A relação da vida com a leitura e seus encantamentos

Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo. William Joyce. Rio de Janeiro: Rocco, 2012, 56 p. Ilustrado por William Joyce & Joe Bluhm. Tradução por Elvira Vigna.

Como diz-nos em sua música “Tocando em Frente” do violeiro Almir Sater: “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz”. Todos nós escrevemos nosso próprio livro mediante as emoções e situações vividas no nosso cotidiano. Assim como nos livros, as tragédias podem se misturar com comédias, quando é preciso um pouco de alegria, por exemplo. “Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo” conta-nos, através de um narrador adulto e onisciente, a história de Modesto Máximo, um rapaz solitário apaixonado pelos livros, obra escrita por William Joyce, autor e ilustrador que trabalhou em grandes produções da Disney/Pixar, como “Vida de inseto” e “Toy story”, e ganhou o Oscar no ano de 2012 de melhor curta metragem pela animação “The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore”, baseada nesse mesmo livro.

Modesto Máximo, personagem principal, devido a um furacão, acaba perdendo tudo, menos suas memórias. Avistando uma mulher carregada por livros e voando pelo céu, eis que a mesma entrega a Modesto Máximo um de seus livros, que o guia até uma biblioteca, onde Modesto passa a dedicar seu amor e sua vida aos livros (e estes cuidam dele em troca), reformando-os, conservando-os e lendo-os, ao mesmo tempo em que escrevia seu livro, ou seja, sua própria história de vida: Modesto escreve todas as noites “suas alegrias e tristezas, tudo o que conhecia e todas as suas esperanças”, até que o mesmo cria a capacidade de voar e seu livro chega nas mãos de outra pessoa, uma menina.

Esta obra, lançada pela Editora ROCCO em 2012, nos convida a pensar, mediante a narrativa da obra, que se desenvolve linearmente, que a vida possui muitas reviravoltas e situações inesperadas, mas cabe a nós reescrevemos as páginas do nosso livro. Olhar para estas situações de maneira diferente do habitual: “Em vez de olhar para baixo, como havia se habituado, Modesto Máximo olhou para o alto”, e aí a situação ganha uma outra dimensão. É necessário, algumas vezes, o estímulo ou ajuda de alguém, como no caso de Modesto, a ajuda dos livros mediante o prazer da conservação dos mesmos e leitura, mostrando, ao mesmo tempo, como o livro, as palavras e uma boa história podem mudar vidas, e nos levar a caminhos jamais imagináveis. A questão do compartilhamento dos livros também é posta na história, partindo do ponto de vista de que “a história de cada um é importante”. Ressalta ainda a importância da biblioteca: “sala mais misteriosa e convidativa que já vira (...) e ele podia ouvir o cochichar de mil histórias diferentes, como se cada livro sussurrasse um convite à aventura”. Em um momento em que vivemos uma era digital, onde o interesse pelos livros, de papel e capa dura, não é muito valorizado, as bibliotecas precisam ser mais cuidadas e valorizadas, a fim de que nelas possuam-se não só livros, mas também a leitura.

As ilustrações, por meio de desenhos, são coloridas e chamativas e, diferentemente de outros livros infantis, narram, reproduzem e complementam a história. Elas acompanham de forma muito expressiva as situações e sentimentos vividos pelas personagens no decorrer do livro, que aborda sobre o amor pela leitura e também da imortalidade de quem escreve livros. Sobre esta questão, por exemplo, quando uma personagem está acompanhada de um livro, passa a ter cor, porque antes estava cinza. O texto, por sua vez, apresenta-se por meio de frases curtas e diretas, combinando-se com a riqueza de detalhes das imagens.

“Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo” nos leva, através de uma linguagem acessível a refletir sobre o significado dos livros, trazendo, portanto, muitos ensinamentos, desde o gosto pela leitura, pelas bibliotecas e do cuidado que devemos ter com os livros. Sendo assim, essa obra contribui para a formação dos seus leitores pela originalidade do enredo, ainda que sua temática seja bastante conhecida. Todos iremos completar as páginas de nossos livros, ou seja, de nossas vidas, assim como Modesto completou a última página de seu livro, e voou. As boas histórias levamos no coração, como diz Modesto, e a nossa fica nesse mundo depois que partimos, pronta para ser lida, conhecida por outra pessoa: “E assim, a nossa história termina como começou, com um livro sendo aberto” e dando cor à vida de muitas pessoas que têm a oportunidade de ter o prazer dessa leitura.

Raquel de Freitas Branco
Enviado por Raquel de Freitas Branco em 24/01/2019
Código do texto: T6558485
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