Introdução à Cosmovisão Cristã

Resenha

Goheen, Michael W. Goheen. Introdução à Cosmovisão Cristã. Vivendo na Intersecção Entre Visão Bíblica e a Contemporânea. Michael W. Goheen & Craig G. Bartholomew. Tradução de Marcio Loureiro Redondo. São Paulo. Vida Nova 2016.

Introdução à Cosmovisão Cristã é um livro onde os autores buscam apresentar um resumo da narrativa bíblica e seus conceitos fundamentais, fazendo uma comparação com a cosmovisão ocidental desde seus primórdios, desta forma os autores observam como os cristão lidam com as implicações de viverem em uma cultura hostil ao evangelho, mas que transitam em áreas como educação, academia, política e igreja etc. Os autores, Michael Goheen é PhD pela Universidade de Utrecht, diretor de educação teológica no Missional Training Center e pesquisador residente no Surge Network of Churches, em Phoenix, Arizona. Autor do livro A igreja missional na Bíblia, publicado por Vida Nova, entre outros. Craig Bartholomew é PhD pela Universidade de Bristol e professor da cátedra H. Evan Runner de Religião e Filosofia na Redeemer University College. É também coautor, juntamente com Michael Goheen, de O Drama das Escrituras. O livro contem 268 páginas dividido em nove capitulo, contendo ainda índices de passagens bíblicas e de assuntos.

O livro começa com um prefácio fabuloso apresentando os autores com suas respectivas experiências de fé em diferentes confissões cristãs. Michael cresceu na igreja Batista, e Craig na igreja Anglicana. Ambos foram unidos pela paixão que têm em relação ao estudo da cosmovisão cristã, e tendo se encontrado, dedicaram-se a escrever sobre o assunto. No primeiro capitulo os autores levantam um tema que é basicamente uma introdução ao livro como um todo, isto é: “Evangelho, narrativa, cosmovisão e a missão da igreja”. o proposito é discorrer sobre a narrativa bíblica como uma reinvindicação de que o Reino de Deus chegou na pessoa de Jesus, e desta forma há um embate entre essa narrativa que segundo os autores, não diz respeito a uma narrativa puramente religiosa de fórum privado, mas sim público, afetando todas as esferas da vida, e do outro lado a narrativa do mundo ocidental que reivindica também sua autenticidade. Diante desse embate surge a pergunta: “Qual narrativa moldará sua vida?”. O povo de Deus vive nessa encruzilhada, e a igreja é chamada a “libertar o evangelho de sua escravidão à cultura ocidental contemporânea” (33).

No segundo capitulo a proposta é definir “O que é cosmovisão?”, essa palavra que segundo os autores veio do termo alemão Weltanschauung, sendo as lentes pelas quais enxergamos a realidade. Aqui os autores abordam alguns nomes como Immanuel Kant, o qual usou pela primeira vez o termo, além de Friedrich Schelling, Soren Kierkegaard, e dos teólogos calvinistas James Orr e Abrahan Kuyper. A definição básica do termo é que “a cosmovisão é expressa em um conjunto de crenças que são basilares e formativas para o pensamento e a vida do ser humano” (38). O pensamento cristão se apropriou do termo, tendo algumas objeções, por isso a definição operacional de cosmovisão proposta é de que seja uma “enunciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa compartilhada, as quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido à totalidade de nossa vida individual e coletiva” (52). O que se sabe é que todos tem uma cosmovisão, desta forma cabe aos cristãos compreenderem que a sua é baseada na narrativa bíblica de Criação, Queda e Redenção, compartilhado ao mundo espalhando tal visão.

Depois de apresentar o conceito de cosmovisão, os dois próximos capítulos trazem uma apresentação da cosmovisão bíblica, abordando os temas, “Criação e pecado, e Restauração”. Sobre o primeiro fica claro como os autores desenvolvem embasados na narrativa bíblica a visão de um mundo criado por Deus, uma criação boa que alcança seu clímax na criação da humanidade como imagem de seu criador. Toda essa visão é um contraponto ao que as culturas acreditavam em relação ao mundo e tudo que nele há, sendo uma mudança de paradigma radical. Contudo essa criação foi afetada pelo pecado que conforme vão dizer “contamina e desfigura cada milímetro da criação. Ele macula seres humanos em sua vida pessoal, em suas emoções, raciocínio e palavras”. Já no capitulo seguinte o foco é na Restauração, porém entendida aqui sob três características, ou seja: “a salvação é progressiva, restauradora e abrangente” (89). Essa restauração diz respeito a todas as áreas da vida, trazendo de volta o shalom original de Deus. A restauração conforme apresentada pelos autores abrange a missão da igreja como expressão do Reino de Deus, no qual seus participantes são comissionados a praticar as boas novas até o retorno do Rei.

