Quase um segundo, livro de crônicas de Ana Paula Nahas Uma mulher que traz vozes por sua pena de escriba e faz uma prosa singular é bem recebida em qualquer sala de estar, sentada em poltrona provando o café que faz com competência. Café move montanhas desde as coisas simples da vida com que Ana Paula Nahas nos traz sabores caseiros desde o alpiste oferecido ao passarinho no parapeito da janela capaz de arrancar canto de pardais, esses pássaros tão sábios quanto qualquer coruja, tão sem talentos que sempre são deixados livres e ao léu, pardais que voltavam para a terra quanto os navios se distanciavam da imensa linha de costa do Brasil, rumo ao norte levando pracinhas da força expedicionária brasileira ao Teatro de Operações de Guerra da Itália, em longo week end à brasileira desde o desembarque da Tropa no porto de Nápoles, viagem descrita com maestria por Rubem Braga em suas crônicas de guerra até o Week end à francesa, talvez em Pedra Azul, em suas irrealidades na tal sala de estar Ana Paula Nahas sem que talvez, ao menos até agora, nem ela saiba que bebeu um café com Rubem Braga e Julio Cortazar, pondo aos olhos do leitor acurado das suas crônicas um estranhamento doce face ao seu afetuoso texto, tão prenhe de amor que acabar o livro é sempre um parto precoce para a gestação de um pensamento crítico de seu texto cheio de eternos retornos que empurra a viagem da leitura inexoravelmente para o fim, sempre quase a um segundo de acabar, como se esse segundo fosse pedido a alguém dono de todos os nomes adjetivados em frases e substantivos adjetivados como se esses nomes se juntassem em grande nome cheio de prenomes e sobrenome em nomes de todos. Nomes quase gêmeos de monozigóticos, dizigóticos, multizigóticos nascidos de um ventre imaginário acolhedor como uma sala de estar onde a decoração do texto é quase impossível por seu complexo tear. É madrugada e venho pensando que o livro Quase um segundo me obriga a uma leitura sempre inacabada em termos críticos, criticismo literário sério que obriga mais à expiração do que à inspiração porque ninguém consegue sorrir inspirando, sorrir é gesto de expiração, de ar que ao ser expelido vem de dentro com amor, como um sopro, sopro que é o texto dessa instigante cronista que brinca com o tempo com a lucidez de uma criança gerada por uma mulher. O que dizer mais de um livro escrito por uma mulher que escreve como mulher sem ismos porque é singular e vem se somar às vozes melhores desse chão de fábrica onde passearam Braga e Cortázar?
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 12/06/2018
Código do texto: T6361914
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