Sala das Armas

PIÑON, Nélida. Sala das Armas. Grupo Aché, 1973.

A enormidade de tarefas do dia-a-dia angustia qualquer leitor voraz que não encontra tempo para uma boa leitura diária. Um livro de contos sempre é um refrigério para o apaixonado por literatura. E nada melhor do que se deleitar com a acadêmica Nélida Piñon em Sala das Armas.

Cada fragmento da obra preenche na medida certa a carência que nos é imposta pelas obrigações cotidianas. “Ave do Paraíso” é um conto suave que detalha o romance e o sentimento entre dois amantes que procuram superar o pouco tempo juntos e a distância que os separa.

“Fronteira Natural” também é de uma leveza inspiradora. Enquanto “Adamastor” e “Os Mistérios de Eleusis” são instigantes e as nuances de uma aparente relação de amizade é de extrema sensibilidade.

O “Cortejo do divino” foi o meu favorito. Uma história de sacrifício pelo amor, de inveja, cobiça e menosprezo ao outro. É um conto apaixonante.

A atualidade de “Oriente Próximo” e o angustiante e épico conto que dá nome ao livro dão continuidade a sequência de textos singulares.

“Ilustração da Graça” é descontraído. “Sangue Esclarecido” é arrebatador e “A colheita” é reflexivo. Luz é uma obra de arte na forma e conteúdo.

“Torre de Roccarosa” é uma espécie de epílogo que enaltece a solidão da palavra, a rusticidade da poesia, na forma mais simples como pode ser um sorriso.

São contos precisos, embora densos. Nélida Piñon é alta literatura. Os contos formam um conjunto que tem a harmonia da bela arte.