Há exatos 69 anos, aconteceu o holocausto atômico de Hiroshima e Nagasaki. A vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial já estava praticamente assegurada. Faltava a rendição do Japão que ainda resistia.  Cogitou-se planejar a invasão do arquipélago nipônico em três ofensivas até completar a ocupação em março de 1946. Mas sob pretexto de apressar a rendição e, provavelmente, temendo a ocupação de parte do arquipélago japonês pelos sovieticos, o presidente americano HarryTruman autorizou o lançamento de duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Conseguiu a rendição incondicional do Japão, mas à custa de um dos mais cruéis genocídios da história.

O haicai das palavras perdidas é um comovente drama de amor vivido nos dias da destruição de Nagasaki, com desdobramentos nos anos recentes. O romance é concebido a partir de duas tramas paralelas. A primeira, uma tragédia protagonizada por duas gerações de uma família nipônica. A segunda, envolve questões contemporâneas como o uso pacífico da energia atômica, protagonizada por um assessor técnico da Organização das Nações Unidas (ONU). Recorrendo à técnica narrativa não linear, o autor, Andrés Pascual vai alternando capítulos que se reportam sucessivamente aos anos de 1945 e 2011.

Tudo começa em Nagasaki, 5 de agosto de 1945. Kazuo, adolescente órfão de etnia européia, adotado por um casal japonês, espera no alto de uma colina a sua amada, Junko, no local onde costumavam se encontrar secretamente. Em suas mãos o último dos quatro haicais que ela lhe entregara no dia anterior, como parte de um jogo que no final traria uma revelação surpreendente.

Kasuo estava impaciente com a demora. Apertava o haicai enrolado no papel e seu coração parecia explodir de emoção. De repente, ouve ronco de motores e dois aviões em voo rasante se aproximam do vale a sua frente.  Sua atenção se volta para o grande objeto que descia lentamente de paraquedas. Depois foi um clarão abrasador mais forte que a luz do sol. Um cogumelo gigante começa a espalhar horror e destruição, uma chuva negra que faz desaparecer as cores da natureza, calcificando tudo por onde passa.

O outro cenário se desenrola a partir de 24 de fevereiro de 2011, em Tóquio.  Emilian Zäch,
 urbanista suiço especialista em questões ambientais, aguarda ansioso a aprovação do seu projeto de uso pacífico da energia nuclear, com vistas a conter o efeito estufa no Planeta. Ele já estivera no Japão, em 1997, para participar das reuniões que resultaram no Protocolo de  Kioto.

Ocorre que o seu projeto foi rejeitado pelo governo japonês. Desolado,
 ele perambula pela noite de Tóquio e, nas suas andanças, se encontra com Mei numa galeria de arte. Imediatamente é seduzido pelos encantos da jovem japonesa que está empenhada em localizar uma pessoa da estima de sua avó doente, alguém que desaparecera desde a explosão da bomba de Nagasaki.

Tendo como pano de fundo essas duas histórias, O haicai das palavras perdidas, editado pela Record, em 2013, prende a atenção do leitor do começo ao fim de suas 430 páginas. Vale a pena conferir.