A Menina do rabicó azul

Do livro de Delmar Moraes

Prefácio

Para cuidar do planeta, não basta reclamar que os outros não fazem sua parte e ainda jogam garrafas, sacolas e tantos outros plásticos nas ruas e depósitos de lixo, detritos aqui e ali, móveis nos córregos, arroios e rios, não usam a água de forma consciente, etc.. Tampouco basta acusar o governo de negligente, que não faz as obras necessárias, não fiscaliza, não multa e não prende. De nada resolve viver a debater sobre corrupção, roubo, desvio, etc.. Não adiantaria todos serem fiscais, pois a vocação de cada um é fiscalizar e corrigir o outro. Entretanto, enquanto se investiga os delitos alheios, a parte que nos cabe fica no esquecimento e esta é a que produziria resultados. Devemos sim é fiscalizar nossas atitudes, rever os conceitos pessoais, o código de ética e moral que cultivamos, onde somos negligentes, em que temos sido egoístas, quanto nos preocupamos com o todo, com os conhecidos, os desconhecidos e os que ainda virão morar nesta nossa casa esférica.

Que ninguém pense estar só e que há alguma ação privada, pois tudo que se faz ou de deixa de fazer por si, pelos outros e pela natureza sempre afeta a outros, quase sempre a muitas pessoas, algumas vezes quase todas e, por vezes, a todas. O sorriso de uma criança, por exemplo, quanto ele melhora o dia de quem o vê, podendo até evitar uma guerra num país distante. E o mau humor do patrão, capaz de turvar o dia de todos, mesmo que sua indignação não seja contra algum colega. Se alguém não levanta no horário, porque discutiu com a esposa até tarde, muita gente sai sem o desjejum e, por causa do humor alterado, cumprimenta diferente os passantes, o trabalho não rende, a entrega atrasa, o navio fica retido, o custo do transporte aumenta, o preço das taxas, os preços finais dos produtos, etc..

A mãe que discutiu com o marido a noite não elogiou o trabalho do filho, que por isso saiu para a aula com pensamentos negativos e, por não se concentrar, tirou nota baixa, forçando o professor a dar outra prova, impedindo-o de ficar mais tempo com os filhos, que crescerão desorientados, sem responsabilidade social, sem consciência ecológica, etc..

O que há de mágico neste livro é que ele monta um cenário ideal inteiramente possível, pois cada indivíduo no ambiente literário empenha-se em sua função, assumindo a responsabilidade do que lhe cabe.

Se olharmos para nós mesmos, veremos quantos de nós tiram o sustento de atividades que jogam no ar, na terra e na água resíduos tão nocivos que não só matam a natureza diretamente e indiretamente, mas também o ser humano a queima roupa. Olhando assim, veremos quantos de nós não nos importamos com as sacolas que trazemos do supermercado, os plásticos das embalagens, etc., que inundam rios e campos, matando nossa fonte de vida e nossos amigos animais. Quantos de nós fumamos, jogamos lixo nas ruas, compramos móveis de florestas de preservação, não sabemos que fim dar às baterias de celular e assim por diante.

Neste livro, porém, há harmonia entre as pessoas e a natureza, onde todos vivem em sintonia, ocupando-se uns dos outros. Nas páginas bem arranjadas, vê-se quão generosamente a sociedade, a natureza e a vida nos recompensam quando meramente cumprimos a obrigação de sermos simpáticos, conscientes, participativos e ativos, disputando com os demais apenas a marca do primeiro passo, querendo sempre alcançar esse recorde.

Vê-se neste livro que a fiscalização mútua não produz benefício, somente discórdia, o que temos visto na vida. Mas, ao contrário, a amizade, a cordialidade e a consciência do compromisso pessoal faz que todos se unam, não só na alegria, mas também na urgência, quando a menor contribuição somada a tantas outras pequenas obras produzem resultados incalculáveis.

Em contrapartida, cobra-se de alguém seu compromisso quando não há consciência, pois o compromisso social e ecológico deve ser ensinado já no berço, crescendo então no coração, como motivará o indivíduo a fazer sua parte, pois o fará por amor. E nesse sentido este livro faz-se ainda mais maravilhoso, pois apresenta uma sociedade ideal onde cada um aprendeu na infância que cada elemento em particular é fundamental para a existência e bem-estar de todos.

E por falar em bem-estar, se prestar atenção, o leitor sentirá o prazer de inalar o aroma silvestre do livro, ouvindo no fundo o suave murmúrio da corrente do rio que encharca suas entre linhas, bem como do revoar das aves que povoam a floresta que cobre suas páginas de verde e tantas outras cores maravilhosas.

Uma ótima leitura.

Wilson do Amaral - Autor de Os Meninos da Guerra e Os Sonhos Não Conhecem Obstáculos.