Com uma dose de humor tudo se resolve

Quem tem medo de monstro?. Ruth Rocha. São Paulo: Salamandra, 2012, 24 p. Ilustrado por Mariana Massarani. - Série Quem tem medo?

O medo é um sentimento inerente ao ser humano. Todos sentimos medo de algo ou de alguém, o que pode nos ser benéfico se pensarmos no sentido de proteção, mas, em outros momentos, pode nos fazer sentir pequenos e impotentes. Assim como afirma a autora do livro (ao final do mesmo), “a gente deve ter medo de pôr o dedo na tomada, porque se a gente puser leva um choque muito ruim, agora, medo de coisas que não existem a gente não precisa ter”. Este livro traz a reflexão acerca desse tema tão recorrente na infância, quando, ao dormir, sentimos medo do bicho-papão, que acreditamos estar debaixo de nossas camas, mas com toque de humor e imaginação.

A autora desta obra é a premiada escritora brasileira de livros infantis e membro da Academia de Letras Paulista, Ruth Rocha, dispensando, inclusive grandes apresentações, já que consolidou-se no ramo da literatura infantil com mais de 200 títulos publicados e traduzida para mais de vinte idiomas. Com quase meio século de carreira, a paulistana e autora do best-seller “Marcelo, Marmelo, Martelo” já trabalhou como editora, orientadora e coordenadora e possui, además, bibliotecas com seu nome. A ilustradora, a carioca Mariana Massarani, já ilustrou mais de 150 livros infantis, muitos deles de Ruth Rocha, e ganhou alguns prêmios Jabutis por seus desenhos. Misturando desenhos, pinturas e colagens em suas ilustrações, Mariana, que também é escritora, trabalha com estampas e ilustrações digitais.

“Quem tem medo de monstro”, lançado em 2012 pela Editora Salamandra, faz parte da série “Quem tem medo” (de cachorro; de dizer não; do ridículo, etc.), elaborada com a finalidade de trazer uma rama dos medos de criaturas, reais ou imaginárias, que despertam medo nas pessoas, para auxiliar a criança em uma fase onde os medos estão aflorados, seja por bruxa, monstro, ladrão ou lobo mau. Esse tema é abordado pela autora de uma maneira criativa e divertida, a fim de motivar as crianças a enfrentarem seus medos com bom humor e coragem, além de fazer com que a criança descubra que essas criaturas podem ser bem menos assustadoras do que se imagina. Esta obra também traz também a vulnerabilidade com a qual todas as pessoas estão submetidas, mostrando que os medos e receios fazem parte da vida.

Em relação ao texto, ele é curto, rápido e de fácil entendimento, no qual o humor e a poesia se fazem presente, característica da autora, que não dispensa a poesia, independência e bom humor em seus textos, mostrando o respeito da autora pela infância. O texto é estruturado a partir de três versos, nos quais o 1º e o 2º rimam (“Era uma bruxa malvada, que assustava a criançada”). A primeira estrofe caracteriza a criatura que amedronta, e a segunda nos conta sobre seu medo e, em cada par de estrofe, o último verso de cada estrofe também rima (“prega susto volta e meia” - “por monstro de cara feia”). O texto possui, ainda, muitos verbos e adjetivos, responsáveis pela caracterização das criaturas e seus medos, e nos dá, sobretudo, ideia de continuação: era um bandido terrível que por sua vez tem medo de bicho papão, que por sua vez tem medo de pirata, e assim por diante.

Quanto às ilustrações, elas acompanham o texto, ora representando o texto, ora complementando-o com detalhes, a fim de deixar a narrativa com mais humor. Como a ilustradora da obra trabalha com ilustração digital, “Quem tem medo de monstro”, parece ter sido ilustrado de forma gráfica, imitando giz de cera e tinta. As ilustrações são muito coloridas, com cores vivas, fortes e vibrantes. Os personagens são bem caracterizados e fogem do estereótipo padrão dessas criaturas reais ou imaginárias. São agregados a eles características jamais pensadas, com a finalidade de ridicularizá-los, de certa forma. Por exemplo, o fantasma dorme com coelho de pelúcia e tem pantufas de coelho ao lado da cama; o ladrão tem uma tatuagem no braço em forma de coração escrito “mamãe”; a bruxa possui vestido florido; o monstro é banguela e usa relógio e espada de brinquedo; entre outros.

As imagens e cenas ocupam praticamente toda a página, na verdade, duas páginas, porque o intuito é manter o livro aberto para que as personagens sejam grandes e ocupem todo o espaço). A cada página, quando se fala do medo da personagem em questão, apresentando o “vilão da vez”, a ilustração do seu medo começa a aparecer no canto da página. No final da história, a barata, ironicamente a menor criatura do livro, é o maior medo.

Raquel de Freitas Branco
Enviado por Raquel de Freitas Branco em 24/01/2019
Código do texto: T6558484
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