Adultério

COELHO, Paulo. Adultério. Sextante, 2014.

Tédio, monotonia, depressão. Ingredientes perfeitos para justificar uma traição no casamento?

Uma família perfeita e um emprego estável deixariam qualquer pessoa feliz. Apesar dos dois filhos e o marido bem-sucedido proporcionar tranquilidade e conforto, Linda é pura melancolia. Além de não ter um trabalho desafiador para avivar o cotidiano, o que falta a jornalista são as cores de uma paixão.

É o reencontro com um ex-affair da adolescência, o político renomado Jacob König, que reativa a possibilidade dela encarar a vida de outra maneira. O exagero do que acontece nesse primeiro encontro é tolerável pela sequência de reencontros e questionamentos que ambos se fazem.

Linda se inspira no relacionamento dele com a esposa. Como ela soube lidar com o que poderia ser um potencial escândalo de traição faz ela se abrir com o próprio marido. E é ele quem revela a essência do que está acontecendo não só com ela, mas com o casamento e também com ele próprio.

A mulher do amante passa a ser o objeto de desejo para o triunfo na competição iniciada pela algoz. E não é apenas vencer uma disputa, mas destruir completamente o oponente na arena da vida.

A esposa de Jacob faz questão de criticar o ciúmes e é permissiva com o marido tentando demonstrar uma pretensa segurança. Ela participa do jogo e apresenta uma tática sempre de acordo com cada novo adversário. É no erro da rival que ela acaba alcançando a vitória.

O impasse na relação extraconjugal faz Linda desviar o foco para a concorrente, que a havia esnobado. O conflito interior a levou a três psicanalistas e a um xamã.

Esse romance de Paulo Coelho excede a análise psicológica dos personagens para tentar encaixar questões esotéricas em situações meramente instintivas.

Essa linha do autor, razão do sucesso mundial que alcançou, extrapolou uma história que poderia ter dado certo não fosse a necessidade de impor ao leitor o que ele se sente obrigado a transmitir como mensagem.

A personagem também não parece uma suíça autêntica. Apesar de trabalhar com informação, a jornalista dá explicações excessivamente detalhadas de como é a terra em que vive. Parece mais uma correspondente internacional escrevendo para os estrangeiros do que simplesmente alguém que tenta descrever como se vive onde nasceu. Paulo Coelho mora na Suíça e o disfarce das opiniões dele sobre países não desenvolvidos como o Brasil não funcionou na narrativa.

O lado esotérico da obra também não funcionou como, por exemplo, em O Demônio e a Srta. Prym, a primeira obra dele a qual me detive. Apesar das críticas sobre a autenticidade e superficialidade do autor, superei qualquer tipo de preconceito e alcancei o meu objetivo que foi se entreter com aquele livro.

O meio termo em Adultério deixou um vácuo em ambos os caminhos que poderia ter seguido e falhou por falta de fôlego. Tem partes que poderiam render desfechos mais emocionantes e acabam sendo abreviados dando a impressão de que falta algo. Pelo menos para mim. Para os esotéricos talvez valha à pena tentar arriscar a leitura desse livro.