O CRIME DO PADRE AMARO DE EÇA DE QUEIRÓS

QUEIRÓS, Eça de. O Crime do Padre Amaro. 12 º Edição. São Paulo: Ática, 1998.

José Maria de Eça de Queirós, nascido em póvoa do Varzim, Eça de Queiros formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Produziu obras como Prosas Bárbaras (1905) fez parte do grupo Cenáculo (1869) e foi um dos membros responsáveis pelas conferencias do Cassino Lisbonense (1871). Em Leiria, onde se preparava para a carreira diplomática, escreveu a o livro O Crime do Padre Amaro, a obra que inaugura oficialmente o Realismo- Naturalismo em Portugal.

Influente decisivo para a implantação do realismo em Portugal, formado em advocacia, escrevia para jornais. Em 1872, ingressa no corpo diplomático, passando a trabalhar como cônsul fora de Portugal, primeiro serve em Havana, Cuba, depois Inglaterra e finalmente em Paris, onde chega a falecer, com 55 anos de idade em 1900.

O livro O crime do Padre Amaro, publicado em 1875, narra a morte do pároco José Miguéis, fato esse que permitiu a transferência para Leiria de um padre jovem chamado Amaro Vieira. O próprio era aconselhado pelo cônego Dias, seu mestre de moral no seminário, onde se instalou na casa da D. Joaneira. Sendo que a noite na casa havia encontros entre beatos e o clero, marcados por jantares, músicas, conversas, jogos e discussões sobre fé. Nesse momento o padre Amaro encanta-se por Amélia, uma jovem muito bonita de 23 anos, passando a trocar olhares, despertando o ciúme de João Eduardo, noivo da moça.

É narrado na historia que Amaro ingressou no seminário aos 15 anos, por obediência a sua tia que lhe criara com os preceitos cristãos, mesmo sendo quenão era esse o seu desejo, ele desejava mesmo era estar com uma mulher, chegando até associar a imagem de Nossa Senhora a uma, sentindo desejo por ela. Sendo assim, não por vocação e mais por comodismo, Amaro tornara-se padre, sendo evidente que ele não possuía vocação nenhuma para ser. Em Leiria, rezava missas por costume, mas seu pensamento e sua ocupação era Amélia.

O fato é que Amaro toma suas decisões por influencia do meio onde vive, por fatores biológicos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimentos, mostrado quando ele mesmo sem querer vai para o seminário, devido o meio social em que sua tia estava, influenciando em suas decisões.

É descrito no livro que com a chegada deAmaro em Leiria, há a descrição que “Amaro era, como diziam os criados, um "mosquinha morta". Nunca brincava, nunca pulava ao sol.” (página 23), mostra – sevários aspectos de seu caráter, como: sua sensualidade, seu medo e sua indolência, aspectos que vão explicar suas ações, geralmente negativas, no meio beato de Leiria.

Ele é visto através de duas perspectivas distintas mas que se sintetizam no romance: a perspectiva psicológica, íntima e a perspectiva social. Na primeira, situa-se o drama íntimo de Amaro, que sofria terrivelmente com o fato de, sendo padre, não poder casar-se com Amélia. Contudo, o medo e a fraqueza vão pesar decididamente nas ideias de Amaro, que vai chegar ao auge de levar seu filho à tecedora de anjos, provocando-lhe a morte. Do mesmo modo, que não se mostra nenhum remorso, nem o mínimo problema de consciência, quando Amélia vem a falecer.

No paragrafo acima é descrito o que se passava no interior do Padre Amaro e o que ele realmente fazia, sendo característica do Realismo, a investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita de dentro para fora, isto é, por meio de uma analise psicológica capaz de abranger toda a sua complexidade, utilizando dentre outros recursos a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.

Posteriormente, o primeiro contato físico entre o casal aconteceu numa fazenda da família; Amaro beijou o pescoço de Amélia, e ela saiu correndo. Amaro, com receio de se envolver mais intimamente e todos descobrirem, resolveu se mudar para outra casa, na rua das Sousas, em que é descrito na narrativa o tédio de Amaro em sua nova moradia, podendo afirmar que, mesmo uma ação tão pouco significativa para o conjunto da obra, mas quereflete intervalos de tempo.

Passando a visitar a casa de D. Joaneira, fica enciumado pelas visitas de padre Amaro, o então noivo de Amélia que escreveu o comunicado “Os modernos fariseus”, onde fez várias acusações contra os padres, inclusive mencionou que o padre Amaro estaria se envolvendo com uma “donzela inexperiente”. Após isso, o pároco aconselhou que Amélia desfizesse seu noivado, pois João Eduardo não seria digno dela. João Eduardo fica sem emprego e, revoltado, dá um soco no jovem padre.

Amaro voltando a frequentar as reuniões na casa de D. Joaneirase aproxima de Amélia, sem os olhos enciumados de João Eduardo. Numa oportunidade, voltando de uma visita à casa do cônego que estava doente, os dois param na casa do padre e tem ali sua primeira noite de amor. Dionísia, criada, aconselha ao padre a se encontrar com a jovem na casa do sineiro, onde seria mais discreto. Para o sineiro Tio Esguelhas, Amaro disse que Amélia queria se tornar freira e que ele iria ajuda-la nessa missão. Para a família, Amélia iria ajudar a Totó nas lições religiosas e então os dois passam a se encontrar várias vezes na semana.

