa enquanto a paz não fosse reestabelecida"
Do relatório do Dr. Greenson a Ana Freud.


Marilyn Últimas Sessões.
Autor: Michel Schneider
Editora Alfaguara
Páginas: 423
2006.

* O título é assim mesmo, sem pontuação.
Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 31/01/2009
Reeditado em 07/02/2009
Código do texto: T1414362
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