A Sociedade Global

IANNI, Octavio. A Sociedade Global – Cap. II: A sociedade civil mundial – pg. 20 – 32. 4ª Ed. Buenos Aires: Siglo XXI, 2004.

Introdução

No segundo capítulo do livro A Sociedade Global, Octavio Ianni fala do surgimento de um novo mundo. Um mundo não mais dividido em capitalismo e socialismo, mas extremamente capitalista e multipolarizado que dá surgimento a uma sociedade mundial em constante mudança, cujas esferas sociais, coletivas e individuais são atingidas pelos problemas e dilemas globais.

Segundo o autor o capitalismo surgido nesse contexto se organiza em modelos nacionais, influenciando o estilo de vida, as relações de trabalho, a cultura e sintetizando a sociedade civil no estado, para depois transpor fronteiras e obter o alcance mundial. Esta é a primeira característica identificada durante a leitura do texto e que se refere à perda gradativa da identidade cultural e dos costumes locais, das mudanças nas relações de trabalho e nas mudanças econômicas que dão surgimento a uma sociedade unificada com o mundo e seus interesses.

Fazendo-se um comparativo com a sociedade brasileira e mais especificamente com a paraense, verifica-se que ao longo de décadas vivenciamos uma constância de alterações culturais, educacionais, comportamentais, artísticas, trabalhistas e linguísticas, dentre outras. Uma substituição gradativa das características regionais por culturas, costumes, linguagens e produtos de abrangência mais universal, capazes de ultrapassar as fronteiras e fundamentadas no modelo capitalista imposto pela sociedade globalizada.

Esse capitalismo surgido no âmbito nacional e disseminado ao mundo, recria o colonialismo e o imperialismo de outrora através da formação de economias nacionais, metrópoles e sistemas que representam países dominantes, com o diferencial de que estas “colônias globalizadas” crescem e se desenvolvem paralelamente aos países dependentes, servindo-lhes de campo para expansão desse capitalismo. A sociedade até então nacional, se reestrutura em novas transformações constituídas com base na propriedade da força de trabalho e dos meios de produção.

Em seguida, verifica-se o declínio dos Estados-Nações em benefício dos centros onde se tomam as decisões, que são movidos pelos interesses do mercado internacional, dos negócios e das exigências de produção ampliada do capital. A concentração e centralização do capital adquire maior força e o que estava arraigado à sociedade local começa a desprender-se. Não significa, no entanto, o desaparecimento dessas características, elas podem ainda reaparecer, ressurgir no espaço social, porém o que predominará é a sociedade global e as características que ressurgirem serão aquelas que esta globalização permitir.

Os monopólios, moedas, fronteiras, relações de trabalho surgidos com a ampliação do modelo nacional de capitalismo seguem se desenvolvendo, porém, dão surgimento a esboços de novas formas de poder político e econômico que, além de se apresentarem separadas do estado-nação, se sobrepõem a ele. A centralização internacional do capital, também pode vir acompanhada da desestruturação do poder dos estados nacionais, que se debilitam pela perda de suas prerrogativas políticas, econômicas, culturais e sociais, e pela aparição de um novo poder estatal federal onde se identifica a marcante presença de empresas multinacionais. Estas empresas terminam assimilando tudo o que era reconhecidamente pertencente ao nacional e lhe dão “roupagem” global, passando não apenas a produzir e atuar, mas a tomar decisões e influenciar.

O enfraquecimento do estado-nação transmite a idéia de que o estado não é mais capaz de responsabilizar-se por bens essenciais, como a educação, serviços públicos, saúde, que acabam passando para as mãos de empresas privadas. Fatos como este são facilmente identificados através de diversos processos de privatização ocorridos no Brasil nas últimas décadas, assim como também se vislumbra esta prática em relação à Amazônia, quando órgãos e organizações internacionais tentaram confirma-la como patrimônio da humanidade, que deveria ser “vigiado” e “cuidado” por todos os países do mundo, em nome do bem estar mundial.

Da mesma forma se dão os processos “civilizatórios” impostos às comunidades ditas inferiores, menos desenvolvidas, agrícolas. Um processo de aculturação e dominação que se mascara na proposta de um desenvolvimento opressor. A obtenção de benefícios econômicos passa a estar vinculada à permissão dessa invasão e, desta forma, o processo se legaliza.

Assim, as grandes nações detentoras do poder econômico mundial, se inserem e integram às pequenas nações através das instâncias políticas e sociais, modificando suas estruturas e enfraquecendo o poder do estado, mas organizadas mediante seus proprios interesses.

É possível identificar-se ainda modelos de capitalismo fundamentados no populismo, onde se objetivava o poder econômico e político, o controle do capital, mas em âmbito nacional. Apesar de terem produzido e alcançado um desenvolvimento nacional significativo, estes modelos fracassaram pelas adversidades impostas à população.

O que se pode concluir, certamente, é a noção de que mesmo tentando implantar-se outros modelos que garantam maior soberania e autonomia ao estado-nação, estes só poderão ser propostos e realizados a partir da plataforma estabelecida por uma economia política de âmbito mundial.

A invasão gerada pela sociedade global nos chega pelos meios de comunicação, pela imposição política, econômica, cultural e educacional. Pela sobreposição dos interesses mercantis aos interesses humanos. A qualidade de vida passa a ser medida pelo poder de compra dos indivíduos de uma sociedade e não pela longevidade garantida através do atendimento de suas necessidades vitais. Somos invadidos constantemente, perdemos nossa identidade original e terminamos nos convencendo que caminhamos para uma melhoria de vida que, no fundo, paira longe de nossos objetivos enquanto nação.

Gaby Faval
Enviado por Gaby Faval em 29/09/2016
Código do texto: T5776125
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.