Leitura, história e história da leitura

A necessidade de se externar o pensamento é vital; uma das formas de assim fazê-lo é por meio dos diversos textos então produzidos. O passar do tempo revela que muito foi feito acerca da propagação destes textos.

Tem-se nota do disseminar de textos desde os remotos períodos que retratam a utilização de papiros e pergaminhos, quando a idade humana ainda não catalogava por completo suas descobertas. A partir daí, as técnicas de reprodução textual acompanharam as novidades científicas das distintas épocas e ganharam inéditas formas e importância.

Neste ponto da história da leitura, chega-se em Gutenberg, o inventor de um maquinário que possibilitou o rápido processo de multiplicação das letras. A inovação trazida por Gutenberg mostrou que, realmente, já havia chegado o momento de algo ser feito em relação à impressão. Antes de seu advento, as reproduções eram feitas como que em um sistema manufatureiro, o que limitava o número de elaboração, aumentava o tempo de feitura e tornava a cópia um tanto dispendiosa e voltada apenas para poucas classes. Gutenberg muito contribuiu para o avanço da impressão textual porque permitiu que fosse feito exatamente o contrário de todo o arcaico estilo de produção de obras. Deste modo, o livro e as letras e os signos em geral chegavam às mãos de todos seus interessados.

Com a posse do objeto de leitura, o mundo criou uma maneira de se diferenciar quanto ao tal ato do ler e do interpretar. O primeiro manifestar deste jeito diferenciado de expressão pôde ser visto no início da Idade Moderna, quando o livro conseguiu transformar-se em um poderoso artefato de desenvolvimento intelectual, e não só como uma peça descarregadora de letras e signos.

Nasceu, também, a capacidade de se ler em silêncio. A habilidade da leitura sossegada e em segredo trouxe mais intimidade, liberdade, mais rapidez diante da folha escrita. Obtido o ritmo acelerado de leitura, as interpretações e o poder da concepção de conhecimento ganharam patamar de maior complexidade e amadurecimento.

A maturidade relatada levou ao segundo período de eclosão da escrita, ocorrido na Europa, século XVIII, quando o livro foi mais bem produzido, os meios de comunicação escrita se proliferaram notavelmente, a feitura das obras ganhou roupagem inédita e associações se empenharam em dar mais força e apego ao livro.

Novas práticas e modalidades de leitura, originais gêneros textuais foram aparecendo e todos se ajustavam à evolução das letras em livros. Tanto que, no século XIX, mulheres e trabalhadores e crianças começaram a fazer parte do cerne da cultura impressa, não de forma imaginária — como no tempo dos trovadores a fazer cantigas para donzelas que não sabiam ler —, mas de modo verdadeiramente ativo e compromissado. Com toda a certeza, a entrada desta nova classe de leitores curiosos e interessados, fez com que o mundo tivesse de abrir mais portas para o proliferar e o imprimir dos textos fabricados.

Foi partindo desta premissa que hoje pode-se constatar a existência do fator eletrônico na leitura. Com o advento da inovação técnico-científica nascida no vigésimo século, boa parcela das bibliotecas e das livrarias de hoje não exibem seus produtos em paredes e prateleiras, mas apresentam suas obras através de telas de computador.

Este pensamento causou e ainda levanta outros questionamentos acerca do universo dos livros. De certa forma, a textualidade eletrônica traria, enfim, a idéia da coletividade textual, ou seja, daria a todos os leitores o melhor acesso a todos os textos; no entanto, tal textualidade eletrônica não forneceria a real essência do conhecimento humano, passaria apenas um mero reflexo do saber em questão.

É óbvio o pensamento de que a tecnologia não veio com a intenção de tomar o lugar do que sempre existiu, mas o fato é que a tecnologia veio para complementar a função do livro e ajudar o espalhar dos ensinamentos deste. Agora resta a todos proporcionar o meio-termo entre o “velho” impresso e o “novo” eletrônico diante da comunicação por textos.