Sobre o livro A Passagem dos Cometas.

Alguns leitores que o leram comentaram que o acharam muito amargo. Lembro que meus avós diziam que quanto mais amargo é um remédio mais eficaz se torna. O que não deixa de ter um fundo de verdade. Lembremos o chá de boldo que é muito amargo mas não tem remédio caseiro melhor para o fígado.

Bem, voltando ao referido livro eu pergunto: O que você gosta de sentir ao ler um livro?

Recorrendo à algumas reminiscências literárias, encontrei esta:

Certa vez, perguntaram a Franz Kafka (escritor tcheco, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos mais influentes do século XX) que tipo de livros as pessoas deveriam ler. Sua resposta:

“É bom quando nossa consciência sofre grandes ferimentos, pois isso a torna mais sensível a cada estímulo. Penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco na cabeça, por que perder tempo lendo-o? Para que ele nos torne felizes? Oh, Deus, nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderíamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, que nos assolem profundamente – como a morte de alguém que amávamos mais do que a nós mesmos –, que nos façam sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana – como um suicídio. Um livro deve ser um machado para o mar congelado que há dentro de nós.”

- No meu ponto de vista achei o seu conceito original e pertinente. Certamente, pendendo um pouco para o extremo, talvez. Admirar um escritor não significa necessariamente concordar com tudo que ele diz. Mas será realmente necessário que tudo se “transforme em monstro” para que o livro valha a pena? Nem tudo o que Kafka disse pode ser considerado verdade absoluta – afinal, existem outras metamorfoses possíveis, nascidas do belo, do íntegro, do poético. O que é verdade, contudo, é a essência do pensamento do escritor: livros devem provocar o leitor; devem tirá-lo de seu mundo mais cotidiano e criar uma abertura, uma possibilidade de novas ideias; instigar sua imaginação. Devem fazê-lo viajar, sonhar, refletir. Viver momentos bons – ou ruins – através das palavras que ele lê. Não importa o que ele vai sentir ao final – felicidade, tristeza, agonia, dor, entusiasmo. Importa fazê-lo sentir algo.

Edir Araujo, poeta e escritor. Autor de "A Passagem dos Cometas", A Boneca de Pano (romances psicológicos). Risos e Lágrimas (coletânea de poemas, crônicas e microcontos. Escrevendo atualmente Fulana (inédito) e muitos escritos em blogs, jornais e pela web afora ad aethernum.

Edir Araujo
Enviado por Edir Araujo em 11/06/2019
Reeditado em 23/08/2019
Código do texto: T6670576
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