É possível viver sem ser manipulado?!

A Era da Manipulação

A Era da Manipulação, de Wilson Bryan Key, é um trabalho precioso que ele vem desenvolvendo, desde a década de 70, em academia universitária norte-americana. A partir de então, procura alertar os consumidores para a existência de propagandas subliminares que manipulam o inconsciente pessoal e coletivo de uma sociedade. Já nas primeiras páginas, o leitor pode constatar que não será o mesmo, após a leitura completa da obra.

Key organiza sua obra em duas partes. Intitula-as: “Tecnologia da mídia subliminar: subjugando mentes em busca de poder e lucro” e “Linguagem e cultura: as ferramentas da doutrinação”, respectivamente. Mescla as duas, com ilustrações comentadas, de propagandas veiculadas na mídia impressa e eletrônica.

Na primeira parte, traz à tona o abuso que a pessoa humana sofre manipulados por seus semelhantes através das propagandas subliminares que evocam tabus escondidos em cada cérebro humano. Idéias referentes a sexo e à vida-morte são trabalhados criativamente por publicitários, os quais promovem grandes fortunas, aos empresários, pelos enxertos de palavras, luz-sombra, desenhos, silhuetas, sons e gestos. Até alguns papéis são enxertados com palavras ou símbolos subliminares.

Também, o jornalismo trabalha subliminalmente visando interesses comerciais e corporativos. Fazendo o leitor constatar esse tipo de atividade, faz comparação desse tipo de propaganda e suas conseqüências com a descoberta de armas nucleares. Deslanchando os efeitos, apresenta dados científicos que envolvem a memória e a percepção das coisas.

Daí, essa publicidade ser considerada altamente manipuladora. Ela afeta as funções fisiológicas, modifica comportamentos verbais e ideológicos e causa doenças psicossomáticas. Dentro do cérebro, efetua-se um processo de defesas perceptivas de informações no inconsciente através da repressão, isolamento, quantificação, regressão, formação de fantasias, sublimação, negação, projeção e introjeção.

Continua na parte dois, comentando os artifícios da indústria publicitária para atingir seus objetivos manipulatórios e lucrativos. A publicidade não tem por objetivo vender o produto mas criar condições para que a pessoa o queira muito. Efetua-se dessa forma, a doutrinação subliminar nos consumidores e os mais vulneráveis a ela, são aqueles que não aceitam a possibilidade de serem dominados pela mídia. É preciso perceber as mensagens midiáticas em seus níveis macro, micro e submicro para que se possa entender o que está por traz de cada anúncio, desenho, foto e símbolo apresentado; fazer comparações de símbolos com as palavras que o acompanham.

Fala sobre a lógica do pensamento desde Aristóteles como um potência lingüística. Comentando a dificuldade que as pessoas têm de distinguir a fantasia do real, olhando uma figura fotografada ou desenhada e enxertada. Na linguagem, a construção de arquétipos aparecem como elementos comuns a várias culturas, porém com significação própria em cada uma delas; alguns arquétipos são exatamente iguais em várias culturas. Desse contexto, emana desde os primórdios a elaboração de mitos em torno de símbolos, palavras e coisas; bem como a predição do futuro, como se alguém o dominasse. Apesar de aconselhar a ter expectativas positivas diante da vida e das situações, cultivando a própria auto-estima.

Encerram seu discurso, apresentando oito pontos para diminuir a vulnerabilidade humana à manipulação midiática: relaxar, protelar, perceber, descontextualizar, molecularizar, simbolizar, buscar as motivações e avaliar.

Constatei no início e ao final da leitura da obra: “o leitor que lê esse livro não será mais o mesmo.” Somente percebendo a sutileza dos anúncios publicitários, é que o leitor-consumidor será capaz de que precisa ser auto-crítico para perceber o quanto é manipulado pela mídia. Ao meu ver, o autor traz com muita desenvoltura o assunto de maneira simples, eficaz e concreta; sua obra é profunda mas não entediante ou complexa, apesar de falar de teórias lingüísticas, psicológicas e filosóficas.

Aconselho a leitura da obra para educadores, principalmente, mas para todos os que queiram compreender os processos midiáticos que acontecem na aldeia global – de Marshall Macluchan – em pleno século XX. Mudei e gostaria que outras pessoas mudassem sua maneira de ver o mundo, após a leitura pormenorizada do livro, mas especialmente dos símbolos apresentados na mídia impressa e eletrônica.