Resenha: O Santuário dos Ventos, de George R.R Martin (O Livro da vez por David Thomas)

Análise da Obra

1. Informações técnicas da obra:

• Título da Obra: Santuário dos Ventos;

• Autor/Autora da obra: Lisa Tuttle, George R. R. Martin;

• Editora: Leya;

• Data de publicação: 1981;

• Gênero textual: Ficção científica;

• Ambientação da obra: Um continente fictício chamado "Santuário dos Ventos".

2. Enredo:

Na sociedade do Santuário dos Ventos, um arquipélago de clima muito tempestuoso, Há somente duas classes sociais: os “Confinados a Terra” e os “Voadores”. Com suas assas que só podem ser passadas de geração a geração sanguínea, os voadores formam quase que uma elite na região e a eles são encarregados uma das principais e mais difíceis tarefas: levar mensagens de uma ilha para outra, sem eles não haveria se quer comunicação entre seus governantes, “os Senhores da Terra”. Conhecemos de imediato a protagonista Maris, uma criança confinada à terra que sonha em se tornar uma voadora, mesmo sabendo que é impossível pois em sua família não existe nenhuma linhagem dos voadores. Ao observá-los, maravilhada, voando através das nuvens, ela conhece Russ, um voador que não pode ter filhos, imediatamente a adota e lhe promete que um dia suas assas lhe pertencerão. No entanto, inesperadamente sua mulher engravida e dá à luz Coll, seu filho legítimo. Coll não gosta de voar, ao passo que a irmã adotiva não se vê fazendo outra coisa. Quando a tradição obriga Maris a lhe devolver as assas, ambos começam a refletir sobre o sentido dessa tradição e como eles poderiam modificá-la, já que só a proposta seria vista no arquipélago como uma heresia. Na noite em que Coll assume a maior idade e deveria se tornar um voador, ele se volta contra o sistema e grita que não é isso o que deseja, publicamente assume que seu talento é ser um cantor. Diante desse escândalo, Russ que sempre se mostrara um bom pai, se volta contra os filhos, especialmente contra Maris. Sendo tratados como heréticos pelo Senhor da Terra, pelo próprio pai e pelos demais habitantes do Santuário dos Ventos, Maris e Coll acabam exilados da ilha de Amberly Menor. Sem antes Maris tomar suas asas novamente. Dorrel, amigo de Maris e um dos principais personagens, irá sair pelo arquipélago na tentativa de reunir apoiadores à causa de Maris, já que o antagonista, Corm, quer mais do que nunca bani-la do

