Outono em Copacabana – Maeve Phaira – Editora Viseu. 2020.

Outono em Copacabana, romance de Maeve Phaira, trata do amor idealizado. Mas não representa nenhum tipo de romantismo. Porque o amor idealizado, no livro, é o desejo e o desejo sempre é real. Miriam – a protagonista - é advogada, gaúcha, mora no Rio de Janeiro e recém-divorciada frequenta ambientes virtuais como salas de chat. Como todas as pessoas, numa primeira impressão, que nem sempre é a que fica, “reencontra” Flávio, também advogado, com quem não teve nenhuma proximidade, na faculdade de direito, mas que dá relevo a como a teria percebido no tempo de estudante. Flávio é sedutor, como quase todo o sedutor voa nas asas da tentação, faz uso patológico da internet e como Miriam verá não só na internet dá asas à tentação, isto é, socialmente, como em jantares em restaurantes, não tem o decoro de não olhar para outras mulheres e, de fato, num dos jantares olha descaradamente para uma mulher sentada em outra mesa, que Miriam descreve como a mulher com lábios de berinjela, numa criativa metáfora das mulheres que pintam os lábios com batom roxo que são, eventualmente, bem vulgares.

O desejo voa em várias direções, duas das mais comuns são a tentação e a idealização, a primeira direção é a de Flávio, em seu donjuanismo ou satiríase, como preferirem, a segunda é a idealização, ao que parece em Miriam, idealização dialógica. Mas Miriam, ao perceber a má conduta de Flávio, que pretere a sua companhia em casa para ficar na internet, não consegue questioná-lo, não consegue mostrar dialogicamente o seu descontentamento, não consegue trazer ao afeto a possibilidade de crítica construtiva. Em um último jantar com Flávio, simplesmente diz que acabou para assistir uma dissimulação de frustração e desespero no homem com quem conviveu sob o teto. Logo depois do fim, que ainda não é o fim, Flávio começa uma nova relação com outra mulher, com quem conviverá até uma breve morte.

O desejo idealizado por Miriam se realiza, não narcisisticamente, com um amigo imaginário, espécie de Grilo Falante, com quem toma conselhos, mas não reclama da vida, porque na personagem a dor é uma constatação súbita, um espanto localizado entre diálogos irrealizados e consequências não óbvias. Por exemplo, quando há o divórcio de Miriam os argumentos utilizados são os do tipo “nós vamos jogar tudo isso fora?” entre outros argumentos falaciosos que não abrem estradas para o diálogo sobre o que realmente aconteceu ou sobre o que motiva o outro a agir de qual ou tal maneira.

Do ponto de vista textual, o romance Outono em Copacabana é rico em metáforas saborosas, minimalistas, como uma unidade de ouro em pó. Maeve Phaira tem recursos estilísticos que fazem um crítico literário escarmentado se deliciar com possibilidades gráficas e ortográficas jamais encontradas em outros textos. Tais fenômenos de criatividade ocorrem aqui e ali, em um texto que fala do tédio causado pelas impossibilidades relacionais humanas, trata o erotismo como coisa de cinema (idealização) e fala do amor em seu estado etéreo, ora abandonado à rotina, ora renegado como possibilidade de pacto concreto subjetivado em inter-relações capazes de algum consenso confortável objetivamente seja para situações de ruptura ou de encontro.

O mérito maior do romance é o de as personagens serem como elas são: constatação! Sem saberem o que fazer muito bem com isso.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 15/09/2020
Código do texto: T7063619
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