Resenha sobre o livro "Preconceito linguístico: o que é, como se faz" do autor Marcos Bagno

O livro “Preconceito Linguístico”, trata do estudo da língua nas suas diferentes variações e aponta as diferenças entre língua e Gramática Normativa, levando-se em conta o preconceitos sociais vinculados ao preconceito linguístico, sofridos por muita gente. Existe uma associação preconceituosa entre o que a pessoa é, e o modo como ela fala. Contudo, a variação linguística é um fenômeno presente em todas as línguas humanas, essa variação está totalmente desvinculada da influência da Gramática Normativa. Quando falamos de Língua Portuguesa, estamos nos referindo à um vasto conjunto de variações, regionalismos, fenômenos linguísticos, etc. A Gramática Normativa torna-se a base de um preconceito social cujas causas são politicas, econômicas e culturais e não se sustenta na análise do uso da língua por seus falantes. Por consequência, apresenta uma unidade, que foi apresentado como primeiro mito que constitui o preconceito linguístico.

O segundo mito diz que o brasileiro não sabe português, só em Portugal se fala bem o português. Na realidade, a Gramática Normativa do Brasil segue os mesmos modelos da de Portugal quando obviamente sabemos que existem grandes diferenças entre o português falado aqui e o falado lá.

O terceiro mito diz que o Português é uma língua muito difícil. Trata-se de um preconceito contra a própria cultura. Isso nos mostra a necessidade de compreendermos a existência de uma Gramatica própria do povo brasileiro, diferente da de Portugal.

No quarto mito ele aponta o estigma de que as pessoas sem instrução falam tudo errado. Os vícios de linguagem e o provincianismo são apontados como formas erradas ou até caipiras por muitas pessoas. Porém, fenômenos como o rotacismo não são levados em conta. O fato de alguns lugares serem tidos como o de melhor uso da fala, não se leva em conta que as variedades linguísticas atendem necessidades de uma determinada comunidade ou região. Nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares.

É necessária uma única ortografia para padronizarmos a língua a fim de que todos possamos ler e compreender o que foi escrito. Não há uma necessidade de limitarmos a língua falada a esses padrões que só servem para impedir a evolução natural da mesma. A maioria dos gramáticos apontam a norma culta como a única digna de ser estudada, ensinada e praticada. Eles não levam em conta a história, a classe social, a faixa etária, a comunidade onde vive o falante, etc.

As gramáticas foram feitas para padronizar a língua escrita e não para impedir manifestações linguísticas espontâneas tanto na fala como na escrita. A Gramática Normativa é decorrente da língua e não o contrário.

O último mito do preconceito linguístico aponta a gramática como instrumento de ascensão social. Contudo, nós sabemos que se isso fosse um fato, os professores de Língua Portuguesa seriam os profissionais mais bem remunerados do país.

Existem vários mitos ligados à língua que vem se perpetuando em nosso meio social, e em nosso país, tornando-se um círculo vicioso alimentado pelo ensino tradicional, a gramática tradicional, os livros didáticos, os meios de comunicação, entre outros. Devemos desmistificar o mito de que é preciso consertar a fala das pessoas para evitar que elas escrevam errado. O fato de você conhecer e usar uma única variedade linguística em detrimento de várias outras existentes não lhe dá o direito de ofender ou até desprezar as outras variedades da língua.

As gramáticas atuais apontam uma norma culta que se mostra cultuada por muitos e sem o menor estudo sociológico ou linguístico. O livro nos aponta a necessidade de uma Gramática Normativa brasileira feita com base em estudos sérios da língua usada pelas classes cultas e que serviria de base para professores e estudantes. Eles poderiam então, intuitivamente, saber as diferenças entre as variantes e a melhor forma de usar a língua e a escrita.

Há a necessidade de quebrarmos o preconceito de que uma determinada classe A, por exemplo, os moradores de comunidades, falam pior a língua do que uma outra classe B, moradores da zona sul, de classe média alta. Devemos nos questionar sobre o que é certo ou errado no curso natural da língua e nos conscientizarmos de que muitas razoes políticas, econômicas, culturais e sociais estão envolvidas e restringem certos indivíduos ao uso da chamada norma culta, que é usada como padrão para a escrita e a fala, mas não deveria ser encarada dessa forma para não excluirmos ninguém de nossa sociedade.

O trabalho de Marcos Bagno nos mostra que o ensino da língua no Brasil deveria ser reestruturado e seguir um caminho voltado para um ensino de caráter mais linguístico onde o educando é moldado para tornar-se um aluno-sujeito que consiga deslizar entre diferentes registros da língua, que respeite e entenda as variedades, que leia mensagens implícitas e reconheça o não-dito, enfim, que se torne um cidadão.

Deve-se priorizar o ensino da modalidade textual, deixando para um segundo momento aspectos relativos a gramatica da língua análise linguística deve ser precedida de uma atividade de leitura e assim podemos destacar também, recursos gramaticais utilizados pelos diversos gêneros do discurso.

A escolha de um texto do gênero epistolar possibilita ao docente a oportunidade de trabalhar aspectos linguísticos do cotidiano e compará-los a linguagem formal, tornando possível ao aluno interpretar conhecimentos da linguagem pertinentes a sua comunidade, desenvolvendo sua competência linguística em sala de aula.

Por fim, devemos buscar um olhar diferenciado para a linguagem de modo como ela está em nosso cotidiano e do modo como ela será, a fim de melhorarmos os métodos de ensino e unirmos conceitos de ontem e hoje em prol do ensino do amanhã. Cabe a escola, através do ensino e de práticas pedagógicas, aumentar o número de variantes dominadas pelo aluno e torna-lo capaz de usar de maneira eficaz a língua nas diversas situações que vier a vivenciar.

Roberto da Silva Fernandes
Enviado por Roberto da Silva Fernandes em 12/05/2013
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