Santuário dos Ventos. No conselho com os lordes do continente, Maris sai vitoriosa e além de derrubar a tradição, consegue fundar uma academia de treinamento para voadores, pois ela acreditava que a habilidade com as asas não tinha qualquer relação com o sangue. Ela se surpreende um tempo depois quando os resultados mostram que mesmo com o acesso dos confinados a terra ao céu, os que mais se destacavam eram os que nasciam de famílias de voadores. Um personagem muito enigmático entra na narrativa: Val, o Uma-Asa, de Aren do Sul. Um excelente voador que vem treinar na academia e participar da disputa anual. Porém todos os voadores o odeiam, pois ele se aproveitou de um momento de luto de uma voadora muito querida por todos e tomou as asas dela numa antiga disputa. Ela não aguentou e pouco depois se matou. Todos o culparam por isso. Inicialmente repudiado também por Maris, aos poucos ele vai lhe mostrando que mesmo com as mudanças que ela causou, os voadores permanecem se sentindo uma casta privilegiada e o sistema permanece seguindo injusto, especialmente para os "confinados a terra". O interessante nesse personagem é ver as reflexões que ele vai causando na protagonista. E a competição se inicia e sua abertura é um evento encantador. A competição anual é um evento muito aguardado por todos os habitantes do Santuário dos Ventos. Durante essa competição vamos acompanhar as inúmeras tentativas das famílias de voadores tentando boicotar as vitórias dos alunos de Maris. Portanto essa parte da vida da protagonista girará em torno dela tentando fazer justiça – novamente – na competição. Chegamos agora numa terceira etapa da vida de Maris, ela já uma senhora, porém ainda voadora, sofre um terrível acidente que lhe tira a capacidade de voar (o que me fez lembrar os pássaros que se encontram em gaiolas). Protegida, cuidada e acolhida pelo curandeiro Evan, ela logo terá que encontrar uma outra ocupação. Enquanto aprende as artes curativas com o eremita, logo ambos descobrem que estão apaixonados. Pessoalmente, creio ser esse um dos pontos centrais do livro: Não ficar preso a um único rótulo, não ser somente uma “coisa” nessa vida. As mudanças provocadas por Maris iriam causar um efeito dominó nas gerações seguintes e nesse momento da vida dela, as tensões entre os nascidos voadores e os confinados à terra que se tornaram voadores só aumentam, causando uma guerra que nem mesmo Maris poderia participar por não ser mais voadora. O último conflito (na minha opinião o mais instigante), quando Maris já está envolvida com o curador Evan e confinada a terra, uma nova voadora, Tya, quebra uma das principais tradições dos voadores: transmitir as mensagens dos confinados a terra sem interferir em suas políticas. Para evitar uma guerra, ela mente uma das mensagens que fora incumbida de enviar. O tirânico Senhor da Terra de Thayos vai se aproveitar da atitude dela para tentar derrubar a autonomia dos voadores e vai matá-la, inclusive com as próprias assas, lembrando que uma das leis do Santuário dos Ventos é que somente voadores podem julgar as atitudes dos voadores. Numa assembleia de voadores, fica evidente que o que já estava dividido por suas questões internas, só piora. Nessa etapa da vida de Maris, ela já uma senhora, há momentos que ela terá atitudes que vão contradizer muito com a sua trajetória revolucionária ao longo de toda sua vida, como por exemplo não querer mais interferir nos conflitos dos voadores, nem mesmo quando descobre a forma cruel com que Tya fora assassinada, porém logo ela percebe que mais uma vez deverá ser a responsável por novas quebras de tradições. O Senhor da Terra de Thayos vai estabelecer uma tirania contra os voadores, querendo fazê-los servir as suas próprias vontades. Os cantores têm um papel muito importante nessa sociedade do Santuário dos Ventos, pois é graças a eles que os grandes feitos dos voadores acabam ficando conhecidos e Maris vai usar os talentos dos cantores como arma contra a tirania do Senhor da Terra de Thayos. Creio ser essa a mensagem principal do livro, o poder que as palavras têm. Maris morre na velhice tranquilamente.

3. Minha opinião sobre a obra (aspectos negativos e positivos):

• A escritora Lisa Tuttle mora na Escócia, uma região muito parecida com a ambientação da obra;

• A Forma como os irmãos se rebelam contra o sistema não me convenceu. Há uma militância muito exagera e mal construída na trama, especialmente no início;

• Maris tem um pesadelo repetitivo sobre estar voando em um céu sem ventos e caindo. Esse pesadelo somado à fama de George R.R Martin de matar os protagonistas, pode causar essa expectativa no leitor ao longo da narrativa. Algo que no final não vai gerar surpresa no leitor, embora a morte tranquila e natural de Maris nem chega perto das atrocidades que ocorreram com os personagens de GOT;

• Uma das táticas que achei muito curiosa foi colocar o romance de Maris só no final do livro. Não no começo como a maioria dos autores fazem para os conflitos girarem em torno disso, mais uma característica de escrita de George R.R Martin;

• Há um trecho na página 319 que mostra um pouco da ambientação;

• Não dá para pegar Santuário dos Ventos imaginando que irá encontrar muitas das características de GOT, afinal “As Crônicas de Gelo e Fogo” é uma fantasia para adultos e Santuário dos Ventos é infanto-juvenil. Porém as questões políticas encontradas no livro são muito interessantes. Leria novamente.

David Thomas (13/11/2020)

Referências Bibliográficas:

• Tuttle, Lisa; Martin, George R. R. Santuário dos Ventos. 1.Ed. Leya, 1981.

O Livro da vez por David Thomas
Enviado por O Livro da vez por David Thomas em 13/11/2020
Código do texto: T7110369
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