A sutil arte de ligar o foda-se

Sarcasmo e bom humor

Talvez o que definiria esse livro fenomenal , seriam suas doses de sarcasmo e bom humor nas medidas certas. O célebre autor Mark Manson consegue tratar diversificadas situações, mesclando o passado com o presente, momentos felizes e tristes, sucessos e fracassos, para levar à quem se aventura pelas páginas entender o que seria ligar realmente o foda-se.

Mas não se engane, se achas que o mesmo irá dizer pra simplesmente não se importar com mas nada, ficando frio e calculista, sem sentimentos e tal, irá acabar se deparando com o completo oposto. Nessa obra você irá aprender a dar valor ao que é realmente importante, necessário e verdadeiro. Entenderá por que a dor e o fracasso, por exemplo são fontes de aprendizado. A rejeição, sendo por vezes necessária , pois rejeitamos e somos rejeitados , eis a vida caros leitores.

Trata sobre os valores que por vezes pautamos nossas vidas, sem nos questionarmos acerca deles, nossa tendência a acharmos que estamos sempre certos , sem colocar em xeque nossas próprias convicções, que por fim se tornam crenças que nos limitam de irmos mas longe.

Um exemplo interessante que ele coloca , é a respeito de um cara que aparentemente é charmoso, inteligente , comunicativo, "um partidão " diríamos, e simplesmente afirma não se dar bem com as mulheres por ser baixo. Os questionamentos a se fazer são:

Até onde este indivíduo estar correto?, será que uma característica física elimina todas as outras de sua personalidade?, será que o parâmetro que ele utiliza para se auto-avaliar não é errado?, será que se ele tentasse modificar sua mentalidade, não teria mas sucesso com as mulheres?. São várias situações colocadas pelo autor , abordando essas questões referentes a valores. Quais são os nossos valores mas importantes? E porque nos são necessários?.

Leandro Karnall , já diria em uma de suas palestras no café filosófico, ( um excelente canal do YouTube, por sinal); que aquilo que ao acordar e ao dormir pensamos tende a nos pautar. Nossa mente é um campo vasto onde produzimos situações das mais diversificadas naturezas, e é por isso muitas vezes perigosa. E isso produz outros questionamentos como : será que o que eu penso é correto?, e se é correto, o que faz a maneira de pensar do outro estar incorreta, ou ser contraditória?. Será que as teorias do outro não são tão verdadeiras, quanto às minhas?, e o que posso aprender com os modos diversificados de pensamento?. Uma análise cartesiana talvez...a se fazer.

Outro aspecto interessante, dentre os vários que o livro possui, nos quais à longo prazo possamos discorrer com maior ênfase, se faz na questão do sofrimento. Nós seres humanos tendemos a nos apegarmos ao que nos dar prazer, seja lá o que for, e rejeitar o que nos traz dor, vivemos nesse ciclo , binômio se preferir chamar. Sendo que o sofrer em si , por vezes é necessário, Augusto Walters, ou melhor, nosso " amigo Gus" de "A culpa é das estrelas " , diz uma frase sensacional : " a dor precisa ser sentida". E sim , ela realmente precisa ser sentida, ou mais cedo , ou mais tarde, você até pode tentar se recusar a sentir , mas vai sentir, e quanto mas breve encará-la, mas rápido ela se dissipa. Problema adiado, é problema aumentado, ou seja, dor rejeitada, é dor multiplicada. Freud , se não me engano diz que algum dia os dias de luta , te pareceram os mais belos, porque foram os que te proporcionaram as grandes transformações em sua vida. Sofrer faz parte do processo. E isso irá acontecer no decorrer da sua existência, seja numa amizade, ou em um relacionamento amoroso, vão ocorrer momentos conflituosos.

Hoje, parece que tendemos a rejeitar esses momentos, então amizades se desfazem , relacionamentos acabam, porque queremos as partes boas, de viver momentos intensos, felizes, aconchegantes, e quando as situações conturbadas surgem nos afastamos, rejeitamos aquilo. O que Zigmunt Bauman apresenta de forma espetacular no livro " Amor Líquido : sobre a fragilidade dos laços humanos", os indivíduos vivem hoje com " relacionamentos de bolso ", que se podem dispor quando necessário, e depois tornar a guardar, e se não houver mas serventia, podem ser descartados facilmente. Ou seja, a insegurança inspirada por essa condição tende a estimular desejos conflitantes de estreitar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, com o intuito de preservar a individualidade e a liberdade.

A obra em si traz inúmeras reflexões, sobre a vida e sobre a morte. Pois para o autor, só podemos lembrar dos bons valores, de nós importarmos com coisas realmente importantes, como família, amigos, projetos, em nos aperfeiçoarmos no sentido de manter parâmetros que nos fazem evoluir enquanto ser humano , como honestidade, sinceridade , por exemplo. Se tivermos a real clareza que nossa existência é finita. Ou seja, vamos morrer em algum momento, mesmo não sabendo quando , vivemos no binômio de pensar nela ou não pensar.

Pensar nisso por vezes pode ser mórbido, mas necessário, porque no final das contas, qual legado estamos deixado?, e isso não é papo motivacional de vídeo no YouTube, mas qual o impacto que estamos causando na vida das pessoas, isso se refere também a responsabilidade afetiva, Antoine de Saint-Exupéry diz no célebre livro " O pequeno príncipe ", a frase típica de status em redes sociais , " serás eternamente responsável por aquilo que cativas ". E então como estamos tratando as pessoas que nos rodeiam ? , como tratamos a nós mesmos?, que sonhos deixamos pra trás por ter medo de arriscar?, o que deixamos de fazer , por pensar que não conseguiríamos?. Perdermos oportunidades de dizermos muitas vezes até que alguém é especial , por receio de ser rejeitado. O que importa no final é o simples fato de ter tentido, e continuar tentando, porque a vida não para.

Não façam como o senhor que aos oitenta anos disse para um jovem, que havia amado a mesma mulher durante cinquenta anos. E o jovem a ficar encantado com a revelação disse: "- que lindo ...

O senhor no entanto disse:

"-só gostaria que ela soubesse disso..."

Isso vale pra várias áreas de nossa vida, porque não irmos atrás do que faz nosso coração pulsar, agora no presente e tentar, ao menos tentar. No futuro , talvez nem tudo teremos conseguido, mas teremos tentado, e isso é o que importa.

E uma das lições mas belas que o livro traz é que , ligar realmente o foda-se, é passar a se importar com o que é verdadeiro, muita das vezes simples, mas que te traz paz, um equilíbrio interior.

William Shakespeare já diria em " O Menestrel":

"- Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores..."

Leiam o livro se possível 😊😁🍃🍂

É uma experiência inesquecível...🍃🍂❤