O Cowgirl UP - festival anual de arte feminina no Novo México

(por Roberto Sombra )

Taos é um vilarejo que desde o final do século XIX tornou-se um polo de arte procurado por gerações de pintores e artesãos de fora, que se deslumbraram com a paisagem e cultura navajo do Novo México. Em 1898, viajando pelo norte do Novo México, a roda da carruagem dos pintores Ernest Blumenschein e Bert Phillips quebra devido à aspereza do terreno.

Blumenschein então partiu a cavalo até Taos, no Novo México, para reparar a roda, enquanto Phillips esperava com a carroça. Em Taos ele anota:

"O céu estava claro, limpo e azul, com nuvens em movimento. A cor, o caráter reflexivo da paisagem, o drama dos vastos espaços, a soberba beleza e a severidade das colinas, agitaram-me profundamente". Lirismo e narrativa poética que logo tornariam-se tradição dos artistas do Novo México. Próprio da cultura do oeste americano gostar de ouvir e contar histórias. Bem conhecida por lá a máxima: "tão importante quanto pintar a cena é colocar na sua obra o que você sente ao vê-la".

Blumenschein e Philips então voltaram para Taos com a roda da carruagem consertada, onde venderam o cavalo e equipamento para montarem um estúdio e começarem a pintar. Depois fundaram a Sociedade de Artistas de Taos, cuja herança se estendeu as gerações seguintes; conta Clara Lee Tanner em seu livro "Native American Easel Art": " As tribos pueblo e os homens de San Ildefonso foram os primeiros a receber treinamento nas técnicas de pintura de cavalete. Índios viajando pelos EUA e ao redor do mundo retornaram com novos conceitos e perspectivas. Empresas como o Projeto de Arte Indígena Rockefeller e o Instituto de Artes Indígenas Americanas e Santa Fé expuseram os índios e o rico passado da arte indígena, bem como aos estilos e tendências contemporâneos da pintura".

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Na autenticidade histórica das mulheres notáveis de Taos o fio condutor que une as histórias dessas artistas, e o atributo que mais as define. Mulheres do Novo México que anualmente realizam um festival de arte, só com obras delas. Este o Cowgirl UP: onde a boa qualidade artistica em parte se explica pelo trabalho do "Art Coaching for You", oferecido por coachs, mulheres, que também são artistas plásticas:

"No coaching de arte ajudamos você a esclarecer metas e assumir novos riscos sensatos para que você avance rapidamente em sua carreira e vida criativa. Capacitando seu desejo de criar algo que seja importante e tenha significado no mundo. Como treinadores de arte encorajamos você a se desenvolver como artista. Fazemos muitas perguntas e ouvimos atentamente suas respostas para que possamos orientar melhor seus esforços. Fornecendo-lhe as ferramentas apropriadas, ajudamos a capacitar sua carreira ou vida criativa, para que você encontre as respostas sem ficar sobrecarregada".

Adotadas técnicas de storytelling para conseguir transmitir uma mensagem inesquecível e reveladora sobre a sua arte.

Apoio técnico e artístico, com olhos também para o empreendedorismo, ensinam as artistas mulheres a promover e vender a sua obra: "necessário o artista empenhar-se e trabalhar duro para no final ao menos ter certeza que deu o melhor de si" ensinam as coachs.

O Cowgirl UP - festival de arte feminina anual - entre 2000 pintoras inscritas seleciona 50 delas. Em comum nos sites delas a qualidade de formatação e conteúdo; verdadeira ISO 9001 de como uma artista deve fazer para promover suas obras.

Tracy Turner, pintora de Taos, e participante do Cowgirl UP, por exemplo, montou um site muito cativante para mostrar a sua pintura e dar a conhecer o espírito da sua arte. A definição artistica das suas obras ocupando importante papel na divulgação e venda da sua arte:

"Como um nativo do oeste eu cresci cercada por paisagens de surpreendente diversidade, luz e beleza.Vindo para o mundo dessa maneira, desenvolvi uma grande paixão por lugares selvagens e um amor pelos infinitos caminhos da cor e da luz que se manifestam com forma nesta terra. Meu trabalho é um reflexo desse amor e procura expressar uma realidade mágica com a cor como a linguagem universal. Eu brinco com sua infinita variedade e vibração, traduzindo meu próprio senso de alegria e mistério do mundo físico para a tela. Depois de começar uma pintura ao ar livre, passarei talvez mais tempo com ela no estúdio, onde posso trazer minhas próprias impressões e lembranças. Usando uma técnica de envidraçamento, adiciono camadas de cor à superfície da pintura, o que dá profundidade e uma alta saturação às cores, como satisfaz meu amor pela sensação de um trabalho sendo iluminado de dentro.

A prosa poética associada à pintura. Nas recomendações das coachs para as suas artistas a importância de lerem ensaios de arte e escreverem sobre o seu próprio processo de criação, para que o pensamento artístico da própria pintora se desenvolva; o que vai aproximá-la do seu público e alcançar mais ainda os compradores das suas obras de arte.

É a pintura pensada em termos de Projeto. O empoderamento artistico, em geral, voltado para o empoderamento das mulheres artistas em particular. Mas não só isso: porque por trás de eventos como o Cowgirl Up existem ações próprias do movimento feminista. Ao promover cursos de capacitação profissional para mulheres, que querem ganhar a vida exercendo ofícios próprios da cultura western: montaria, confecção de selas e artesanato de couro e metal. Parte da renda do Cowgirl Up destinada a custear o oferecimento destes cursos.

A razão da verve "pictórica poético literária" das artistas mulheres, em relação a mudez dos pintores homens, a princípio explicaria-se no contraponto "razão x emoção", ou porque para os homens "uma imagem fala mais que mil palavras". Esta também uma estratégia para projetar o trabalho das artistas mulheres no mercado de arte onde veladamente ocorre a discriminação de gênero: a arte das mulheres menos divulgada e vendida em galerias, ou compradas por museus, do que a arte de homens do mesmo gabarito artístico. Algo que explicaria a menor penetração das artistas mulheres no mercado de arte. Também em razão das várias gerações de donos de galeria e dirigentes de museus, que demonstram pouca consciência social em promover mostras ou comprar obras de artistas mulheres (no caso de artistas homens, que são donos de galeria, estes sim se engajam mais na causa feminina).

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Em 2019 12 edições do Cow Gir Up já se passaram. Apresentado ao público vários estilos e tendências que retratam de maneira lúdica as tradições e novas perspectivas do imaginário do oeste americano.

Esta a resposta digna dos realizadores do Cowgirl Up para aqueles que acusam que a arte temática do oeste norte americano não passa de uma sub sub arte, ou "arte souvenir", de caráter decorativo: feita para que turistas e inveterados fãs de filmes cowbow levem boas recordações deste lugar e voltem sempre.

Neste descortinar de aspectos históricos e culturais existentes. Nas imagens e memórias de Denis Hooper, em momentos chave de sua vida hippie. Quando o diretor de Easy Rider, nos anos 60 muda para Taos onde abre o primeiro cinema da cidade e faz da sua casa a primeira comunidade hippie, projeto que acabou no dia em que verificou não conhecer ninguém dos que viviam ali dentro.

Cine Astor

Cine Astor
Enviado por Cine Astor em 05/08/2019
Reeditado em 01/04/2022
Código do texto: T6712992
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