Como abordar gramática nas séries iniciais

FRANCHI, Carlos. In: POSENTI, Sírio. Mas o que é mesmo “gramática”? São Paulo: Parábola, 2006

Carlos Franchi foi advogado, professor em Jundiaí, São Paulo. Também foi um dos fundadores do Departamento de Linguística da Unicamp e esteve na direção do IEL. Após sua aposentadoria da Unicamp foi professor visitante em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e, finalmente, na USP, onde trabalhou por cerca de 10 anos. Escreveu diversas obras, contudo publicou relativamente pouco. Sírio Possenti é linguista, professor na Unicamp e organizou e publicou o livro.

O texto em análise como o próprio título sugere, tem por objetivo principal o debate e a reflexão sobre gramática e como deve ser o seu ensino em séries iniciais. Logo no início do texto há uma citação, onde afirma que o objetivo principal da escola é habilitar a criança a produzir e compreender textos, fazendo isso de modo criativo e crítico. A citação ainda afirma que a gramática não tem nada a ver com o texto, com o discurso ou com os processos de produção e criação de texto. No entanto, Carlos Franchi defende o ensino contextualizado da gramática, ou seja, para ele a gramática está dentro do texto e o seu ensino deve ocorrer por meio da análise das estruturas textuais. A gramática não se dissocia do texto nem do discurso. Dessa forma, o autor apresenta dois textos de duas crianças que estão cursando a terceira série do primeiro grau. Os textos foram reescritos da forma que os alunos escreveram com alterações apenas no que se refere à pontuação e à acentuação. Através dos textos, Franchi mostra que saber gramática consiste em dominar os princípios que baseiam as expressões da língua.

O autor discorre sobre a dificuldade dos professores em trabalhar gramática nas séries iniciais, visto que, como já mencionado, têm-se o hábito de dissociar a gramática do texto. Ainda há o questionamento que aparece no decorrer do texto, se os professores devem utilizar a norma descritiva ao abordar a gramática. Carlos Franchi traz alguns termos como gramática, gramatical e saber gramática, os quais são revistos no intuito de entender melhor o significado de tais termos.

Com os textos dos alunos Franchi pretende mostrar que a gramática está dentro do texto. Os dois textos foram submetidos à análise, o primeiro texto “A prisão de um passarinho” foi avaliado como sendo ruim, pois apresentava erros ortográficos, emprego incorreto dos pronomes oblíquos átonos, problema de concordância nominal e verbal, problema de regência nominal e verbal, etc. Não foi observada a criatividade, nem a complexidade da estrutura das orações, apenas atentou-se para o não uso das regras da gramática normativa. O segundo texto “a fazenda de animais” foi avaliado como sendo melhor, pois não apresentava nenhum problema de ortografia e de gramática, apenas o uso indevido de um verbo. Apesar de ser menos criativo e complexo do que o primeiro texto o professor afirma que é mais “límpido, em bom português”.

Constata-se que a ênfase está apenas na gramática normativa “um conjunto de normas do bem falar e do bem escrever, estabelecida pelos especialistas, com base no uso da língua consagrada pelos bons escritores. O aluno deve dominá-las e expressar na fala e na escrita. Franchi destaca que gramática “corresponde ao saber lingüístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação genética humana, em condições apropriadas de natureza social e antropológica”. O saber gramática envolve “a ativação e amadurecimento progressivo, na própria atividade linguística, de hipóteses sobre o que seja a linguagem e de seus princípios e regras”.

Carlos Franchi avalia o primeiro texto com uma visão diferente. Para ele o aluno demonstrou certo grau de amadurecimento lingüístico e textual, o autor afirma que o aluno consegue construir expressões complexas, baseadas em princípios gramaticais e utilizando operações diversas. É preciso compreender que o não uso da norma considerada padrão não significa que a criança não sabe gramática. É fato também que a escola precisa possibilitar o aluno a dominar a modalidade culta escrita da língua e para isso, faz-se necessário oferecer à criança “condições, instrumentos e atividades que a façam ter acesso às formas linguísticas diferenciadas e operar sobre elas.” A criança deve ler e produzir textos em diversas atividades linguísticas, oral, escrita, com o intuito de comparar os princípios e regras da modalidade culta ou padrão com a modalidade coloquial. Carlos Franchi ressalta que o professor deve conhecer bem a gramática para assim poder usá-la como “instrumento analítico e explicativo da linguagem de seus próprios alunos.”

Após toda análise, Carlos Franchi reafirma que gramática “tem tudo a ver com o texto e com o discurso” e que o professor precisa rever, estudar as novas concepções de gramática, gramatical e saber gramática para que possa mediar o contato entre o aluno e a modalidade culta da língua. Esta obra, por tanto, beneficiará estudantes da área de Língua Portuguesa, bem como, professores e pesquisadores.

Cleia Santos
Enviado por Cleia Santos em 23/05/2019
Código do texto: T6654785
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