Apenas poesia?

Lúcio Alves de Barros*

CABRAL, Isolda. Apenas poesia. Olinda, PE: Livro Rápido, 2009. 148 p (ISBN: 978-85-7716-594-0).

Não é comum autores levarem a cabo resenhas de um livro que reúne poesias. Tal empreitada não deve ser mesmo fácil, até porque, como já se falou um dia: “as palavras são de quem lê” e não pertencem ao autor. Pensando nisso, ou justamente por causa disso, decidi ser teimoso e achei oportuno, obrigatório e necessário escrever sobre o livro de poesias de Isolda Cabral. Trata-se uma obra, cujo nome “Apenas poesia” não revela sua profundidade. A obra é muito mais que isso e reúne as principais poesias dessa mulher, esposa e mãe residente em Recife. Creio que faz parte de um trabalho silencioso o qual há tempos merece ser imortalizado nas páginas de um livro.

A obra de Isolda atinge com força a alma da gente. Já conhecia algumas poesias dela que estavam espalhadas neste vasto mundo virtual. Acompanhando a poetisa de longe, ou de perto, afinal já estamos em um ciberespaço, vejo o quanto é belo o seu espírito. Em meio às suas acertadas palavras, “Lá e o cá” (p. 61) me deparei com “A vida e eu” (p. 71), uma escrita reta, louca (“Parar no ar”, p. 41), arquiteturada e que faz lembrar as condições efêmeras de vida. E como é bom ler o livro. De poesia em poesia vamos nos encantando com as conjunturas e, não raro, nos reconhecendo nelas. “Sem retorno” (p. 44), o leitor começa a leitura e, paulatinamente, deseja não terminar o livro. Uma espécie de angústia invade a alma quando as páginas finais estão chegando. Infelizmente, “Sem contestação” (p. 51): “Querer não é poder” (p. 120).

O interessante é que podemos encontrar a Isolda: sua alma, seu perfil, sua família e, além disso, perceber o carinho que ela tem para com eles registrado nas festas, nos períodos de doença, comemorações dentre tantos momentos que vem marcando essa mulher de muitas faces (“Sem segredos”, p.124; “Valente mulher”; p. 128, “Carnaval por dentro”, p. 122; “Só tristeza”, p. 146; “Estou feliz, p. 148).

Na realidade, é mais que isso. No virar das páginas também encontramos uma mulher otimista, pessimista, realista, espirituosa, guerreira, religiosa, cheia de esperança e medo. “Sempre viva” (p. 73), ela não deixou de nos mostrar sua vulnerabilidade (“Internação é a solução” (p. 77) e, entre linhas, revelou como se encontra a nossa (“Viver na mata”, p. 116). Em cada palavra fui me sentindo por vezes menor, maior, fraco, forte e, não poucas vezes parecia que ia ao chão (“Sonho desfeito”, p. 68), mas depois a força da obra me levantava e me dizia que sou ser humano (“Resto de mim”, p. 134). Com Isolda toquei as barbas de Deus, flertei com as anjas e voltei à terra com muita perseverança (“Sou guerreira”, p. 144). Havia há tempos chamado Isolda de “Pablo Neruda de saia”. Humilde, ela me chamou de menino e asseverou estar longe disso. Todavia, não podemos negar a força de sua capacidade de trabalho e produção. Chega a ser invejável e sempre estou à espera de uma nova poesia , crônica ou conto da Isolda. E como foi bom receber o livro pelo correio. Senti uma certa nostalgia quando o carteiro chegou. Recomendá-lo é pouco. Nele encontrei forças para continuar vivendo, amando e aprendendo. Percebi um pouco o sentido da vida e pensei que Isolda nasceu para brilhar, tal como muitos poetas que estão por aí e que não tiveram a oportunidade de publicar sua poesia, e o seu livro é uma parte desta grande estrela à qual tem um lugar privilegiado em minha singela biblioteca e no canto direito cansado do meu coração.

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* Lúcio Alves de Barros é licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia e doutor em Ciências Humanas: Sociologia e Política pela UFMG. É autor do livro “Fordismo: origens e metamorfoses”. Piracicaba, SP: Ed. UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), 2004, organizador do livro “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006, co-autor do livro de poesias, “Das emoções frágeis e efêmeras”. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006 e organizador da obra “Mulher, política e sociedade”. Brumadinho: Ed. ASA, 2009.