Ilusões Perdidas

Ilusões Perdidas, de Honoré Balzac.

‘Ilusões Perdidas’, de Honoré Balzac é um livro que retrata as desilusões dos personagens ao longo de suas vidas. Inicia-se com a chegada de David Séchard a Angoulême. Ele volta após anos de estudo em Paris. Seu pai é dono de uma tipografia e, logo no dia de sua chegada, entrega-lhe tudo. É um homem avarento que não dá um ‘vintém’ ao filho, mesmo vendo-o em apuros. David se casa com Eva Chardon, irmã de Luciano, protagonista da história.

Luciano é um jovem mimado por sua mãe e pela irmã. Foi sempre dado a ele a realeza de um rei. Ele se muda para Paris, encantado pelas palavras sedutoras de sua protetora, a Sra. Bargeton. Na capital francesa, ela o larga por pressão da alta sociedade. Luciano, por sua vez, ingressa no jornalismo pelos caminhos mais anti-éticos possíveis. Trai seus amigos, que vivem igualmente os conceitos éticos. Ataca as autoridades em busca de saciar suas vaidades. Aliás, em toda a sua vida, viveu para satisfazê-las.

Álvaro Valls fala que a ética se desenvolve, principalmente, com a preocupação com a autonomia moral do indivíduo. Este indivíduo procura agir de acordo com a razão natural. No entanto, em Luciano de Rumbempré – o nome nobre que gostaria de conquistar – o que se percebe é que desde sua infância viveu em um ambiente que não lhe mostrou a dialética da vida. Teve sempre o que quis e sua família alimentou-lhe a ilusão de recobraria, de novo, o nome título que pertencia à família de sua mãe.

O jovem Rumpembré se manteve em Paris às custas de seu cunhado, que assinava promissóras para mantê-lo na luxúria da nobreza. Luciano não se inquietava em pensar no sacrifício que seu cunhado, irmã e mãe estavam tendo para torná-lo nobre. Todas as chances que teve para se tornar um grande poeta e jornalista, desperdiçou por sua cobiça. Não queria pouca coisa. Queria ser o primeiro. Ter o mais importante prestígio mesmo que para isso, tivesse que trair seus companheiros, seus amigos e sua família.

O protagonista de Balzac não fazia jus à ética. Enveredou rapidamente pelos caminhos anti-éticos que lhe eram apresentados. Como? Talvez porque isso já fosse uma constante em sua vida. A meu ver, a ética é o ingrediente de toda reportagem, entrevista e vida jornalística. Enfim, de toda a vida humana. Sem ela é impossível fazer um bom trabalho, levando a sério a profissão e os leitores, radio-ouvintes e telespectadores. O compromisso é contínuo e exige estudo, coragem, humildade e força de vontade.

Também, no ‘Caso Escola Base: os abusos da imprensa’, de Alex Ribeiro, pode-se constatar que quando um trabalho não é feito com ética, ele é sempre uma amostragem da irresponsabilidade. Assim, mesmo que Luciano quisesse voltar atrás e concertar todas as burradas que fez, certamente não conseguiria porque o mal causado e cravado no interior das pessoas amadas, estava muito doloroso. Mais uma vez, confirma-se o provérbio popular: “Aquele que levanta falso testemunho, é semelhante a alguém que solta as penas de uma galinha de um prédio. Mesmo que queira, nunca mais recolherá todas as penas.”

A ética é imprescindível na vida das pessoas. Somente através dela, é possível viver bem na sociedade. Se cada pessoa seguisse sua consciência sem pensar no bem comum, aconteceria o caos. Será que estamos na Era da Manipulação? Será que Wilson Bryan Key, ao escrever seu livro sobre a propaganda subliminar ‘a era da manipulação’, pensava em todos os males construídos em cima da mentira? Ao escrever a obra citada Bryan procurava alertar os consumidores para a existência de propagandas subliminares que manipulam o inconsciente pessoal e coletivo de uma sociedade. Traz à tona o abuso que a pessoa humana sofre manipulado por seus semelhantes através evocação de tabus escondidos em cada cérebro humano. Idéias referentes a sexo e à vida-morte são trabalhados criativamente por publicitários, os quais promovem grandes fortunas, aos empresários, pelos enxertos de palavras, luz-sombra, desenhos, silhuetas, sons e gestos. Até alguns papéis são enxertados com palavras ou símbolos subliminares. Isso também é sério. É proibido mas existem pessoas que as utilizam. Como fica a ética nesse caso?

Também, o jornalismo trabalha subliminarmente visando interesses comerciais e corporativos. Essa técnica afeta as funções fisiológicas, modifica comportamentos verbais e ideológicos e causa doenças psicossomáticas. Mas o que tem isso a ver com Luciano de Rumbrepré? Se existem fatores claros de ‘enganação’ na sociedade; se as pessoas podem ser manipuladas e também manipular, o código de ética não está sendo respeitado.

Mas o Código de ética não foi feito apenas para jornalistas. É claro que estes têm uma responsabilidade social maior. Uma vez que divulgam, denunciam ou esclarecem algo, colocam, imediatamente, a vida das pessoas na ‘praça’. Para Kant, os conteúdos éticos é o que cada um tem. É a forma do dever. O agir moralmente significa agir de acordo com a própria consciência. Falar de ética significa falar de liberdade.

Ora, se as pessoas são livres, elas podem fazer o que bem quiser. Errado! A liberdade é diferente de libertinagem. A liberdade é um direito que todos têm. Se todos o têm, então, é preciso que se respeite algumas regras para que o convívio social seja proveitoso para todos. Ou seja, a liberdade exige responsabilidade pessoal e individual. A ética, então, é um valor cultural. É a somatória de todos os valores passados ao longo da história. A ética e a moral – tudo que é aceito pelo coletivo – nos dão as regras dos costumes, como diz o Joaquim Wesley Martins (professor de ética – COS-UFMT). Isso significa que a pessoa é livre, na medida em que tem capacidade para fazer ou não fazer, o que se quer.

Também as religiões, através dos séculos, muito contribuíram com o entendimento da ética, em seu sentido cultural e religioso. Os protestantes valorizam mais eticamente o trabalho e a riqueza enquanto, os católicos dão mais valor à abnegação, ao espírito de pobreza e de sacrifício. Essas duas maneiras de pensar, encontra-se no romance ‘Ilusões Perdidas’. Alguns dos personagens a viveram, de maneira carismática essas tendências. Embora, não tenham demonstrado, claramente, isso no texto.