Dias Perfeitos

MONTES, Raphael. Dias Perfeitos. Companhia das Letras, 2014.

Téo é vidrado em Gertrudes. O estudante de medicina admira a única amiga que ele tem na faculdade. É na aula de anatomia que ele fica mais próximo dela, alguém que se tornou muito especial.

Téo perdeu o pai em um acidente de carro, que, além de deixar a mãe em uma cadeira de rodas por toda a vida, também pode ter cometido suicídio.

A vida de Téo é cheia de percalços e desinteressante, exceto pelos dias em que manipula o cadáver de Gertrudes e até o dia em que conhece Clarice em um churrasco. A garota vai até ele, apresentou-se, puxou assunto e se despediu com um beijinho na boca. O jeito descolado dela, o oposto dele, o atrai.

Da mesma maneira que ele disseca o defunto na aula do curso de Medicina, ele tenta entender a mente de Clarice. A partir de então começa a saga para conquistar o amor da vida dele. Ela por sua vez namora outro rapaz e dá beijos ardentes em uma amiga. Téo vê tudo e procura conhecer toda a vida da amada.

Clarice é uma aspirante a roteirista e um dos trabalhos dela passa a ser o cenário da relação entre eles. Um hotel em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande são o pano de fundo do roteiro.

O livro é cheio de reviravoltas. Quando Téo está no controle entramos na mente de um obcecado. Quando é Clarice, conseguimos vivenciar o desespero de quem está cativa a ponto de se submeter com prazer ao algoz. A intromissão do namorado e da mãe dela só reforçam essas variáveis possíveis onde tudo pode acontecer e só ajudam ao leitor a não querer mais parar de ler.

Depois de Suicidas, o livro que lançou Montes como uma revelação do gênero. O segundo livro dele é um thriller instigante pelas inconsistências dos personagens, às vezes tão descontínuos ao ponto de se desejar mais descrições onde o autor as abrevia para privilegiar a narrativa. A ação prevalece mais do que a análise psicológica dos personagens. É através das atitudes e posição no relacionamento intenso entre eles que se compreende como pensam ou, pelo menos, se tenta compreender até o final da história.