O Conto “Tchau” de Lygia Bojunga

Dentro do contexto apresentado pelo conto de Lygia Bojunga, podemos perceber que Rebeca é uma criança entrando para adolescência. Ela me faz lembrar de mim mesmo: uma criança que mesmo sendo criança sempre foi vista como um elemento de apoio, um ser onde os pais depositam os seus conflitos, anseios e sonhos.

Rebeca transforma-se em uma ferramenta entre a comunicação do pai com a mãe e vice-versa. Ambos sofriam, no entanto nem um dos dois, pensava no sofrimento de Rebeca.

Rebeca “inocentemente” se vê em meio ao fogo cruzado, uma criança que a todo o momento se vê com a responsabilidade de uma pessoa adulta, sendo delegado a mesma a solução de problemas do “mundo dos adultos”. “Ingenuamente” Rebeca tenta construir um fim melhor para esta história.

Podemos enquanto leitor dizer que o conto “Tchau” é uma obra tão próxima do nosso cotidiano, que faz de nós leitores co-autores do mesmo. Uma literatura expressiva que utiliza de um conflito de domínio familiar para nos apresentar um contexto “real”.

É interessante notar que Rebeca é a porta voz principal do discurso, mesmo sendo uma criança tem a capacidade de entender e calcular os resultados para a resolução do conflito vivido naquele contexto.

O conto nos apresenta Rebeca, uma menina como tantas outras do século XXI que no dia a dia precisam tomar uma postura de pessoa adulta, enfrentando os seus medos, alimento uma esperança de reconciliação entre seus pais.

A escritora Lygia Bojunga se utiliza de uma linguagem precisa para dialogar com o seu leitor, deixando explícitos os sentimentos que nascem no seio da cultura, como os valores sociais, históricos e ideológicos.

Bojunga procura descrever um contexto que perpassa dentro da história de gênero, entretanto, ela vai além promovendo uma transposição, eliminando preceitos que fecundam a nossa sociedade “machista”, pois a mãe toma a decisão de ir embora, afirmando uma inversão de papéis ditos sociais.

Como havia dito no início desta análise, o conto aproxima tanto da nossa realidade, que nos projetamos para dentro da narrativa com relação aos valores sociais e sócio-culturais vividos no cotidiano.

Ao longo da sua construção textual Bojunga se utilizou de inúmeros artifícios linguísticos e gramaticais para nos apresentar uma narrativa subentendida, construindo um contexto com variantes que pauta na estrutura de seu conto e o discurso visível e não visível nas falas de seus personagens.

No entanto, em sua obra Bojunga divaga no terreno: familiar, social, cultura, ideológico, emocional, chocando a verdade com a mentira, a lealdade com a falsidade, o explícito com o segredo, o sentimento amor com a fúria avassaladora da paixão.

Em minha concepção, Bojunga trabalha com propriedade o fluxo das coisas eternas, o rompimento com os elos abstratos ditos concretamente materiais. Segundo Platão nada é “eterno”, como percebemos no conto tudo se transforma. As pessoas mudam, o mundo muda e tudo o mais passa. O existir é um constante ir e viver.

O mundo é um verdadeiro comboio de emoções, dicotomia vida versos morte, um percurso de histórias distintas, complexidades transmutáveis e sentimentos variáveis.

O medo de perder é algo constante na vida no homem como afirma Philippe Áries. Analisando a reação de Rebeca percebemos que o adeus da amada mãe seria o fim da vida familiar que eles haviam construído; Rebeca e seu pai não estavam preparados para uma separação. Por isso o título do conto “Tchau”, pois a palavra não remete o fim e sim até logo.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 27/04/2013
Código do texto: T4262362
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