BRAUDEL, Fernand. A Dinâmica do Capitalismo. Lisboa: Editorial Teorema, 1985.

Para Braudel o capitalismo é uma realidade de ordem social e política e até mesmo civilizacional, na qual é necessária que a sociedade aceite seus valores.

Braudel chama de sistema mundo as dinâmicas econômicas e políticas desenvolvidas no capitalismo a partir das reciprocidades entre o centro do sistema econômico: países ou cidades centrais e as periferias do mesmo sistema. Esse sistema considera que a abrangência do capitalismo é necessária para ele sobreviver, esta concepção se opõe em relação a imperialista que compreende um país ou sistema, como centro de poder que se impõe e destrói outras formas de organização político-econômica distinta da capitalista.

O sistema mundo mantém diversas economias, todas alimentadoras da necessidade de se espalhar e nesse processo os elementos culturais podem limitar ou liberar a lógica do sistema.

Na Idade Média existiram dois tipos de vida, alheios um ao outro, por um lado os camponeses vivendo em aldeias de maneira autônoma e por outro lado, uma economia de mercado e um capitalismo em expansão.

Braudel define vida material como uma parte da vida ativa da humanidade. É uma vida condicionada, repetida e acumulada pelo cotidiano que aprisiona as pessoas, dentro da vida material a reprodução humana comanda a maior parte dos destinos. A fome, carências, duras condições de vida, guerras e doenças, existem para estabelecer o equilíbrio da reprodução humana dentro da vida material.

A modernidade surgiu com a inserção da moeda e das cidades no cotidiano das pessoas. Com a expansão da economia de mercado se iniciou a organização de modos de produção, orientando consumo. Os mercados demarcaram uma fronteira onde tudo o que se situa fora do mercado tem valor de uso e tudo que cruza o mercado tem valor de troca. O indivíduo conforme se situe socialmente está inserido na vida econômica, em oposição a vida material.

De acordo com Braudel no século XV há uma subida da economia em decorrência dos benefícios das cidades favorecidas pelo aumento dos preços industriais, por outro lado, os preços agrícolas estagnam ou baixam. Nesse momento o motor da economia foi as lojas de artesão, nos mercados urbanos.

Nesse século, o trabalho acumulado em reservas para serem destinadas a melhorar e progredir a produção é o que chamamos hoje de patrimônio.

O século XVI foi o apogeu das feiras com expansão para o atlântico que dinamizaram as grandes feiras internacionais. No século XVII houve recessão e estagnação econômica, as feiras cederam lugar para as bolsas e praças de comércio, multiplicando as lojas e criando apertadas redes de distribuição. No século XVIII houve aceleração econômica, multiplicando as bolsas e pondo fim as feiras existindo apenas regiões marginais da economia europeia.

Nesse período, a China era extremamente organizada em seus mercados, com localizações estratégicas que permitiam aos camponeses irem e voltarem ao mercado centralizado.

Braudel afirma que o desenvolvimento da economia europeia se deu em razão a superioridade de seus instrumentos e instituições, as bolsas e as diversas formas de crédito. A economia de mercado se expandiu e manteu-se ativa sobre a vida material cotidiana e foi sobre a economia de mercado que o capitalismo se desenvolveu. Até o século XVIII as pessoas permaneceram no domínio da vida material fazendo distinção entre economia de mercado e capitalismo, foi um período de séculos caracterizado pelo autoconsumo alheio a economia de troca.

A economia de mercado ainda está em desenvolvimento, caracterizando um capitalismo mercantil. Antes do século XIX a economia de mercado era a ligação entre produção e consumo. As trocas tiveram papel decisivo restaurador de equilíbrios que ajustam a oferta e a procura corrigindo imperfeição imposta pelo mercado de produção e consumo.

Existiram duas formas de economia de mercado: as cotidianas decorrentes de tráfico locais ou de pequenas distâncias e até ramos de comércio rotineiros e abertos a pequenos e grandes comerciantes e aquela que traça uma esfera de circulação diferenciada, esta compra produtos antecipadamente, e depois encaminham os produtos para as cidades e cais de exportação e fazem transações individuais de acordo com a situação dos interessados. Por exemplo, a lã antes da tosquia, o trigo antes da seara.

Assim o comerciante ou atravessador tem menos concorrência e desfruta duplamente de suas vantagens em relação ao produtor e ao comprador. Destes grandes lucros provêm acumulações de capital concentrando-se num pequeno número de mão que conseguem preservar seus privilégios e reservar a si grandes negócios internacionais.

Desse modo, o mundo da mercadoria encontra-se hierarquizado, a especialização, a divisão do trabalho afeta toda a sociedade, excetuando-se a cúpula onde se encontram os negociantes capitalistas que não se limitam a uma única atividade. O comerciante muda muito de atividade porque o grande lucro muda constantemente. Uma das grandes forças do capitalismo é a facilidade de adaptação e reconversão. Desde a idade média até os dias atuais, capitalismo e economia de mercado progrediram a par, sendo que toda forma de capitalismo existe em função das economias que lhe são subjacentes.

Zeneide Cordeiro
Enviado por Zeneide Cordeiro em 08/07/2019
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