Pantaleón e as visitadoras (1973) Mario Vargas Llosa

Após a leitura de Pantaleón e as Visitadoras, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, é muito difícil achar uma classificação genérica para o livro. Em um cenário de prostíbulos, cafetões, vilarejos miseráveis, um calor infernal e o enigmático isolamento da floresta amazônica, o autor organizou uma delirante e exótica história em torno da figura displicente de Pantaleón Pantoja.

Pantaleón é um capitão do exército peruano, conhecido pela eficiência com que se entrega às missões militares. Tamanho é o seu senso de disciplina, que ele é encarregado por seus superiores de organizar secretamente um bordel itinerante. Seu principal objetivo é reduzir as taxas de estupro nas zonas militarizadas, oferecendo prostitutas aos soldados, que na falta de mulheres na selva estavam se transformando em estupradores em série.

Antes da chegada do capitão, a situação estava tão crítica que estavam acontecendo diversos casos de “viadagem” e bestialismo. “Imagine que um cabo foi flagrado levando vida conjugal com uma macaca”. Ao executar essa missão, Pantoja que sonhava em ser um herói do exército peruano, teve que passar a “se vestir como um civil, andar com civis, trabalhar como um civil, mas pensar sempre como um militar”.

Jamais havia passado pela sua cabeça ser um militar sem farda. Para contratar as prostitutas, o capitão que sempre foi acostumado a morar em confortáveis vilas militares e a conviver somente com oficiais de alto escalão, teve que entrar em contato com a mais baixa ralé da sociedade prostibular amazonense.

Uma das partes mais difíceis para Pantoja, foi a delicada situação de esconder de sua mãe, e de sua própria esposa, o caráter da operação que recebeu o nome de Serviço de Visitadoras para Guarnições, Postos de Fronteiras e Afins (SVGPFA).

Em relatórios periódicos enviados aos seus superiores, ele relata o sucesso da operação, e fala sobre os testes que fez pessoalmente com as “visitadoras”. Antes de executar essa missão, Pantaleón não passava de um militar sistemático e conservador, acostumado ao cotidiano e ao convívio militar. Mas nem a mais rígida postura militar o impediu que se apaixonasse pela mais bela das prostitutas, apelidada de Brasileira. Tudo ia bem até a descoberta desse amor vulcânico do capitão pela linda morena de vinte e dois anos.

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936, e passou a infância na Bolívia. De volta ao Peru, estudou direito e letras. Em 1959 vai para Madri, onde faz doutorado em filosofia e letras. Muda-se para Paris, como redator da France Presse. Seu primeiro livro, Os Chefes, é de 1959. Obtém sucesso internacional com o romance Batismo de Fogo (1962), traduzido para várias línguas.

Em 1964, regressa ao Peru e realiza sua segunda viagem à selva amazônica. Trabalha como tradutor para a Unesco, na Grécia. Pelos próximos anos, reside em Paris, Londres e Barcelona. Em 1981, publica A Guerra do Fim do Mundo, no qual narra a história da Guerra de Canudos. Volta ao Peru em 1983; sete anos depois concorre às eleições presidenciais (chegando ao segundo turno). Em seguida, muda-se para Londres, onde vive até hoje. Entre seus muitos títulos de ficção, jornalismo e ensaio, cabe mencionar os mais recentes: A Linguagem da Paixão (2002) e Paraíso na Outra Esquina(2003).

Por fim, em relação a encontrar uma classificação para o livro, tenho que concordar com a resenha do jornalista Cassiano Machado, que diz que “essa trama deixa qualquer leitor estatelado no chão”. Definitivamente, “Pantaleón e as Visitadoras é um livro safado”, e vai concordar conosco aquele que se aventurar em lê-lo.

Danilo Nuha
Enviado por Danilo Nuha em 11/08/2006
Código do texto: T213828