Era mais uma vez outra vez e mais outra vez

Veja-se numa situação assim. Você_ leitor ou leitora_ está numa biblioteca qualquer. Procura um certo livro, ainda não se definiu pelo título nem pelo autor. Porém, está certo de que quer um livro que lhe seduza. Você esquadrinha estante por estante, corre os olhos pelas lombadas dos livros, retira algum. Lê capa, contracapa, passa uma revista nas orelhas, coloca-o na mesa dos livros saídos do lugar. Não seria esse. Vai em frente. Faz o mesmo com mais outros e segue, até que encontre um lhe sinalize. “Olhe-me aqui. Sou eu mesmo que você busca. Percebe? Veja minha capa. Estou assim roto, desbotado........ Você pode suspeitar disso. Já visitei muitas casas, fui acarinhado por muitas pessoas, visitei os mais diversos quartos, salas, banheiros. Já pernoitei em muitas mesas de cabeceira de sãos ou de doentes.” Leitor de muitas vezes, você olha a data de edição do livro, repara nas marcas da ficha de empréstimo com datas bem antigas e acaba se dando conta que faz tempo que procura por este livro. Era uma vez, mais outra e mais outra... Tantas as vezes que fazem parte das histórias........ Fica radiante. Aconchega-o próximo ao peito. Quase quebra o protocolo. Então, lembra-se que tem que passar pela bibliotecária para preencher as fichas do empréstimo.

A bibliotecária _ ora bolas, trabalha no meio de livros, mas nem se liga com o que há dentro deles_ pega no gasto volume, examina as páginas amareladas com marcas de dedos nas bordas, algumas com os cantos meio esgarçados....... Nesse momento, ela olha você, leitor ou leitora, bem nos olhos e indaga: quer levar este livro velho? Há anos que ninguém o lê. Mas, tem certeza? Quer mesmo levá-lo? Veja naquela estante ali da frente, há muitos livros novos que recebemos na semana passada. Estão na lista dos mais vendidos. Que lhe passa uma porção de coisas na cabeça, isso passa. Mas você, gentil leitor ou leitora, apenas lhe diz que quer mesmo levar esse livro velho, despedaçado, lido, relido.

Entretanto, o que você não pode imaginar é que, quando tudo isso estava acontecendo, o narrador daquele livro que outrora fazia muito sucesso na biblioteca, estava todo agitado, tentando juntar os personagens que haviam sido uma vez, para que uma leitora pudesse ler a história, pois, segundo ele, leitores são a razão da existência dos livros. E como narrador ele não poderia interferir na história, podia apenas contá-la ao leitor. Com aquela bagunça toda, como a leal provável leitora poderia ler o livro? Era uma vez..... Na vez agora, o rei estava numa praia, de sandália havaiana e calção de banho, havia se cansado de ficar sem fazer nada num castelo, havia até vendido o reino. Sem o reino com seus príncipes, princesas, corte e carruagens, como o narrador poderia reaver sua história?

Pois é. Quem gosta de literatura gosta de devanear. E, quem quiser saber como o narrador juntou cenário e personagens enquanto uma leitora sabedora do que queria ler se entendia com uma bibliotecária que vivia mas não convivia com livros, pode ler o livro “Era uma vez outra vez”, de Glaucia Lewicki, que diz ter paixão por inventar histórias. Um primor de literatura classificada como infanto-juvenil, mas que encanta qualquer leitor dado a fantasia.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 30/06/2007
Código do texto: T546955