Amélia Caminha começa a sentir-se culpada, mas não recusa o padre, acaba ficando grávida, filha órfã de pai, atraída pelo ritual católico, com 23 anos era alta, forte muito desejada em Leiria, que acaba por se apaixonar pelo então Padre Amaro, entregando – se por total submissão. Aconselhado pelo cônego, a primeira saída seria casa-la com João Eduardo. Este, porém, tinha vindo para o Brasil. A alternativa é então mandar Amélia junto a D. Josefa, que estava doente, ao interior até chegar a hora do parto. Quando a hora chegou, Amaro entregou a criança a uma família que tem a fama de matar as crianças que lhe são entregues. E a criança realmente morre. Amélia não suporta ficar longe do filho, acaba também por morrer. Padre Amaro, sem saber o que fazer e tentando fugir dos acontecimentos, muda-se da cidade. Depois de algum tempo, encontra-se casualmente com o cônego Dias e afirma que “tudo passa”.

O ato de Amaro abandonar a amante e o filho, pode – se dar pelo abandono do mesmo quando criança, pois era filho de dois criados do marquês de Alegros, perdendo os pais, fica órfã e é educado no meio da criadagem da Marquesa, ela por si decide que ele se torna padre. Assim, visto pelo âmbito da psicologia, seu caráter teria sido molda durante a infância, que pelo visto foi conturbada e sem base familiar.

Se auto analisamos a obra, é notável que há períodos de tempos na vida do Padre Amaro, como a infância na casa da Marquesa, o início da adolescência na casa dos tios, a adolescência no seminário, a primeira paróquia em Leirão, a paróquia em Leiria, a paróquia em Santo Tirso. Como também é trabalhado a sexualidade dos homens em que se dedicam sua vida ao sacerdócio, a castidade é o voto que é exigido somente pelo catolicismo romano.

Eça denuncia a hipocrisia burguesa religiosa que ocorria na época, a partir de uma análise minuciosa, social e psicológica, de suas personagens, principalmente de Amaro. Em sua obra diz aquilo que era proibido, o que não podia ser dito, assim denunciando uma sociedade que estava em crise e desvela o silêncio próprio da época para inaugurar uma discussão que até hoje se faz pertinente, o celibato e as suas implicações na vida do sujeito, pode se acreditar que a corrupção que envolve o clero e o rompimento velado com o celibato em Portugal estava sendo criticada.

O próprio critica a igreja católica evidentemente, é a obra em que introduz em Portugal o realismo-naturalismo, no seu trabalho faz uma crítica à instituição da Igreja Católica no que diz respeito ao pseudomoralismo, ou seja, o falso moral existente na época. Denunciando a maneira como os padres vivenciavam o celibato, a partir do caso de Amaro e Amélia, no interior de Portugal.

Sendo que o ambiente em que vivia Amaro não o ajuda muito na sua definição de caráter, por estar carregado de certo pseudomoralismo, pois por um lado, a lei canônica, que proíbe os sacerdotes a manterem qualquer tipo de relação, amorosa, sexual e por outro lado, os padres que possuem comportamentos que divergem da regra; confundindo ele, que aos poucos vai percebendo essas relações contraditórias entre as normas religiosas e os comportamentos dos padres, que mantêm relacionamentos às escondidas com mulheres da vila onde mora.

O fato é que a sexualidade se aflora mais em Amaro, ele pensava e sonhava com mulheres o tempo inteiro e alucinava com a possibilidade de estar em pleno contato com as mulheres. O desejo da carne se intensificava, e ao mesmo tempo já começa a ocupar grande espaço em sua vida a mascara social de ser padre. Vivia em constante conflito com as leis clericais e a preocupação com a maneira como a figura feminina era interpretada pelos padres mais velhos, sua sexualidade estava sempre em jogo, uma vez que não lhe caberia viver suas paixões e seus desejos dentro de uma instituição fechada como a Igreja Católica.

Assim o Realismo se manifesta na obra, quando o autor substitui o subjetivismo romântico pela descrição da realidade externa, através do relacionamento amoroso de Amaro e Amélia, transcrevendo o que realmente acontecia, já que o Padre conquistou a moça, a ponto de iludi- lá totalmente, influenciando para que ela terminasse o relacionamento dela com o então João Eduardo. O romance realista tem por característica retratar a realidade como ela é, por mais desagradável que seja evidenciando a relação entre o individuo e a sociedade.

O Naturalismo por si considera que a vida do ser humano é marcadopor fatores externos como o ambiente familiar, a classe social em que está inserido, como era de muitos párocos da época descrito na obra de Eça de Queiros, perante

a sociedade eram homens cultos, sérios e que seguiam rigorosamente a ordem religiosa, porem ao oculto quebravam o voto de santidade, tendo casos amorosos e sexuais com mulheres de Leiria.

O autor Eça de Queiros, acaba por desperta um dos temas mais polêmicos da época do século XIX, o celibato dos padres, ele desdobra em seu livro a hipocrisia da sociedade religiosa, mostrando aos leitores como era o cenário social em que havia o domínio de um clero corrupto. Diante de tal narração feita por Eça, o seu intuito não é somente narrar o romance de uma ingênua jovem, que é seduzida por um Padre escrupuloso, mais encontrar as causas da decadência do clero em Portugal.

O mesmo promove toda uma analisem de vários componentes de um sistema social decadente, que estão incluídosos burgueses, os aristocratas decadentes, os políticos e os sacerdotes, para tentar provar que os indivíduos não passam de vítimas de um sistema social perverso. É ressaltado, na biografia de Eça que ele estava morando em Leiria, se preparando para a sua carreira diplomática, onde escreveu essa obra, poderíamos deduzir que o próprio estaria trazendo fatos reais na sua produção.

Senhorita Alencar
Enviado por Senhorita Alencar em 03/04/2018
Código do texto: T6298577
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