Quem nasce em uma terra nem sempre a canta, há outros afazeres e a azáfama da vida à vezes nos leva a estarmos distantes do chão, mesmo que com os pés no chão tentemos levar a vida. Falamos dos nossos trabalhos, das nossas obrigações, dos nossos amores como se eles independessem do lugar. O viver de ninguém é apenas pela subsistência, mas ganhar a vida nos obriga às vezes a perder a noção do espaço onde vivemos e dos prazeres e belezas da geografia dos morros, rios, dunas e praias, sem interiorizar o que os olhos vêm, sem deixar os olhos verem em seus detalhes algo que nos provocaria uma desatenção. É esse o olhar do poeta capaz de mostrar a ambiência que nos é emprestado pelo autor a fim de conhecermos seus passeios despretensiosos pelas terras do Espírito Santo. Despretensioso porque não se importa muito com as circunstâncias, talvez porque o poder das circunstâncias seja terrível, impeditivo às vezes de enxergarmos as coisas simples da vida que nos deveriam encantar. O olhar que o poeta nos empresta para olharmos na leitura dos seus versos é um olhar humílimo, às vezes resignado pelo passar do tempo, e a palavra resignação é a de aceitar em seus poemas as coisas como elas são, mesmo as mais contemporâneas, como coisas maiores que nossas pretensões ou veleidades intelectuais. Oras, direis, isso parece algo simplório demais. E é! A genialidade de um livro é a simplicidade com que se possa tratar as coisas simples da vida, Achiamé se sente companheiro de viagem de outros poetas de tempos mais remotos, passeia com Dante, Camões, escreve para Rimbaud, interage com outros autores capixabas de poesia ou prosa, numa camaradagem sem falsas intimidades, nem com Dante nem com Sérgio Blank, Reinaldo Santos Neves ou Bernadette Lyra para quem fez um poema belíssimo que com certeza a emocionou, nas últimas paginas do livro, o que nos mostra o planejamento do livro que vai nos levando e enlevando aos poucos, como se nos convidasse, ao ter nos emprestado seus olhos, a nos reunirmos a ele nesse passeio efêmero cheio de pausas para respirar o ar da terra, mesmo o poluído, no fluir de um tempo afetuoso em que a ambiência vence a circunstância, em uma terna jornada de amor ao Espírito Santo, Amém.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 25/09/2018
Reeditado em 25/09/2018
Código do texto: T6459105
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