Os três próximos capítulo apresentam “A narrativa ocidental”, mostrando as raízes da modernidade e o crescimento da modernidade, além de apontar quatro sinais de nosso tempo na narrativa ocidental. A ideia “é ajudar a descobrir o “credo oculto” – a cosmovisão – que fundamenta a cultura ocidental” (111). Está relacionado a narrativa ocidental o credo humanista onde três aspectos predominam, isto é, o naturalismo, o racionalismo e o cientificismo. Os autores apresentam como as raízes da cultura ocidental se encontram no paganismo greco-romano, contudo a síntese feita entre o cristianismo platonizado e Aristóteles por Tomás de Aquino na idade média tardia, gradualmente se desfez, conduzindo a um processo de volta ao paganismo.

O capítulo seis considera como o “humanismo da cultura pagã clássica renasceu e cresceu até se tornar a verdadeira luz do mundo” (129). Aqui os autores assinalam quatro dimensões do humanismo secular que são: “um renovado interesse pelo mundo presente; uma ênfase na esfera secular; a autonomia do mundo não humano, e a tarefa da humanidade de se lança como senhora da natureza”. Passando pela Reforma juntamente com a Renascença, destaca-se também o movimento Iluminista, a Revolução Industrial, o Liberalismo econômico e em oposição a este o pensamento de Karl Marx. O fato é que segundo apontam os autores a narrativa moderna parece ter fracassado em suas propostas, culminando mais em perguntas do que soluções e cabe-nos indagar sobre “o que Deus está fazendo nesses acontecimentos extraordinários de nossa época” (161). “Que horas são?”. Aqui no capítulo sete são apresentados quatro sinais de nosso tempo na narrativa ocidental. Os autores destacam que “o avanço da pós-modernidade e da globalização e um notável aumento tanto do cristianismo no hemisfério sul quanto da fé islâmica – esses são alguns dos marcos do início do século 21” (162). A proposta aqui é examinar o que está acontecendo na cultura ocidental, e os quatro sinais que precisamos discernir sobre nosso tempo são: “1. O surgimento da pós-modernidade; 2. O consumismo e a globalização; 3. O renascimento do cristianismo no hemisfério sul; 4. O ressurgimento do islamismo” (165). Esses sinais estão presentes no ocidente e sua cultura está em crise afirma os autores. Portanto devemos pensar nossa vida em meio a essa intersecção de acontecimentos.

Nos dois últimos capítulos Michael e Craig nos chamam a atenção para a vida nessa intersecção onde somos chamados a um testemunho fiel e relevante nas mais variadas áreas da vida. O pacto de Lausanne é destacado aqui como um ponto de partida da responsabilidade social da igreja como contraponto ao evangelicalismo que confinou a fé cristã na esfera individual. Bem observado pelos autores é que “ao se envolver com as estruturas da sociedade, o cristão enfrentará pressões para cumprir as regras do jogo cultural – conformar-se com fazer concessões à idolatria cultural” (212). Bem apontado ainda é a declaração de Jesus no Sermão do Monte de que somos o sal da terra e a luz do mundo. O último capítulo destaca seis áreas da vida onde o evangelho deve ser encarnado, que são: “negócios; política; esportes e competição; criatividade e arte; mundo acadêmico e a educação. Sobre essa última área Michael e Craig dizem que “a educação cristã é (ou deveria ser) uma clara alternativa ao sistema público de ensino, uma alternativa que rejeita a idolatria cultural [...] que moldou grande parte do ensino público” (245). Os autores não negam a dificuldade a tarefa, mas são categóricos em dizer que para que o povo de Deus seja fiel ao seu chamado é preciso cooperação com a comunidade nesse aspecto educacional.

O livro termina com um posfácio pastoral onde somos consolados com a declaração de que “recentemente, uma comunidade humilhada redescobriu o ensino das Escrituras de que , como igreja, estamos incluídos naquilo que Deus está fazendo na história” (256), uma palavra de consolo, pois nossa missão dentro desta perspectiva é apenas testemunhar pelo poder do Espirito Santo.

Sem dúvida nenhuma é uma obra fantástica esse livro. Michael e Craig nos presentearam com um curso completo sobre cosmovisão. A linguagem é acessível, o que permite ao leitor leigo se inteirar do assunto. Talvez a leitura de O Drama das Escrituras, seja interessante para uma melhor contextualização do assunto e a forma como escrevem os autores. Sobre o material extra que falam no prefácio, tanto do primeiro livro como deste não há o acesso na página referida. A editora deve rever e endereço. Particularmente fui impactado pela leitura deste livro. É um assunto que me interessa muito, no entanto a disposição dos capítulos em uma sequência lógica e didática proporcionou uma leitura muita agradável e instrutiva. Recomendo sem reservas o livro a todos.

Marcelo Junio Silva
Enviado por Marcelo Junio Silva em 31/07/2019
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