O primeiro volume da Ondina

O PRIMEIRO VOLUME DA ONDINA
Miguel Carqueija

Resenha do romance “Ondina” (primeiro volume), por M. Delly. Companhia Editora Nacional, São Paulo-SP, 2ª edição, 1960. Tradução de Lígia Estrada. Biblioteca das Moças, 149. Título original francês: “L’Ondine de Capdeuilles”, 1º volume.

M. Delly é nome por demais conhecido no gênero dos romances para moças, e na verdade é o pseudônimo de dois irmãos franceses, Fréderic e Jeanne Marie de La Rosiére (respectivamente 1870-1949 e 1875-1947). Faziam uma literatura conservadora, o que é ótimo, porém com estilo afetado e piegas, o que e lamentável.
Neste primeira parte tomamos conhecimento do jovem mundano Cláudio, Marquês de Montluzac, que visita um velho e moribundo primo que vivia no castelo de Capdeuilles. Este encontra-se na quase miséria e se preocupa com sua jovem neta, Rosalina de Salvagnes, a Ondina do título (no caso um apelido).
Descrente das mulheres mas reconhecendo que aquela menina de 17 anos ainda não fôra contaminada pelo mundo, Cláudio a abriga em sua mansão após o falecimento do ancião.
Aí a gente já vê algumas pontas soltas. Na mansão de Capdeuilles havia um casal de velhos criados e um velho cachorro. Ora bem, nem uma palavra sobre que destino eles tiveram! Deveriam ter acompanhado a menina, mas isso não aconteceu.
Eu gosto de ficção conservadora, sem palavrões, imoralidades, cenas sórdidas. Mas não precisamos chegar ao nível da pieguice e da afetação! Os diálogos são empolados e intragáveis. A heroína da história, se assim se pode dizer, é uma garota insossa em torno da qual se constrói uma imagem etérea, uma perfeição artificial.
Muita coisa é previsível nos romances para moças. Já se adivinha desde os primeiros capítulos, ou até as primeiras páginas, quem será o casal romântico. Haverá alguma coisa, algum obstáculo ou mal-entendido a separá-los, e que depois será desfeito e no fim eles se casam e supõe-se que serão felizes para sempre, como nos contos de fadas.
Quanto à inocência de Rosalina, é também ignorância dos fatos da vida. Quando o pároco da aldeia confessa a Cláudio que ninguém “ousou” esclarecer a garota, isso já é um teste para a paciência dos leitores.
Hoje em dia os “romances para moças” evoluíram para “romances de amor” e, com certeza, o sexo entrou neles. Todavia um romance pode ser inocente sem ser chato ou piegas.

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2020.