RESENHA: “A noção de obstáculo epistemológico”

BACHELARD, Gaston. A noção de obstáculo epistemológico (p. 17-28). In: ______. A formação do espírito científico. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. (316 p.).

De origem humilde, Gaston Bachelard (*27 de julho de 1884, Bar-Sur-Aube, França; +16 de outubro de 1962, Paris, França). Formou-se tarde, tornou-se professor de Física em sua cidade natal. De 1930 em diante, ensinou na Universidade de Dijon. Publicou, dois anos antes, seu primeiro livro, Ensaio sobre o conhecimento aproximado. A partir de 1940, Bachelard lecionou na Sorbonne, de onde só se afastou em 1954. Ingressou na Academia das Ciências Morais e Políticas em 1955, e recebeu, em 1961 o Prêmio Nacional de Letras “Um dos filósofos de maior influência no mundo contemporâneo”. Bachelard tem como principais obras “O novo espírito científico (1934)”, “A psicanálise do fogo (1937)”, “A formação do espírito científico (1938)”, “Poética do espaço (1957)”, e “Poética do devaneio (1960)”.

O texto resenhado é estruturado em três partes para melhor questionar o conhecimento científico bem como os obstáculos epistemológicos.

No texto em estudo, os atos impeditivos a formação do espírito científico ocorrem em termos de obstáculos, ou seja, atos que provocam a estagnação e regressão no processo de evolução da ciência e de apropriação do próprio conhecimento. E não se trata de considerar obstáculos externos, mas é no âmago do próprio ato de conhecer que aparecem, por uma espécie de imperativo funcional, lentidões e conflitos.

No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. Aquilo que cremos saber ofusca o que deveríamos saber, os obstáculos podem ser compreendidos como resíduos de conceitos anteriores, que impedem mudanças de antigos conceitos importantes em um passado para novos conhecimentos. Assim, acender a ciência, é rejuvenescer espiritualmente, é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado.

O espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular com clareza. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Um obstáculo epistemológico se incrusta no conhecimento não questionado.

É preciso perceber que o conhecimento empírico, envolve o homem sensível por todas as expressões de sua sensibilidade, quando o conhecimento empírico se racionaliza nunca se pode garantir que valores sensíveis primitivos não interfiram nos argumentos. Só a razão dinamiza a pesquisa, porque é a única que sugere, para além da experiência comum, a experiência científica. Portanto, é o esforço de racionalidade e de construção que deve reter a atenção do epistemólogo. Um fato mal interpretado por uma época permanece, para o epistemólogo, é um obstáculo, um contra-pensamento.

Assim como a atividade científica, a atividade educativa é cheia de obstáculos. Os professores não se submetem a psicologia do erro, não admitem que seus alunos não aprendam dentro do método didático que cada um aplica. O primeiro grande ato falho destes professores é pensar que o aluno entra vazio de conhecimentos em sala de aula. Os mesmos carregam consigo uma carga de conhecimentos que acumularam durante sua vida extraclasse.

De maneira mais precisa, detectar os obstáculos epistemológicos é um passo para fundamentar os rudimentos da psicanálise da razão. A primeira experiência ou, para ser mais exata, a observação primeira é sempre um obstáculo inicial para a cultura científica. O pensamento empírico assume, portanto, um sistema, mas o primeiro sistema é falso. Quando tivermos assim delimitado nosso problema através do exame do espírito concreto e do espírito sistemático, chegaremos a obstáculos mais particulares. Nosso plano será, forçosamente flutuante e não isento de repetições, porque é próprio do obstáculo epistemológico ser confuso e polimorfo.

Em resumo, o homem movido pelo espírito científico deseja saber, mas para, imediatamente, melhor questionar. Assim, o conhecimento científico só pode se desenvolver quando supera obstáculos. A experiência primeira e a generalização apressada são dois obstáculos, entre outros, a serem superados tanto nos processos estritamente científicos, quanto naqueles que envolvam ensino-aprendizagem.

Gaston Bachelard, filósofo e poeta francês, nascido em 1884 e falecido em 1962, em sua obra “A Formação do Espírito Científico”, apresenta uma ideia sobre a processualidade do conhecimento científico, especialmente sobre obstáculos epistemológicos. E para tal utiliza conceitos da alquimia, da química e da física dos séculos XVII e XVIII.

Bachelard é original em seu texto, mas não demonstra objetividade, porque discuti a questão do conhecimento científico de maneira cansativa e sem clareza de modo proposital para testar a resistência do leitor e forçar a acompanhá-lo. O autor mostra-se idealista e contrapõe-se ao positivismo.

Para construir esse texto provocador o autor utiliza o método maiêutica com a finalidade de levar o leitor a duvidar do ser próprio conhecimento e a ter certas dúvidas a respeito de assuntos que ele já sabe. E a partir de então o leitor eliminar o seu conhecimento empírico e aderir a ideias novas.

O espírito científico, segundo o autor, se constitui enquanto questiona os erros, supera os obstáculos e se especializa cada vez mais. Desta forma, o verdadeiro espírito científico é aquele que se opõe, questiona e pergunta. Todo novo conhecimento é uma resposta para uma pergunta.

O empirismo deve instigar a busca de novas informações, levantar questionamentos e despertar a procura da verdade, e não produzir uma adesão imediata às primeiras concepções levantadas.

Devido à análise articulada que faz sobre as teorias científicas considerando as tanto do ponto de vista da sua produção, como o da sua disseminação, o conceito de obstáculo epistemológico é por Bachelard empregado para uma interpretação tanto do desenvolvimento científico como da prática educativa.

O não reconhecimento, pelos professores, de que há também obstáculos pedagógicos para a formação do pensamento científico do estudante é criticado por Bachelard. A sua prática de educador parece tê-lo convencido, talvez mais do que a outros, de que os obstáculos não podem ser negados na tarefa educacional.

Bachelard nos permite compreender que a experiência científica é possível, enquanto experiência que impugna a experiência comum.

Portanto, esse texto caracteriza-se mais propriamente como um subsídio para os professores e alunos e para pessoas que desejam compreender sobre a formação do pensamento científico.

Kétsia Ferreira
Enviado por Kétsia Ferreira em 29/12/2017
Reeditado em 29/12/2017
Código do texto: T6211901
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.