"As Cem Linguagens da Criança" Resenha Parte III: Da Teoria à Prática

“As Cem Linguagens da Criança”

Resenha Parte III: Da Teoria à Prática

Alexandre José de Souza Puglisi ¹

Resumo: Trabalho realizado com o intuito de tornar sucinto os feitos pedagógicos de Loris Malaguzzi em relatos de pesquisadores referentes à abordagem adotada nas escolas da região de Reggio Emilia, Itália.

Palavras-chave: Educação infantil; Linguagens; Puglisi; Malaguzzi

¹ Graduando em Pedagogia, USP

Parte III: Da Teoria à Prática

Nesta parte do livro, os autores apresentam uma transição da teoria à prática dando ênfase a alguns aspectos encontrados nas escolas de Reggio Emilia, como espaço e a criação de um ambiente propício ao aprendizado tendo em vista a convivência entre crianças e adultos, crianças sociedade. Discorrem também sobre o papel do professor na filosofia de Malaguzzi e a adoção currículo emergente. Dão ênfase nas múltiplas formas de representação, simbolização com projetos específicos que envolvem a comunidade como um todo. É precisamente neste contexto que as instituições de Reggio Emilia trabalham.

Malaguzzi define suas escolas como espaços educacionais e de envolvimento pessoal pois foram projetadas ou adaptadas para a convivência de adultos e crianças, um espaço onde todos pudessem sentir-se à vontade. Uma vez que se atingira a atmosfera desejada do ambiente, seria possível aprender com os relacionamentos entre crianças e adultos. Por tornarem-se espaços de mais útil, acolhedores, serenos e seguros onde se poderia disfrutar de horas de atividades conjuntas, os espaços escolares passam a refletir a cultura e a história de cada centro em particular, informando sobre os projetos e as atividades das crianças, a rotina da escola. Por isso não há um padrão. Cada escola é diferente uma das outras. Uma outra característica das escolas de Reggio Emilia, era que estas eram pensadas como parte do plano urbano. Esta abordagem considera questões básicas como o fato da proximidade da casa das famílias, além da oportunidade de uma experiência interativa com a comunidade. Os educadores de Reggio Emlia consideram o espaço como um “container” que favorece a integração social, a exploração e a aprendizagem sendo o que conteúdo educacional para o aproveitamento destas experiências interativas baseado na aprendizagem construtiva. Os projetos tinham o cuidado especial com a aparência do ambiente bem como com os desenhos dos espaços para que favorecessem e facilitam a integração social sendo estes, elementos essenciais da cultura italiana do ponto de vista arquitetônico. Para Malaguzzi, o espaço é o “terceiro educador” pois, conforme já apresentado, proporciona o intercambio social através de uma modificação frequente pelas crianças e professores a fim de permanecer atualizados e sensível as necessidades na medida em que as crianças são protagonistas da construção de seu próprio conhecimento. Tudo ao entorno da escola é visto como elementos cognitivos ativos. Na filosofia dos educadores de Reggio Emilia, esta característica do espaço como promotor da interação social é essencial para a aprendizagem. Diante de tamanha integração social entre escola, crianças, famílias e professores, a questão do tempo passa ser vista com menos pressão para a obtenção de resultados.

Como resultado de um processo de diálogo aberto entre governo e escola, fica muito claro o papel do professor nas escolas em Reggio Emilia. Além deste fator, alia-se a uma filosofia que se baseia na criança com aprendiz, os professores têm com papel central estudar as crianças, proporcionar ocasiões, interventor em momentos críticos e compartilhador das emoções intensificadas das crianças. Contudo, a função também toma diferentes dimensões como a promoção da aprendizagem das crianças nos domínios cognitivo, social, físico e afetivo; o manejo da sala de aula; a documentação ; a preparação do ambiente; o oferecimento de incentivo e orientação; comunicação com outras pessoas importantes; busca de crescimento profissional; engajamento no ativismo político para a defesa da causa da educação pública precoce; e condução de pesquisas sistemáticas sobre o trabalho diário em sala de aula para finalidades de difusão profissional, planejamento do currículo e desenvolvimento do professor. Entendem que o esforço que praticam na educação infantil é vital para o progresso da sociedade e bem-estar humano.

O currículo emergente encaixa-se de forma coerente dentro deste cenário. O princípio central para esta aplicação está na reciprocidade que envolve a orientação mútua do processo educacional pelo professor e aprendiz como princípio operante central oferecendo tempo suficiente para o aprendiz surgir com as próprias indagações e suas próprias soluções. Neste caso, o papel do professor é o de garantir o compartilhamento do conhecimento e a experiência de cada projeto com todos, inclusive os adultos.

Os projetos oferecem as crianças eventos complexos com catalizadores para a discussão em grupo. Neste sentido, a aprendizagem e a construção de conhecimento têm um curso mental próprio, cheio de reproduções mentais, reflexões repetidas e representações. Com o propósito de comunicar conhecimento a outros, as crianças repetem estes ciclos muitas vezes dentro de qualquer projeto. Desta conclusão, define-se o termo “ciclos da simbolização.” A motivação da criança para o uso e invenção de símbolos é, primeiro, obter um melhor entendimento da sua própria compreensão de algo e, segundo apresentar esse entendimento claramente aos outros. Portanto, o contexto da comunicação dá as crianças uma razão para usarem um determinado conceito através de uma variedade de símbolos, aumentando a profundidade do conhecimento construído pelo grupo que atua no mesmo projeto. Acrescentando, no ato de elaborar símbolos para símbolos, as crianças tornam-se mais conscientes de como aquele símbolo carrega a sua mensagem. Aprofundando, o sistema de símbolos usa tanto o sistema numeral, quanto uma representação hibrida (quando destinada a uma função específica) contendo um grande apelo intuitivo podendo gerar um raciocínio transdutivo, chegando a uma conclusão lógica.

Concluindo, a prática educacional nas escolas de Reggio Emilia tem como pilares de sustentação o planejamento do espaço e seu entorno; o papel dos professores no desenvolvimento e aprendizagem das crianças, no currículo, e no desenvolvimento de projetos que promovam múltiplas simbolizações pelas crianças como resultados tangíveis da aprendizagem em todos os domínios (cognitivos, físico-motor, social e afetivo).

 

Bibliografia:

EDWARDS, Carolyn; FORMAN, George; GANDINI, Lella. As cem linguagens da criança: A abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999.